Não se deve lutar contra um apelido por mais que ele nos desgoste. Essa lição aprendi ainda criança. Quanto mais o apelidado repudia o apelido mais a alcunha fica nele grudada. Lembro disso porque soube que o ex-juiz Moro está injuriado com a excelente denominação recebida: “Marreco de Maringá”. É mais um erro na sua já longa carreira de desacertos. Sua irritação só fez crescer o número de referências ao apelido nas redes sociais. Para quem ousa revelar o ridículo dessa figura surgida das trevas brasileiras, com voz em falsete e conteúdo insosso, é um tiro na mosca, com perdão da analogia bélica.
O caso serve para colocar em pauta um tema de importante atualidade: como as pessoas bem informadas e esclarecidas, críticas daqueles que se apossaram do poder no país, devem se relacionar com os defensores do atual estado de coisas, donos de saberes rasteiros e contumazes no uso de linguagem vulgar?
Discutir de forma elegante, a partir de argumentos racionais e empiricamente comprovados ou partir para o bate-boca nivelando-se aos seus opositores? Há respostas afirmativas para as duas formas de lidar com os adversários mas ambas, a meu ver, inconsequentes.
A primeira é praticamente ininteligível pela massa a qual se dirige. Trata-se de segmento da sociedade que não possui os instrumentos culturais necessários para interpretar ideias um pouco mais elaboradas, capazes de escapar dos limites dados pelos chavões típicos do WhatsApp. Fogem ao debate e refugiam-se nos xingamentos. Seguem, dessa forma, o ocasional líder do grupo, responsável hoje por governar o país.
A segunda também não leva a nada. Na troca de insultos, acaba prevalecendo aquele que só conhece esse tipo de relação, uma vez que o outro, esgotado pela limitação repetitiva do adversário, tende a se cansar rapidamente e deixar de lado a disputa infrutífera.
A meu ver existe uma saída eficaz: combinar as duas formas de relacionamento e ir à luta. Usar o conhecimento e até mesmo a erudição para, na medida do possível, embalá-las em fórmulas simples, mas irrefutáveis.
O humor fino é um ingrediente importante nesse processo. Vídeos como os produzidos por Marcelo Adnet, na Globo, satirizando a prepotência do atual presidente da República, e de Gregório Duvivier, no canal Porta dos Fundos, ironizando a empáfia dos economistas neoliberais, são exemplos do momento.
Não ofendem nem muito menos xingam. Com linguagem compreensível até para os menos informados, revelam o ridículo dos discursos de corruptos falando contra a corrupção, de interessados nos seus negócios privados defendendo reformas em nome do interesse público e de negociantes da fé clamando por moralidade. Se não mudam opiniões, pelo menos devem colocar interrogações nas cabeças dos que seguem esses ilusionistas.
Em tempos obscuros, esse tipo de humor nos palcos e nas telas, somado à ironia – fina mas compreensível – em debates nas redes ou nas ruas, torna-se arma poderosa contra adversários medíocres.
William Shakespeare (1564-1616) já provara isso em suas peças ao traduzir para platéias populares as tramas urdidas pelos poderosos em meio à censura imposta pela rainha Elizabeth I, no Reino Unido. No Brasil, Millôr Fernandes e Flávio Rangel construíram um espetáculo teatral clássico: “Liberdade, liberdade”, desafiando com humor e inteligência os militares que assaltaram o poder em 1964. No Rio, os atores Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho eram interrompidos por aplausos e risadas do público a cada frase em que ridicularizavam aquilo que os militares chamavam de “revolução”. Em Montevidéu vi, pouco antes da implantação da ditadura uruguaia, a peça ser saudada aos gritos de “Frente Amplia”, movimento que chegaria ao poder depois da redemocratização do país.
Os tempos são difíceis outra vez, mas estas experiências nos ensinam a enfrentá-los. Desnudar o poder mostrando suas entranhas de forma simples, facilmente compreensível e, se possível, bem humorada é o melhor caminho para abrir corações e mentes.
A superioridade cultural de quem tem mais informações e discernimento não pode ser utilizada como imposição elitista de ideias e nem como amparo misericordioso dos menos afortunados. Deve, isso sim, servir para dar suporte para construções bem elaboradas, capazes de mostrar o ridículo daqueles que se julgam espertos.
O caso serve para colocar em pauta um tema de importante atualidade: como as pessoas bem informadas e esclarecidas, críticas daqueles que se apossaram do poder no país, devem se relacionar com os defensores do atual estado de coisas, donos de saberes rasteiros e contumazes no uso de linguagem vulgar?
Discutir de forma elegante, a partir de argumentos racionais e empiricamente comprovados ou partir para o bate-boca nivelando-se aos seus opositores? Há respostas afirmativas para as duas formas de lidar com os adversários mas ambas, a meu ver, inconsequentes.
A primeira é praticamente ininteligível pela massa a qual se dirige. Trata-se de segmento da sociedade que não possui os instrumentos culturais necessários para interpretar ideias um pouco mais elaboradas, capazes de escapar dos limites dados pelos chavões típicos do WhatsApp. Fogem ao debate e refugiam-se nos xingamentos. Seguem, dessa forma, o ocasional líder do grupo, responsável hoje por governar o país.
A segunda também não leva a nada. Na troca de insultos, acaba prevalecendo aquele que só conhece esse tipo de relação, uma vez que o outro, esgotado pela limitação repetitiva do adversário, tende a se cansar rapidamente e deixar de lado a disputa infrutífera.
A meu ver existe uma saída eficaz: combinar as duas formas de relacionamento e ir à luta. Usar o conhecimento e até mesmo a erudição para, na medida do possível, embalá-las em fórmulas simples, mas irrefutáveis.
O humor fino é um ingrediente importante nesse processo. Vídeos como os produzidos por Marcelo Adnet, na Globo, satirizando a prepotência do atual presidente da República, e de Gregório Duvivier, no canal Porta dos Fundos, ironizando a empáfia dos economistas neoliberais, são exemplos do momento.
Não ofendem nem muito menos xingam. Com linguagem compreensível até para os menos informados, revelam o ridículo dos discursos de corruptos falando contra a corrupção, de interessados nos seus negócios privados defendendo reformas em nome do interesse público e de negociantes da fé clamando por moralidade. Se não mudam opiniões, pelo menos devem colocar interrogações nas cabeças dos que seguem esses ilusionistas.
Em tempos obscuros, esse tipo de humor nos palcos e nas telas, somado à ironia – fina mas compreensível – em debates nas redes ou nas ruas, torna-se arma poderosa contra adversários medíocres.
William Shakespeare (1564-1616) já provara isso em suas peças ao traduzir para platéias populares as tramas urdidas pelos poderosos em meio à censura imposta pela rainha Elizabeth I, no Reino Unido. No Brasil, Millôr Fernandes e Flávio Rangel construíram um espetáculo teatral clássico: “Liberdade, liberdade”, desafiando com humor e inteligência os militares que assaltaram o poder em 1964. No Rio, os atores Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho eram interrompidos por aplausos e risadas do público a cada frase em que ridicularizavam aquilo que os militares chamavam de “revolução”. Em Montevidéu vi, pouco antes da implantação da ditadura uruguaia, a peça ser saudada aos gritos de “Frente Amplia”, movimento que chegaria ao poder depois da redemocratização do país.
Os tempos são difíceis outra vez, mas estas experiências nos ensinam a enfrentá-los. Desnudar o poder mostrando suas entranhas de forma simples, facilmente compreensível e, se possível, bem humorada é o melhor caminho para abrir corações e mentes.
A superioridade cultural de quem tem mais informações e discernimento não pode ser utilizada como imposição elitista de ideias e nem como amparo misericordioso dos menos afortunados. Deve, isso sim, servir para dar suporte para construções bem elaboradas, capazes de mostrar o ridículo daqueles que se julgam espertos.
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