Bolsonaro odeia os índios. Não suporta a existência dos povos indígenas. De forma geral, Bolsonaro não suporta a diferença, é reputado por discursos de intolerâncias, racistas, homofóbico, misógino. E hoje, na presidência da República, promovendo políticas públicas de intolerância, de discriminação e de fortalecimento do racismo institucional. Com relação aos povos indígenas, há particularidades na maneira como Bolsonaro animaliza as subjetividades indígenas, como o racismo que ele vocifera coloca numa sub-humanidade a existência indígena. E isso ganhou atenção na live feita com cinco pessoas indígenas nas vésperas do 16º Acampamento Terra Livre, a grande mobilização indígena que irá reunir mais de cinco mil indígenas de todo o Brasil essa semana, entre os dias 24 e 26 de abril.
Não é apenas uma simples fala de intolerância e ódio. O discurso de Bolsonaro tem efeitos materiais - na paralisação das demarcações, desestruturação da assistência do Estado, e incitação do ódio aos índios. Nesse ponto, há uma observação de Frantz Fanon sobre o racismo contra os negros que ajuda a entender como Bolsonaro repete que o índio gostaria de ser que nem ele, que o índio seria manipulado por ONGs internacionais e ameaça a integridade do território nacional, como o índio usaria recursos públicos para vir a Brasília manifestar, como o índio seria violento.
Frantz Fanon escreve:
“O ódio não é dado, deve ser conquistado a cada instante, tem de ser elevado ao ser em conflito com complexos de culpa mais ou menos conscientes. O ódio pede para existir e aquele que odeia deve manifestar esse ódio através de atos, de um comportamento adequado; em certo sentido, deve tornar-se ódio.” (Pele negra, máscaras brancas, Edufba, 2008, p. 61)
Exemplo de Fanon: os linchamentos contra negros nos Estados Unidos substituindo a discriminação. Aqui, o ódio contra os povos indígenas promovido durante a campanha, materializado já no primeiro dia com a MP 870, e posteriormente por seguidos discursos de ódio do presidente e do General Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que no dia 2 de janeiro começou os ataques do governo aos povos indígenas declarando que indígenas não precisam de tratamento diferenciado (“O índio precisa ser tratado como cidadão brasileiro, e não com alguém de exceção, que precise de medidas excludentes”).
No Brasil, o linchamento físico contra os índios promovido por Bolsonaro tem refletido nas ameaças de morte a lideranças indígenas, nos assassinatos, nas invasões das terras indígenas, nas invasões de garimpeiros, madeireiros e grileiros, na violência policial contra os povos indígenas, na Força Nacional atuando para intimidar mulheres, crianças e idosas e idosos que estão vindo a Brasília essa semana — como a portaria 441 de Sérgio Moro que determinou a Força Nacional em Brasília para intimidar a mobilização indígena.
Este governo truculento, para usar expressão que Sonia Guajajara dirigiu à senadora Soraya Thronicke, do PSL no Mato Grosso do Sul (um dos estados mais anti-indígenas da federação), que não aceita o modo de ser dos povos indígenas.
A vida indígena causa fobia em Bolsonaro e seus aliados — fundamentalistas cristãos e ruralistas.
E, para transtorno de Bolsonaro, os povos indígenas têm conseguido dar respostas diretas às agressões, seja por meio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), as associações,, organizações, federações, ou pela voz de lideranças ecoando nas redes sociais e na imprensa. E mesmo dentro do Congresso Nacional, com a deputada Joênia Wapishana (Rede-RR) e a Frente de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas que ela lidera.
No dia 17 de abril, a APIB lançou uma nota sobre o uso da Força Nacional contra os povos indígenas que estarão em Brasília essa semana para o ATL: “Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado a livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500.” Sem se intimidar, declaram: “Seguiremos em marcha, com a força de nossa cultura ancestral, sendo a resistência a todos esses ataques que estamos sofrendo.”
Na vaquinha virtual para arrecadar fundos, listaram 11 medidas de ataques aos direitos dos povos indígenas, como a transferência da Funai para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a entrega das pastas da Demarcação e licenciamento ambiental para o Ministério da Agricultura, a extinção da Secretaria de Educação Continuada (SECADI/MEC), do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), além do aumento de conflitos territoriais (“devido ao discurso que afirma ‘não haverá um centímetro de terra demarcada'”), liberação de porte de armas que aumenta a violência no campo, exploração dos recursos nas terras indígenas, municipalização da saúde indígena.
Bolsonaro recebeu cinco indígenas no Planalto levados pelo ruralista Nabhan Garcia, presidente da UDR e secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, e aproveitou o momento para uma live com suposta aparência de improvisação.
Bolsonaro sabe dividir para conquistar, ou então fomentar as divisões políticas para desestabilizar os povos sob ataque, e fazer uso dos antigos instrumentos coloniais. Aproveitou a brecha de que Dilma Rousseff jamais havia recebido os povos indígenas nas vésperas do ATL. E fez uso do racismo cordial para propulsar a inferiorização dos povos indígenas sob o lema do “integrar”, “querem ser que nem nós”, “querem consumir”, “querem produzir”, e atacar as demarcações e incentivar o garimpo e a mineração (uma hora Nabhan corrige um dos indígenas, “fala mineração, não garimpo”).
Foi respondido por diversas lideranças - mas viralizou um vídeo dos Yanomami respondendo Bolsonaro. Nele, o brilhante xamã Davi Kopenawa diz: “o senhor fala que Yanomami está passando fome e sofrendo. Ninguém está sofrendo, ninguém está passando fome, ninguém está necessitado ajuda do governo, o povo Yanomami precisa garantir a nossa terra homologada, registrada e assinada pelo presidente Collor de Mello.”
O que Davi Kopenawa expôs, também, foi a relação entre economia e a ideologia de Bolsonaro, isto é, o efeito estrutural do racismo em regular a ideologia e a estrutura econômica.
Como disse Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB, para a senadora Thronicke no Senado, “não dá para a gente escutar dos parlamentares dessa casa e chegar aqui e pregar sua visão racista, alienada, preconceituosa contra nós e a gente ficar calados”. A líder indígena desfez o faz de conta desse governo truculento que diz que “gosta de índio”, que Bolsonaro e Damares dizem que “índio é meu irmão”, mas que irmão é esse que quer matar? Contra o disfarce construído pelo racismo, ela expôs: “assumam que não respeitam, não fiquem fazendo de conta que gostam de índio.”
O conflito, diz Sonia, está no campo, no cotidiano dos povos indígenas contra o agronegócio. E levantou a cortina de fumaça da suposta “integração”: a ganância do agronegócio, a flexibilização de direitos para a exploração dos territórios, a destruição pensando no lucro para atender ao capitalismo.
Não é apenas uma simples fala de intolerância e ódio. O discurso de Bolsonaro tem efeitos materiais - na paralisação das demarcações, desestruturação da assistência do Estado, e incitação do ódio aos índios. Nesse ponto, há uma observação de Frantz Fanon sobre o racismo contra os negros que ajuda a entender como Bolsonaro repete que o índio gostaria de ser que nem ele, que o índio seria manipulado por ONGs internacionais e ameaça a integridade do território nacional, como o índio usaria recursos públicos para vir a Brasília manifestar, como o índio seria violento.
Frantz Fanon escreve:
“O ódio não é dado, deve ser conquistado a cada instante, tem de ser elevado ao ser em conflito com complexos de culpa mais ou menos conscientes. O ódio pede para existir e aquele que odeia deve manifestar esse ódio através de atos, de um comportamento adequado; em certo sentido, deve tornar-se ódio.” (Pele negra, máscaras brancas, Edufba, 2008, p. 61)
Exemplo de Fanon: os linchamentos contra negros nos Estados Unidos substituindo a discriminação. Aqui, o ódio contra os povos indígenas promovido durante a campanha, materializado já no primeiro dia com a MP 870, e posteriormente por seguidos discursos de ódio do presidente e do General Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que no dia 2 de janeiro começou os ataques do governo aos povos indígenas declarando que indígenas não precisam de tratamento diferenciado (“O índio precisa ser tratado como cidadão brasileiro, e não com alguém de exceção, que precise de medidas excludentes”).
No Brasil, o linchamento físico contra os índios promovido por Bolsonaro tem refletido nas ameaças de morte a lideranças indígenas, nos assassinatos, nas invasões das terras indígenas, nas invasões de garimpeiros, madeireiros e grileiros, na violência policial contra os povos indígenas, na Força Nacional atuando para intimidar mulheres, crianças e idosas e idosos que estão vindo a Brasília essa semana — como a portaria 441 de Sérgio Moro que determinou a Força Nacional em Brasília para intimidar a mobilização indígena.
Este governo truculento, para usar expressão que Sonia Guajajara dirigiu à senadora Soraya Thronicke, do PSL no Mato Grosso do Sul (um dos estados mais anti-indígenas da federação), que não aceita o modo de ser dos povos indígenas.
A vida indígena causa fobia em Bolsonaro e seus aliados — fundamentalistas cristãos e ruralistas.
E, para transtorno de Bolsonaro, os povos indígenas têm conseguido dar respostas diretas às agressões, seja por meio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), as associações,, organizações, federações, ou pela voz de lideranças ecoando nas redes sociais e na imprensa. E mesmo dentro do Congresso Nacional, com a deputada Joênia Wapishana (Rede-RR) e a Frente de Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas que ela lidera.
No dia 17 de abril, a APIB lançou uma nota sobre o uso da Força Nacional contra os povos indígenas que estarão em Brasília essa semana para o ATL: “Parem de incitar o povo contra nós! Não somos violentos, violento é atacar o direito sagrado a livre manifestação com tropas armadas, o direito de ir e vir de tantas brasileiras e brasileiros que andaram e andam por essas terras desde muito antes de 1500.” Sem se intimidar, declaram: “Seguiremos em marcha, com a força de nossa cultura ancestral, sendo a resistência a todos esses ataques que estamos sofrendo.”
Na vaquinha virtual para arrecadar fundos, listaram 11 medidas de ataques aos direitos dos povos indígenas, como a transferência da Funai para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, a entrega das pastas da Demarcação e licenciamento ambiental para o Ministério da Agricultura, a extinção da Secretaria de Educação Continuada (SECADI/MEC), do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional), além do aumento de conflitos territoriais (“devido ao discurso que afirma ‘não haverá um centímetro de terra demarcada'”), liberação de porte de armas que aumenta a violência no campo, exploração dos recursos nas terras indígenas, municipalização da saúde indígena.
Bolsonaro recebeu cinco indígenas no Planalto levados pelo ruralista Nabhan Garcia, presidente da UDR e secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, e aproveitou o momento para uma live com suposta aparência de improvisação.
Bolsonaro sabe dividir para conquistar, ou então fomentar as divisões políticas para desestabilizar os povos sob ataque, e fazer uso dos antigos instrumentos coloniais. Aproveitou a brecha de que Dilma Rousseff jamais havia recebido os povos indígenas nas vésperas do ATL. E fez uso do racismo cordial para propulsar a inferiorização dos povos indígenas sob o lema do “integrar”, “querem ser que nem nós”, “querem consumir”, “querem produzir”, e atacar as demarcações e incentivar o garimpo e a mineração (uma hora Nabhan corrige um dos indígenas, “fala mineração, não garimpo”).
Foi respondido por diversas lideranças - mas viralizou um vídeo dos Yanomami respondendo Bolsonaro. Nele, o brilhante xamã Davi Kopenawa diz: “o senhor fala que Yanomami está passando fome e sofrendo. Ninguém está sofrendo, ninguém está passando fome, ninguém está necessitado ajuda do governo, o povo Yanomami precisa garantir a nossa terra homologada, registrada e assinada pelo presidente Collor de Mello.”
O que Davi Kopenawa expôs, também, foi a relação entre economia e a ideologia de Bolsonaro, isto é, o efeito estrutural do racismo em regular a ideologia e a estrutura econômica.
Como disse Sonia Guajajara, coordenadora executiva da APIB, para a senadora Thronicke no Senado, “não dá para a gente escutar dos parlamentares dessa casa e chegar aqui e pregar sua visão racista, alienada, preconceituosa contra nós e a gente ficar calados”. A líder indígena desfez o faz de conta desse governo truculento que diz que “gosta de índio”, que Bolsonaro e Damares dizem que “índio é meu irmão”, mas que irmão é esse que quer matar? Contra o disfarce construído pelo racismo, ela expôs: “assumam que não respeitam, não fiquem fazendo de conta que gostam de índio.”
O conflito, diz Sonia, está no campo, no cotidiano dos povos indígenas contra o agronegócio. E levantou a cortina de fumaça da suposta “integração”: a ganância do agronegócio, a flexibilização de direitos para a exploração dos territórios, a destruição pensando no lucro para atender ao capitalismo.
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