quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Jornalistas temem a posse de Bolsonaro

Por Viviane Ávila, no site Jornalistas Livres:

Conforme publicamos no Jornalistas Livres no último 18 de dezembro sobre a posse “presidencial” de Jair Bolsonaro, o medo venceu a esperança. A cinco dias do evento em Brasília, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJP-DF) recebeu inúmeras reclamações de trabalhadores do Jornalismo do Brasil todo, que irão cobrir a posse, sobre restrições das entradas deles nas áreas das cerimônias e desfile com equipamentos de trabalho indispensáveis para a produção e edição de conteúdos. E emitiu nota exigindo garantias à liberdade de imprensa e segurança dos jornalistas durante toda a cobertura do evento, no dia 1 de janeiro.

Jornalistas do Brasil e do mundo todo já se preparam para antes, durante e depois das cerimônias no DF, com entraves em credenciamento e limitação de circulação dos profissionais. Segundo a jornalista Juliana Mederiros, ela nunca viu uma situação dessas. “Trabalho para uma emissora pública em Brasília desde 2008, acostumada a pegar credencial em órgãos públicos diversos, incluindo o Palácio do Planalto. Nunca soube de restrições de circulação nos espaços ou de tempo para “aprovação de credenciais”. Eventualmente há espaços destinados a repórteres de imagem, por exemplo, mas dessa forma é novidade para mim. No Palácio, quem ficar na Ala Oeste não pode ir para a rampa e por aí vai. Nunca vi isso. Como vamos carregar equipamentos ainda é um mistério”, diz.

Tradicionalmente, o evento começa na Catedral de Brasília, de onde sai o desfile do presidente, em automóvel aberto, pela Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. Ainda não foi divulgado se o trajeto de Bolsonaro será feito em carro aberto ou fechado, mas os últimos presidentes e presidenta a tomarem posse chegaram ao Congresso em um Rolls Royce conversível aberto, que serve à Presidência da República desde 1952.

Abaixo, a nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal na íntegra:

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“A cinco dias da posse presidencial o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF) foi surpreendido por reclamações de colegas sobre a cobertura do evento. De acordo com informações da assessoria de imprensa da equipe de transição de governo, as restrições ao público também serão aplicadas aos profissionais de imprensa escalados para trabalhar na cobertura. Entre elas, a proibição de carregar mochilas e máscaras, e de circular entre os prédios do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.

Jornalistas necessitam de equipamentos como notebooks, carregadores, telefones celulares, bloco de anotações, canetas e, em casos mais específicos, microfones, fones de ouvido e câmeras fotográficas ou filmadoras. Diariamente esses materiais são levados em mochilas e não existe informação sobre recusa dos colegas em se submeter a detectores de metais ou máquinas de raio-x, na entrada de prédios públicos.

Sobre máscaras para gás, capacete e coletes à prova de balas, esses são alguns equipamento de proteção individual (EPIs). Desde 2014, o Ministério Público do Trabalho recomenda o uso de EPIs por jornalistas, para evitar acidentes como o que vitimou o repórter cinematográfico Santiago Andrade. É preocupante que um evento que espera receber meio milhão de pessoas insista em descumprir uma recomendação do Ministério Público e expor profissionais a riscos desnecessários.

Outro ponto que não é novidade é que a cerimônia de posse ocorre, em diferentes momentos, em diferentes pontos da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes. Pela primeira vez, os jornalistas credenciados não poderão transitar entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, num ato claro que limita a livre atuação da imprensa. A justificativa da assessoria de imprensa é que “antigamente podia”, mas “antigamente era antigamente”.

O SJPDF apela para o bom senso e pede que a equipe envolvida na organização valorize o momento da posse – a exemplo do que ocorria “antigamente” – como a consagração da democracia, em que o povo escolheu, por meio do voto, o governante que ficará no poder até 2022. E, como toda democracia, precisa garantir o direito ao livre exercício da imprensa e a segurança dos jornalistas e radialistas envolvidos na cobertura.”

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