Por Ricardo Kotscho, em seu blog:
Vinha andando pela minha rua no final da tarde desta segunda-feira cinzenta em São Paulo, quando comecei a reparar na paisagem humana e nas lojas do caminho.
Sem pressa, sentei na varanda de um café, depois fiz vários pit-stop nos bancos espalhados pelas calçadas, para tentar descobrir o que estava acontecendo com aquela gente triste.
Nas lojas vazias, vendedores bocejavam debruçados sobre o balcão, não vendo chegar a hora de ir embora.
No salão onde fui cuidar dos velhos pés maltratados, era o único freguês.
Transeuntes caminhavam em marcha lenta olhando para o chão.
Mendigos ainda mendigavam sem muita esperança de receber um trocado, só pelo hábito, e seguiam em frente.
Vejo mais mulheres do que homens voltando do trabalho ou indo para a escola, carregando nas costas mochilas com todo o peso do mundo.
De repente, não passa ninguém, e a paisagem fica ainda mais melancólica.
Faróis continuam abrindo e fechando para ninguém, de vez em quando um apressado buzina. Motos passam zunindo para quebrar o silêncio.
Nem parece que estou na minha cidade, sempre barulhenta e apressada, ansiosa para chegar ao destino, qualquer um.
Ninguém para na banca de jornais, as manchetes já não chamam mais a atenção. Bares e restaurantes têm mais gente para servir do que fregueses.
O que mais se vende é cachaça e cerveja. Raro ver gente conversando nas poucas mesas ocupadas. Se alguém dá uma risada, devem achar que é maluco. Ri de quê?
Já não se briga mais por política nem futebol. Mulher bonita passa despercebida, não se ouve mais um fiu-fiu sem maldade.
Ensimesmados, parece que os paulistanos só pensam nas contas a pagar, ou no emprego que não vem.
Na grande cidade morta às seis da tarde, a estranha calmaria pode ser prenúncio de alguma tempestade.
Melhor ir logo para casa e ligar a televisão para ver as notícias.
Será que tem alguma boa?
Antes, porém, me deu vontade de escrever esta crônica do entardecer, sem maiores compromissos.
Vida que segue.
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