Por Gilberto Maringoni
Acabo de ler o projeto de lei que institui o Future-se. Estou abismado. Todo o texto é permeado pela difusão de uma gigantesca ilusão.
Trata-se da ideia de que há no Brasil incontáveis megaempresas transnacionais ávidas por destinarem vultosos recursos para pesquisa de ponta nas Universidades públicas.
O que as impede é a burocracia corporativa estatal.
Trata-se de ignorância ou má-fé.
O PL é composto por um arrazoado de 18 páginas, sendo que oito delas remetem a alterações em 16 leis existentes.
O documento é dividido em três partes: “I – gestão, governança e empreendedorismo; II – pesquisa e inovação; e III – internacionalização”.
Ao contrário do que o segundo ponto induz, nada há sobre pesquisa de fato, mas sobre as modalidades de gestão e captação de recursos privados.
O texto está disponível para consulta pública no Ministério da Economia até 7 de agosto e pode sofrer algumas alterações.
O documento ignora o fato de vivermos em um país com economia semi estagnada, com forte contração no mercado interno, insuficiência de demanda, retração de investimentos e ataques pesados à Ciência por parte do presidente da República e de outras autoridades.
O governo eleito é francamente contra qualquer tipo de pesquisa empírica.
Não é à toa que efetue cortes de gastos no IBGE – que desvirtuarão o Censo de 2020 -, que ataque investigações da Fiocruz sobre drogas, que sucateie o CNPq, através da supressão de bolsas, e que invista de forma primária e torpe contra o INPE.
Vale a pergunta; alguma empresa séria buscará o Brasil para realizar investigações de qualidade num quadro desses?
Há um fator adicional: a desbragada desnacionalização da economia brasileira – iniciada sob a suserania tucana – fez com que as empresas privatizadas e desnacionalizadas deslocassem para suas matrizes todo o setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Assim, o centro tecnológico da antiga Telesp, em Campinas, foi extinto quando a Telefónica de España adquiriu seu controle e a Vale do Rio Doce, antes uma holding de 35 de empresas de ponta, tornou-se uma mineradora e exportadora de material em estado bruto.
Acabo de ler o projeto de lei que institui o Future-se. Estou abismado. Todo o texto é permeado pela difusão de uma gigantesca ilusão.
Trata-se da ideia de que há no Brasil incontáveis megaempresas transnacionais ávidas por destinarem vultosos recursos para pesquisa de ponta nas Universidades públicas.
O que as impede é a burocracia corporativa estatal.
Trata-se de ignorância ou má-fé.
O PL é composto por um arrazoado de 18 páginas, sendo que oito delas remetem a alterações em 16 leis existentes.
O documento é dividido em três partes: “I – gestão, governança e empreendedorismo; II – pesquisa e inovação; e III – internacionalização”.
Ao contrário do que o segundo ponto induz, nada há sobre pesquisa de fato, mas sobre as modalidades de gestão e captação de recursos privados.
O texto está disponível para consulta pública no Ministério da Economia até 7 de agosto e pode sofrer algumas alterações.
O documento ignora o fato de vivermos em um país com economia semi estagnada, com forte contração no mercado interno, insuficiência de demanda, retração de investimentos e ataques pesados à Ciência por parte do presidente da República e de outras autoridades.
O governo eleito é francamente contra qualquer tipo de pesquisa empírica.
Não é à toa que efetue cortes de gastos no IBGE – que desvirtuarão o Censo de 2020 -, que ataque investigações da Fiocruz sobre drogas, que sucateie o CNPq, através da supressão de bolsas, e que invista de forma primária e torpe contra o INPE.
Vale a pergunta; alguma empresa séria buscará o Brasil para realizar investigações de qualidade num quadro desses?
Há um fator adicional: a desbragada desnacionalização da economia brasileira – iniciada sob a suserania tucana – fez com que as empresas privatizadas e desnacionalizadas deslocassem para suas matrizes todo o setor de pesquisa, desenvolvimento e inovação.
Assim, o centro tecnológico da antiga Telesp, em Campinas, foi extinto quando a Telefónica de España adquiriu seu controle e a Vale do Rio Doce, antes uma holding de 35 de empresas de ponta, tornou-se uma mineradora e exportadora de material em estado bruto.
O conjunto ITA-CTA, em São José dos Campos, só adquiriu sentido pleno com a criação da Embraer, em 1969.
É o caso também da Coppe-UFRJ em relação à Petrobrás e da Embrapa (1970) no impulsionamento da produtividade so setor agrícola a partir de 1975. A sinergia entre mundo da produção e Universidade se dá em setores de ponta. Repetindo: com as privatizações, essas articulações tendem a acabar.
O que as transnacionais buscam na periferia – na nova divisão internacional do trabalho e no salto tecnológico propiciado pela indústria 4.0 – é mão de obra barata em setores de uso pouco intensivo de capital, ou seja, nos mais atrasados.
Todo o raciocínio que embasa o Future-se assenta-se, assim, sob alicerces de fumaça.
Trata-se de um mero programa privatista, com um falso poder sedutor, brandido por Abraham Weintraub e seus auxiliares: “os professores podem ficar ricos”. Claro que alguns projetos de pesquisa em áreas muito específicas podem prosperar. Alguns professores podem realmente ficar ricos.
Além de instituir uma selvagem corrida por verbas a qualquer custo, o Future-se coloca na agenda um darwinismo acadêmico explícito.
Áreas que não conseguirem captar nada terão destino incerto, uma vez que o PL nada menciona sobre destinação de recursos constitucionais à Educação.
Ou seja, se a meta for – como parece ser – substituir orçamento público por empreendedorismo privado, adentramos a seara de conto do vigário tão efetivo quanto “basta tirar a Dilma que a confiança voltará”, ou ” com a aprovação das reformas, teremos crescimento e emprego”.
O Future-se não pode ser emendado ou aprimorado. Sua razão de existir é o descompromisso do Estado com a Universidade pública. Ninguém que seja sério pode transigir com isso.
É o caso também da Coppe-UFRJ em relação à Petrobrás e da Embrapa (1970) no impulsionamento da produtividade so setor agrícola a partir de 1975. A sinergia entre mundo da produção e Universidade se dá em setores de ponta. Repetindo: com as privatizações, essas articulações tendem a acabar.
O que as transnacionais buscam na periferia – na nova divisão internacional do trabalho e no salto tecnológico propiciado pela indústria 4.0 – é mão de obra barata em setores de uso pouco intensivo de capital, ou seja, nos mais atrasados.
Todo o raciocínio que embasa o Future-se assenta-se, assim, sob alicerces de fumaça.
Trata-se de um mero programa privatista, com um falso poder sedutor, brandido por Abraham Weintraub e seus auxiliares: “os professores podem ficar ricos”. Claro que alguns projetos de pesquisa em áreas muito específicas podem prosperar. Alguns professores podem realmente ficar ricos.
Além de instituir uma selvagem corrida por verbas a qualquer custo, o Future-se coloca na agenda um darwinismo acadêmico explícito.
Áreas que não conseguirem captar nada terão destino incerto, uma vez que o PL nada menciona sobre destinação de recursos constitucionais à Educação.
Ou seja, se a meta for – como parece ser – substituir orçamento público por empreendedorismo privado, adentramos a seara de conto do vigário tão efetivo quanto “basta tirar a Dilma que a confiança voltará”, ou ” com a aprovação das reformas, teremos crescimento e emprego”.
O Future-se não pode ser emendado ou aprimorado. Sua razão de existir é o descompromisso do Estado com a Universidade pública. Ninguém que seja sério pode transigir com isso.
0 comentários:
Postar um comentário