Por Léa Maria Aarão Reis, no site Carta Maior:
''O que efetivamente separa o americano do brasileiro é que o primeiro legaliza a corrupção de modo profissional, deixando para os amadores brasileiros expedientes como esconder dinheiro ilegal na cueca. ''
Um destes registros mordazes do sociólogo Jessé Souza, ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas) e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do ABC, está na alentada introdução de 44 páginas que precede a atual edição de seu livro Subcidadania Brasileira. ''Outra distinção é que o americano não atenta contra a própria economia, como fez a Lava Jato, '' ele escreve. A ''(...) Lava Jato, essa filha da sociologia do vira-lata, destrói as empresas e a riqueza nacional. ''
Para o autor, ''está criada a ideologia do vira-lata. '' E, em paralelo, a ''divinização'' do mundo dos chamados países centrais. Neste livro, ele analisa a relação entre elites nacionais e seu povo e entre centro e periferia do capitalismo. Sobre a legenda do brasileiro cordial e afetuoso, de autoria de Sergio Buarque, ele comenta:
''As falcatruas globais do mercado financeiro americano, que ficaram públicas na crise de 2008, construídas para enganar os próprios clientes, lavar dinheiro em escala industrial e drenar o excedente mundial em seu favor, são certamente invenção de algum brasileiro cordial que passou por lá e inoculou o vírus da desonestidade nessas almas tão puras. ''
São reflexões, mais que pertinentes, do escritor, autor deste livro originalmente produzido entre 2001 e 2003 e publicado algum tempo depois com o título A construção social da subcidadania pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais.
Atualmente, o trabalho revisto, ampliado e atualizado está sendo apresentado pela editora Leya. Vem se juntar à trilogia de outros livros de grande sucesso do autor - A tolice da inteligência brasileira (2015), A radiografia do golpe e A elite do atraso, ambos de 2016 –, deste sociólogo pertencente a uma geração que vem requalificando a análise da sociedade do país, libertando-a de alguns mitos criados no passado por colegas seus, lendários, de direita e de esquerda, e denunciando, com sólidos fundamentos, nossas mazelas e as nossas piores dificuldades e deficiências de ontem e de hoje.
''Além da introdução feita pelo autor, '' comenta o editor Rodrigo de Almeida para Carta Maior, ''nós revimos – autor e editor – diversas passagens, atualizando, modificando e tornando o livro mais acessível ao leitor comum. Mas mantivemos o grande mérito dele: a consistência teórica da sua formulação. ''
Rodrigo chama a atenção para o fato de o livro representar o ''primeiro esforço sistemático de pensar a sociedade brasileira e seus conflitos fundamentais de modo inovador. Um pensamento que, antes restrito aos círculos acadêmicos, tornou-se mais conhecido pelo grande público nas obras recentes de Jessé. Sobretudo A elite do atraso. ''
A elite do atraso está há mais de 30 semanas nas listas dos livros mais vendidos de não-ficção. Na opinião do editor, há um conjunto de fatores que levam ao seu sucesso – como também à extraordinária recepção dos demais.
''Uma combinação entre consistência teórica e um texto mais acessível ao grande público; o contexto político brasileiro; o aumento da reflexão sobre nossas mazelas e contradições, e o papel das elites para o nosso atraso. Além da coragem do autor de atacar cânones da direita e da esquerda que moldaram boa parte da nossa interpretação sobre o Brasil e os brasileiros. ''
Próximos livros virão. Fazem parte do extenso plano de trabalho da obra do autor. Entre este ano e 2019, o crítico do paradigma vigente até agora nas ciências sociais deve publicar seu próximo livro por outra editora. Simultaneamente, está fechando um novo projeto pela LeYa.
O objetivo básico, do ponto de vista editorial do programa, está sendo o de tornar o ''Jessé Souza, o grande autor que ele é, em uma obra de grande público. Isso se reflete nas capas, títulos e no próprio tratamento de texto. Mas, em momento algum há qualquer concessão: leveza na forma, sem perder a ética e a consistência de um autor brilhante que tem uma interpretação sólida e original do país. ''
A capa do volume Subcidadania reflete claramente este propósito através da unidade visual entre o livro que chegou há pouco tempo nas livrarias e os dois anteriores.
Neste de agora, outra novidade é o posfácio de um dos mais conceituados sociólogos (e também filósofo) da nossa época, o alemão Alex Honneth, da Universidade de Frankfurt, autor da célebre Teoria do Reconhecimento.
Ele escreve: “Para mim, parece impressionante e convincente a maneira como se explica aqui a estrutura social específica do Brasil em termos de uma manifestação institucional da conexão cultural entre os dois polos da desigualdade e da autenticidade: o moderno padrão da autenticidade, em última instância proveniente de fontes religiosas, combina-se aqui de tal forma com uma ideia de desigualdade social naturalizada, que o resultado vem a ser a configuração de um princípio de subcidadania, o qual conduz à exclusão, aceita como fato natural*, de uma grande parte da população.”
Enquanto este novo volume ganha vida própria, Jessé Souza, há pouco de volta de férias na Alemanha, onde estudou e lecionou, comentou, em manifestações públicas, como aquele país dá importância a medidas institucionais para combater movimentações fascistas. ''Ao contrário do Brasil, '' diz ele, ''que assiste pacificamente a ascensão de Bolsonaro. Ao contrário das políticas institucionais que os alemães usam para combater qualquer tipo de menção ao nazismo, no Brasil, as feridas causadas pela escravidão e ditadura militar ainda são presentes".
E o fascismo no Brasil, representado pelo fenômeno Jair Bolsonaro, ele destaca, '' só foi possível graças à campanha de destruição democrática promovida pela Rede Globo e Lava Jato. É a junção de uma democracia frágil, com baixos níveis de acesso à educação e nenhuma informação crítica, destruindo o pouco que o Brasil tinha acumulado nos últimos anos. É claro que muitos Bolsonaros irão surgir neste cenário. "
Um cenário desde agora de sombras e no qual os vira-latas latem cada vez mais alto para gaudio das elites.
''O que efetivamente separa o americano do brasileiro é que o primeiro legaliza a corrupção de modo profissional, deixando para os amadores brasileiros expedientes como esconder dinheiro ilegal na cueca. ''
Um destes registros mordazes do sociólogo Jessé Souza, ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas) e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do ABC, está na alentada introdução de 44 páginas que precede a atual edição de seu livro Subcidadania Brasileira. ''Outra distinção é que o americano não atenta contra a própria economia, como fez a Lava Jato, '' ele escreve. A ''(...) Lava Jato, essa filha da sociologia do vira-lata, destrói as empresas e a riqueza nacional. ''
Para o autor, ''está criada a ideologia do vira-lata. '' E, em paralelo, a ''divinização'' do mundo dos chamados países centrais. Neste livro, ele analisa a relação entre elites nacionais e seu povo e entre centro e periferia do capitalismo. Sobre a legenda do brasileiro cordial e afetuoso, de autoria de Sergio Buarque, ele comenta:
''As falcatruas globais do mercado financeiro americano, que ficaram públicas na crise de 2008, construídas para enganar os próprios clientes, lavar dinheiro em escala industrial e drenar o excedente mundial em seu favor, são certamente invenção de algum brasileiro cordial que passou por lá e inoculou o vírus da desonestidade nessas almas tão puras. ''
São reflexões, mais que pertinentes, do escritor, autor deste livro originalmente produzido entre 2001 e 2003 e publicado algum tempo depois com o título A construção social da subcidadania pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais.
Atualmente, o trabalho revisto, ampliado e atualizado está sendo apresentado pela editora Leya. Vem se juntar à trilogia de outros livros de grande sucesso do autor - A tolice da inteligência brasileira (2015), A radiografia do golpe e A elite do atraso, ambos de 2016 –, deste sociólogo pertencente a uma geração que vem requalificando a análise da sociedade do país, libertando-a de alguns mitos criados no passado por colegas seus, lendários, de direita e de esquerda, e denunciando, com sólidos fundamentos, nossas mazelas e as nossas piores dificuldades e deficiências de ontem e de hoje.
''Além da introdução feita pelo autor, '' comenta o editor Rodrigo de Almeida para Carta Maior, ''nós revimos – autor e editor – diversas passagens, atualizando, modificando e tornando o livro mais acessível ao leitor comum. Mas mantivemos o grande mérito dele: a consistência teórica da sua formulação. ''
Rodrigo chama a atenção para o fato de o livro representar o ''primeiro esforço sistemático de pensar a sociedade brasileira e seus conflitos fundamentais de modo inovador. Um pensamento que, antes restrito aos círculos acadêmicos, tornou-se mais conhecido pelo grande público nas obras recentes de Jessé. Sobretudo A elite do atraso. ''
A elite do atraso está há mais de 30 semanas nas listas dos livros mais vendidos de não-ficção. Na opinião do editor, há um conjunto de fatores que levam ao seu sucesso – como também à extraordinária recepção dos demais.
''Uma combinação entre consistência teórica e um texto mais acessível ao grande público; o contexto político brasileiro; o aumento da reflexão sobre nossas mazelas e contradições, e o papel das elites para o nosso atraso. Além da coragem do autor de atacar cânones da direita e da esquerda que moldaram boa parte da nossa interpretação sobre o Brasil e os brasileiros. ''
Próximos livros virão. Fazem parte do extenso plano de trabalho da obra do autor. Entre este ano e 2019, o crítico do paradigma vigente até agora nas ciências sociais deve publicar seu próximo livro por outra editora. Simultaneamente, está fechando um novo projeto pela LeYa.
O objetivo básico, do ponto de vista editorial do programa, está sendo o de tornar o ''Jessé Souza, o grande autor que ele é, em uma obra de grande público. Isso se reflete nas capas, títulos e no próprio tratamento de texto. Mas, em momento algum há qualquer concessão: leveza na forma, sem perder a ética e a consistência de um autor brilhante que tem uma interpretação sólida e original do país. ''
A capa do volume Subcidadania reflete claramente este propósito através da unidade visual entre o livro que chegou há pouco tempo nas livrarias e os dois anteriores.
Neste de agora, outra novidade é o posfácio de um dos mais conceituados sociólogos (e também filósofo) da nossa época, o alemão Alex Honneth, da Universidade de Frankfurt, autor da célebre Teoria do Reconhecimento.
Ele escreve: “Para mim, parece impressionante e convincente a maneira como se explica aqui a estrutura social específica do Brasil em termos de uma manifestação institucional da conexão cultural entre os dois polos da desigualdade e da autenticidade: o moderno padrão da autenticidade, em última instância proveniente de fontes religiosas, combina-se aqui de tal forma com uma ideia de desigualdade social naturalizada, que o resultado vem a ser a configuração de um princípio de subcidadania, o qual conduz à exclusão, aceita como fato natural*, de uma grande parte da população.”
Enquanto este novo volume ganha vida própria, Jessé Souza, há pouco de volta de férias na Alemanha, onde estudou e lecionou, comentou, em manifestações públicas, como aquele país dá importância a medidas institucionais para combater movimentações fascistas. ''Ao contrário do Brasil, '' diz ele, ''que assiste pacificamente a ascensão de Bolsonaro. Ao contrário das políticas institucionais que os alemães usam para combater qualquer tipo de menção ao nazismo, no Brasil, as feridas causadas pela escravidão e ditadura militar ainda são presentes".
E o fascismo no Brasil, representado pelo fenômeno Jair Bolsonaro, ele destaca, '' só foi possível graças à campanha de destruição democrática promovida pela Rede Globo e Lava Jato. É a junção de uma democracia frágil, com baixos níveis de acesso à educação e nenhuma informação crítica, destruindo o pouco que o Brasil tinha acumulado nos últimos anos. É claro que muitos Bolsonaros irão surgir neste cenário. "
Um cenário desde agora de sombras e no qual os vira-latas latem cada vez mais alto para gaudio das elites.
1 comentários:
Vou buscar ler o livro e gostei da vizões do escritor.
O que eu não concordo é com a informação de que os americanos não atacam a economia de seu país. O projeto neocon anglosionista, o chamado "estado profundo". conhecido por toda a esquerda e direita americana não neocon, onde discutem abertamente que o projeto atual que é mundial, destinado a deixar de lado cerca de 80% da população mundial, teriam os 19,99% como lacaios necessários(incluindo os militares para defesa do grupo rico) e o 0,1% com os "nobres".
Este grupo dos 0,1% não tem país/pátria, não tem credo, não tem vergonha, não tem piedade, não tem intereses a não ser pelo poder e dinheiro (que assegura o poder), são muito, mas muito perversos e acreditam fortemente que um mum mundo só com 20% de população (lacaios) seria um mundo sem nenhum dos problemas atuais (super populaçao, poluição, sem pobres, sem ameaças sociais, ar puros e água fresca!
Os demais 80% seriam primeiramente colocados de lado e a seguir exterminados por fome, doenças, ou por guerra entre eles ou com assistencia externa.
Tudo igual ao pior cen[ário da ficção científica!
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