Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
Nas análises sobre as pesquisas, muita coisa está equivocada. Quase sempre se insiste em generalizações que talvez fizessem sentido há algum tempo, mas cuja validade venceu. Há exceções, interpretações que identificam o que é efetivamente relevante para explicar como pensa e se comporta o eleitorado. A regra, no entanto, é outra. Perde-se tempo na descrição de aspectos que, na melhor hipótese, são secundários.
As manchetes atuais baseadas em pesquisas são como as de antigamente: “Fulano cresce no Nordeste”, “Sicrano melhora entre mulheres”, “Jovens se dividem entre Mengano e Beltrano”, e coisas semelhantes. Não que sejam falsas, mas significam pouco.
Os eleitores brasileiros, à medida que lhes foi permitido acostumar-se com eleições regulares e com regras institucionais razoavelmente estáveis (no fundamental), deixaram de ser entes cuja natureza podia ser compreendida através da geografia e da demografia. A cada eleição, em que preferências e escolhas anteriores tiveram de ser revistas e atualizadas, as pessoas foram adquirindo características novas e se diferenciando.
Em 1989, o comportamento eleitoral de um nordestino (ou paulista, carioca ou qualquer outro) talvez pudesse ser explicado por seu lugar de vida e perfil demográfico. Faltava às pessoas, como regra, uma identidade política e ideológica, e até cabia designá-las usando categorias reducionistas e simplificadoras, provenientes da geografia ou da sociologia descritiva.
Hoje, não há qualquer razão para continuar a pensar dessa maneira. Ao contrário, persistir nesse simplismo induz a erros e cristaliza estereótipos e preconceitos.
A primeira questão a considerar é que, em termos políticos, a sociedade brasileira está dividida. Por completo: os nordestinos (bem como os sulistas, os moradores do Sudeste, do Norte e do Centro-Oeste) estão divididos, as mulheres (e os homens) estão divididas, os jovens, os maduros e os velhos estão divididos. Os ricos estão divididos e os pobres também.
Por razões que não cabe aqui discutir, a linha de clivagem política fundamental em nossa sociedade é a que separa três grandes grupos: as pessoas que apoiam Lula e o PT, as antipetistas, contra ambos, e as que se definem como neutras, não sendo nem a favor nem contra o petismo.
Faz tempo que essa divisão é conhecida e que o tamanho de cada grupo está dimensionado: em termos amplos, são iguais, cada um englobando cerca de um terço da opinião pública. Em épocas “normais”, são quase idênticos, mas, conforme as circunstâncias, um pode crescer em detrimento do outro.
No auge do desgaste do PT, na crise de imagem que antecedeu a deposição de Dilma Rousseff, o antipetismo chegou a 40%. Durante o recrudescimento da campanha anti-Lula movida por seus inimigos no Judiciário, o petismo cresceu, ultrapassando 35%. Agora, a menos de um mês da eleição, aumentam os “neutros”, pois muita gente se assusta com a radicalização dos dois grupos.
Estão erradas as avaliações que afirmam, por exemplo, que “O Nordeste está dividido entre Fernando Haddad e Ciro Gomes”. Existe, na região, um tipo de eleitor que, de fato, se divide entre os dois, mas há também um eleitorado antipetista, que, como no restante do País, se inclina em direção a Bolsonaro. O peso relativo de cada segmento é que varia de um lugar para outro. O mesmo vale para generalizações semelhantes a respeito ”dos jovens”, “das mulheres”, “dos pobres”.
Há pobres com Jair Bolsonaro e não são poucos, como se vê através dos números que sua candidatura atingiu, embora o que mais chame atenção na estrutura atual das intenções de voto é a extensão alcançada pelo bolsonarismo nas classes médias (especialmente de renda mais elevada) e entre pessoas de escolaridade alta.
Quem acompanha com atenção as pesquisas terá percebido que seu crescimento recente, depois do episódio da “facada”, se deu através de uma quase unificação do antipetismo, incluindo o voto feminino antipetista, que relutava em apoiá-lo.
Fernando Haddad é favorito, porque a indicação de Lula o torna destinatário da quase totalidade do voto petista e porque tem mais entrada no voto “neutro”, onde predominam segmentos sociais mais próximos daquilo que representa. Nas últimas quatro eleições, a maioria desses eleitores votou no PT.
É a disputa do petismo contra o antipetismo por esse voto que vai marcar o segundo turno. Pouco a ver com gênero, idade, renda, escolaridade e região, as cinco chaves que antigamente eram consideradas suficientes para analisar as pesquisas e fazer prognósticos.
As manchetes atuais baseadas em pesquisas são como as de antigamente: “Fulano cresce no Nordeste”, “Sicrano melhora entre mulheres”, “Jovens se dividem entre Mengano e Beltrano”, e coisas semelhantes. Não que sejam falsas, mas significam pouco.
Os eleitores brasileiros, à medida que lhes foi permitido acostumar-se com eleições regulares e com regras institucionais razoavelmente estáveis (no fundamental), deixaram de ser entes cuja natureza podia ser compreendida através da geografia e da demografia. A cada eleição, em que preferências e escolhas anteriores tiveram de ser revistas e atualizadas, as pessoas foram adquirindo características novas e se diferenciando.
Em 1989, o comportamento eleitoral de um nordestino (ou paulista, carioca ou qualquer outro) talvez pudesse ser explicado por seu lugar de vida e perfil demográfico. Faltava às pessoas, como regra, uma identidade política e ideológica, e até cabia designá-las usando categorias reducionistas e simplificadoras, provenientes da geografia ou da sociologia descritiva.
Hoje, não há qualquer razão para continuar a pensar dessa maneira. Ao contrário, persistir nesse simplismo induz a erros e cristaliza estereótipos e preconceitos.
A primeira questão a considerar é que, em termos políticos, a sociedade brasileira está dividida. Por completo: os nordestinos (bem como os sulistas, os moradores do Sudeste, do Norte e do Centro-Oeste) estão divididos, as mulheres (e os homens) estão divididas, os jovens, os maduros e os velhos estão divididos. Os ricos estão divididos e os pobres também.
Por razões que não cabe aqui discutir, a linha de clivagem política fundamental em nossa sociedade é a que separa três grandes grupos: as pessoas que apoiam Lula e o PT, as antipetistas, contra ambos, e as que se definem como neutras, não sendo nem a favor nem contra o petismo.
Faz tempo que essa divisão é conhecida e que o tamanho de cada grupo está dimensionado: em termos amplos, são iguais, cada um englobando cerca de um terço da opinião pública. Em épocas “normais”, são quase idênticos, mas, conforme as circunstâncias, um pode crescer em detrimento do outro.
No auge do desgaste do PT, na crise de imagem que antecedeu a deposição de Dilma Rousseff, o antipetismo chegou a 40%. Durante o recrudescimento da campanha anti-Lula movida por seus inimigos no Judiciário, o petismo cresceu, ultrapassando 35%. Agora, a menos de um mês da eleição, aumentam os “neutros”, pois muita gente se assusta com a radicalização dos dois grupos.
Estão erradas as avaliações que afirmam, por exemplo, que “O Nordeste está dividido entre Fernando Haddad e Ciro Gomes”. Existe, na região, um tipo de eleitor que, de fato, se divide entre os dois, mas há também um eleitorado antipetista, que, como no restante do País, se inclina em direção a Bolsonaro. O peso relativo de cada segmento é que varia de um lugar para outro. O mesmo vale para generalizações semelhantes a respeito ”dos jovens”, “das mulheres”, “dos pobres”.
Há pobres com Jair Bolsonaro e não são poucos, como se vê através dos números que sua candidatura atingiu, embora o que mais chame atenção na estrutura atual das intenções de voto é a extensão alcançada pelo bolsonarismo nas classes médias (especialmente de renda mais elevada) e entre pessoas de escolaridade alta.
Quem acompanha com atenção as pesquisas terá percebido que seu crescimento recente, depois do episódio da “facada”, se deu através de uma quase unificação do antipetismo, incluindo o voto feminino antipetista, que relutava em apoiá-lo.
Fernando Haddad é favorito, porque a indicação de Lula o torna destinatário da quase totalidade do voto petista e porque tem mais entrada no voto “neutro”, onde predominam segmentos sociais mais próximos daquilo que representa. Nas últimas quatro eleições, a maioria desses eleitores votou no PT.
É a disputa do petismo contra o antipetismo por esse voto que vai marcar o segundo turno. Pouco a ver com gênero, idade, renda, escolaridade e região, as cinco chaves que antigamente eram consideradas suficientes para analisar as pesquisas e fazer prognósticos.
1 comentários:
Postar um comentário