Por Luis Nassif, no Jornal GGN:
No perfil que tracei do Ministro Luís Roberto Barroso (clique aqui) mostrei o seu estilo camaleão, de se amoldar aos ventos do momento. Quando os ventos eram moderadamente de esquerda, vestia-se de moderadamente de esquerda e praticava um progressismo moral. Em determinado momento, seu discurso passou para a defesa do empreendedorismo contra o Estado, da maneira mais canhestra possível: incluía loas ao empreendedorismo mesmo em processos que nada tinham a ver com o tema.
Finalmente, caiu de cabeça na onda punitivista, tornando-se o principal estimulador dos abusos de procuradores, delegados e do clima de ódio que se instalou no país.
Ironizei seu discurso otimista - depois da tempestade viria a bonança -, e que se transformara em um “depois da tempestade vem um terremoto de proporções incalculáveis”, de nome Bolsonaro.
Mostrei a sinuca de bico em que o iluminista se metera e nas dificuldades para os próximos passos e os próximos ventos.
Hoje, na Folha, na entrevista a Mônica Bérgamo, Barroso expõe, ainda de uma forma um tanto dúbia, como está se amoldando aos ventos atuais e caminhando em direção ao seu destino manifesto.
Há uma disputa clara entre o antipetismo e o antibolsonarismo. A perspectiva de um governo com Bolsonaro trouxe os piores pesadelos possíveis a setores empresariais esclarecidos, aos partidos de esquerda, aos intelectuais em geral.
Como se coloca nosso Barroso?
Primeiro, diz enfaticamente, que quem ganhar tem que levar. Disse o óbvio. Mônica imaginou que ele se referia à possibilidade de vitória de Fernando Haddad. Vã ilusão.
Extirpando da entrevista os bordões barrosianos – “iluminismo”, as vitórias do país contra a inflação e contra a miséria, a bonança que sucederá a tempestade etc. -, o que se vê é a aproximação com as teses bolsonarianas, da punição como elemento de redenção nacional e de identificação do inimigo, agora extrapolando o PT.
O inimigo a ser destruído é o complô de “corruptos, elite e progressistas”.
Não tem sido um processo histórico fácil, em razão de três obstáculos: parte do pensamento progressista acha que os fins justificam os meios e que a corrupção é apenas uma nota de pé de página na história. Eu penso que eles estão errados.
Segundo obstáculo: boa parte das elites brasileiras acham que corrupção ruim é a dos adversários. Se for a dos companheiros de pôquer, de mesa e de salões, não tem muito problema.
O terceiro obstáculo são os próprios corruptos —os que não querem ser punidos, o que é um sentimento humano compreensível, e os que não querem ficar honestos nem daqui para a frente.
O nível de contágio da corrupção uniu essas pessoas numa aliança entre corruptos, elitistas e progressistas.
Eu não vou citar nomes porque não posso. Mas eu considero que esta é a última missão da nossa geração.Com seu inegável faro jornalístico, Mônica o flagrou no momento da mudança de pelo, antes que conseguisse elaborar um discurso mais legitimador do aprofundamento de seu aggiornamento.
Assim como economistas totalmente amorais – como Gustavo Franco e Fábio Giambiagi -, Barroso tenta pegar carona em Bolsonaro. Nada é ameaça à democracia, nem as ameaças de Bolsonaro, de "destruir o sistema", nem sua caça a mulheres, negros, homossexuais e minorias em geral. A ameaça é o conluio entre "corruptos, progressistas e elite".
Provavelmente, a estratégia canhestra de Barroso visa uma aproximação para poder influir na escolha dos substitutos de Marco Aurélio de Mello e Celso de Mello, aliás, duas das reservas legalistas do STF (Supremo Tribunal Federal). Ou talvez por ser um pensador raso, que se emaranhou em estratégias baseadas em análises superficiais dos desdobramentos do jogo político. E não sabe mais para onde ir, depois que se esgotou a pauta única da corrupção e se buscam novas saídas para o Brasil.
Na economia, a amoralidade leva ao desmonte das políticas sociais, dos direitos sociais básicos, do comprometimento com o futuro do país. No direito, leva ao fascismo.
Nada mais previsível do que um Brasil com Bolsonaro, e um Barroso com Bolsonaro, o domador maneirista querendo domar o leão e sendo colocado para correr no primeiro urro.
PS – No meio da tarde, depois de ser enquadrado por sua leviandade – de afirmar que, no STF, existe senha para libertar bandido -, Barroso soltou uma nota se desculpando.
No perfil que tracei do Ministro Luís Roberto Barroso (clique aqui) mostrei o seu estilo camaleão, de se amoldar aos ventos do momento. Quando os ventos eram moderadamente de esquerda, vestia-se de moderadamente de esquerda e praticava um progressismo moral. Em determinado momento, seu discurso passou para a defesa do empreendedorismo contra o Estado, da maneira mais canhestra possível: incluía loas ao empreendedorismo mesmo em processos que nada tinham a ver com o tema.
Finalmente, caiu de cabeça na onda punitivista, tornando-se o principal estimulador dos abusos de procuradores, delegados e do clima de ódio que se instalou no país.
Ironizei seu discurso otimista - depois da tempestade viria a bonança -, e que se transformara em um “depois da tempestade vem um terremoto de proporções incalculáveis”, de nome Bolsonaro.
Mostrei a sinuca de bico em que o iluminista se metera e nas dificuldades para os próximos passos e os próximos ventos.
Hoje, na Folha, na entrevista a Mônica Bérgamo, Barroso expõe, ainda de uma forma um tanto dúbia, como está se amoldando aos ventos atuais e caminhando em direção ao seu destino manifesto.
Há uma disputa clara entre o antipetismo e o antibolsonarismo. A perspectiva de um governo com Bolsonaro trouxe os piores pesadelos possíveis a setores empresariais esclarecidos, aos partidos de esquerda, aos intelectuais em geral.
Como se coloca nosso Barroso?
Primeiro, diz enfaticamente, que quem ganhar tem que levar. Disse o óbvio. Mônica imaginou que ele se referia à possibilidade de vitória de Fernando Haddad. Vã ilusão.
Extirpando da entrevista os bordões barrosianos – “iluminismo”, as vitórias do país contra a inflação e contra a miséria, a bonança que sucederá a tempestade etc. -, o que se vê é a aproximação com as teses bolsonarianas, da punição como elemento de redenção nacional e de identificação do inimigo, agora extrapolando o PT.
O inimigo a ser destruído é o complô de “corruptos, elite e progressistas”.
Não tem sido um processo histórico fácil, em razão de três obstáculos: parte do pensamento progressista acha que os fins justificam os meios e que a corrupção é apenas uma nota de pé de página na história. Eu penso que eles estão errados.
Segundo obstáculo: boa parte das elites brasileiras acham que corrupção ruim é a dos adversários. Se for a dos companheiros de pôquer, de mesa e de salões, não tem muito problema.
O terceiro obstáculo são os próprios corruptos —os que não querem ser punidos, o que é um sentimento humano compreensível, e os que não querem ficar honestos nem daqui para a frente.
O nível de contágio da corrupção uniu essas pessoas numa aliança entre corruptos, elitistas e progressistas.
Eu não vou citar nomes porque não posso. Mas eu considero que esta é a última missão da nossa geração.Com seu inegável faro jornalístico, Mônica o flagrou no momento da mudança de pelo, antes que conseguisse elaborar um discurso mais legitimador do aprofundamento de seu aggiornamento.
Assim como economistas totalmente amorais – como Gustavo Franco e Fábio Giambiagi -, Barroso tenta pegar carona em Bolsonaro. Nada é ameaça à democracia, nem as ameaças de Bolsonaro, de "destruir o sistema", nem sua caça a mulheres, negros, homossexuais e minorias em geral. A ameaça é o conluio entre "corruptos, progressistas e elite".
Provavelmente, a estratégia canhestra de Barroso visa uma aproximação para poder influir na escolha dos substitutos de Marco Aurélio de Mello e Celso de Mello, aliás, duas das reservas legalistas do STF (Supremo Tribunal Federal). Ou talvez por ser um pensador raso, que se emaranhou em estratégias baseadas em análises superficiais dos desdobramentos do jogo político. E não sabe mais para onde ir, depois que se esgotou a pauta única da corrupção e se buscam novas saídas para o Brasil.
Na economia, a amoralidade leva ao desmonte das políticas sociais, dos direitos sociais básicos, do comprometimento com o futuro do país. No direito, leva ao fascismo.
Nada mais previsível do que um Brasil com Bolsonaro, e um Barroso com Bolsonaro, o domador maneirista querendo domar o leão e sendo colocado para correr no primeiro urro.
PS – No meio da tarde, depois de ser enquadrado por sua leviandade – de afirmar que, no STF, existe senha para libertar bandido -, Barroso soltou uma nota se desculpando.
1 comentários:
Postar um comentário