Por Fernando Brito, em seu blog:
O Globo publica hoje uma “coletânea” dos desaforos, agressões e xingamentos presidenciais. É obra alentada, mas não importa o grau da baixaria, nada mais surpreende no ex-capitão, exceto o fato de temo-lo na Presidência da República.
Grosseiro, primário, preconceituoso, simplista, incompetente, autoritário, nepotista, desumano, insensível, sabujo, seriam necessárias páginas para listar defeitos e deformações da figura presidencial. O fato é que estas “qualidades” sempre foram as dele e, portanto, seu poder não se construiu sozinho.
Discute-se muito como pode Jair Bolsonaro arrebanhar tamanho núcleo de fanáticos e , a partir dele, desfechar seu bem-sucedido assalto ao poder.
Fala-se, com razão, nas decepções com o petismo, nos anos de crise econômica, nas manipulações judiciais abjetas conduzidas contra Lula.
Sim, isso explica a existência dos “minions”, dos fanáticos incondicionais, da seita bruta e burra disposta a tudo pelo “Mito”.
Mas isto é pouco e penso que, com a sensibilidade aguda dos artistas, o chargista Renato Aroeira nos dá resposta mais completa no desenho que publica hoje e que reproduzo acima.
O fenômeno Bolsonaro, em muito, se explica quando se percebem seus companheiros de troglodismo estúpido na política, como Wilson Witzel e João Doria.
Representam, cada um a seu modo – ou à sua falta de modos – os três grupos que exponenciaram sua vileza e passaram a conduzira a vida brasileira.
Bolsonaro é uma fusão do militarismo tosco, do policialismo, dos recalques e rancores de parte de uma classe média baixa, que precisa atribuir a alguém a sua incapacidade de ascensão e escolhe o inimigos os que lhe dita o ‘senso comum”: os pobres, os negros, os nordestinos, os políticos, os governantes, todos eles reunidos sob os anátemas de “bandidos”, indolentes ou corruptos. Quando não os enquadram assim, vão todos para uma categoria vaga de anticristãos: os comunistas, os gays, os drogados…
É gente que trata como heresia qualquer dissensão sobre as suas verdades absolutas e prontas, que ejetam em frases conclusivas com as quais se protegem de qualquer indagação ou tentativa de argumentação: raciocinar é o mesmo que conceder à dúvidas e dúvida um pecado a ser permanentemente exorcizado.
Doria é o retrato da pobreza cultural que se grassa entre a elite rica no Brasil. Onde o cardigã substitui a inteligência, o ganhar dinheiro preenche qualquer necessidade de saber, onde Miami tomou o lugar dos museus de Paris mas, ao contrário das oligarquias que prevaleceram nos dois primeiros terços do século passado, não há mais qualquer simpatia pela construção de uma cultura brasileira através da literatura, das ciências sociais, das artes. Basta-lhes a construção de “celebridades”.
Como estofo, basta-lhe o brilho dos salões e tudo rescende a transitoriedade: seus negócios são rápidos, engordado por “tacadas”, aplicações, investimentos que, ao contrário dos dos velhos capitães de indústria, não guardam mais relação entre dono e propriedade: são executivos, já não vivem de produzir nem mesmo como donos.
Por último, Witzel encarna o troglodismo estatal: o dos juízes, dos procuradores, o das “autoridades” que transformaram – e ainda estão transformando – o Estado brasileiro numa máquina de repressão e de repressão, onde as razões absolutas de “combate ao crime” justifica e coleta apoio às maiores brutalidades contra os pobres.
São os ferozes condutores das matilhas policiais e usam da ferocidade para esconder a ignorância, a incapacidade de serem, como deveriam, ser condutores da civilização, do progresso, da felicidade social. Uma dezena de negros mortos numa viela passa a ser mais importante, como ato de governo, que mil crianças em boas escolas, que mil pacientes bem atendidos na rede pública, que mil famílias terem uma casa digna, pois a missão essencial do estado e o sorvedouro de seus recursos é, e deve ser, a miragem da segurança pública, como se a selva pudesse ser um lugar seguro.
Os três se apresentam como candidatos a 2022, para que o Brasil continue “avançando” para a pré-história.
Na nossa capacidade de reunir humanidade e lucidez é que reside a chance de terem sido um acidente e não uma fatalidade.
O Globo publica hoje uma “coletânea” dos desaforos, agressões e xingamentos presidenciais. É obra alentada, mas não importa o grau da baixaria, nada mais surpreende no ex-capitão, exceto o fato de temo-lo na Presidência da República.
Grosseiro, primário, preconceituoso, simplista, incompetente, autoritário, nepotista, desumano, insensível, sabujo, seriam necessárias páginas para listar defeitos e deformações da figura presidencial. O fato é que estas “qualidades” sempre foram as dele e, portanto, seu poder não se construiu sozinho.
Discute-se muito como pode Jair Bolsonaro arrebanhar tamanho núcleo de fanáticos e , a partir dele, desfechar seu bem-sucedido assalto ao poder.
Fala-se, com razão, nas decepções com o petismo, nos anos de crise econômica, nas manipulações judiciais abjetas conduzidas contra Lula.
Sim, isso explica a existência dos “minions”, dos fanáticos incondicionais, da seita bruta e burra disposta a tudo pelo “Mito”.
Mas isto é pouco e penso que, com a sensibilidade aguda dos artistas, o chargista Renato Aroeira nos dá resposta mais completa no desenho que publica hoje e que reproduzo acima.
O fenômeno Bolsonaro, em muito, se explica quando se percebem seus companheiros de troglodismo estúpido na política, como Wilson Witzel e João Doria.
Representam, cada um a seu modo – ou à sua falta de modos – os três grupos que exponenciaram sua vileza e passaram a conduzira a vida brasileira.
Bolsonaro é uma fusão do militarismo tosco, do policialismo, dos recalques e rancores de parte de uma classe média baixa, que precisa atribuir a alguém a sua incapacidade de ascensão e escolhe o inimigos os que lhe dita o ‘senso comum”: os pobres, os negros, os nordestinos, os políticos, os governantes, todos eles reunidos sob os anátemas de “bandidos”, indolentes ou corruptos. Quando não os enquadram assim, vão todos para uma categoria vaga de anticristãos: os comunistas, os gays, os drogados…
É gente que trata como heresia qualquer dissensão sobre as suas verdades absolutas e prontas, que ejetam em frases conclusivas com as quais se protegem de qualquer indagação ou tentativa de argumentação: raciocinar é o mesmo que conceder à dúvidas e dúvida um pecado a ser permanentemente exorcizado.
Doria é o retrato da pobreza cultural que se grassa entre a elite rica no Brasil. Onde o cardigã substitui a inteligência, o ganhar dinheiro preenche qualquer necessidade de saber, onde Miami tomou o lugar dos museus de Paris mas, ao contrário das oligarquias que prevaleceram nos dois primeiros terços do século passado, não há mais qualquer simpatia pela construção de uma cultura brasileira através da literatura, das ciências sociais, das artes. Basta-lhes a construção de “celebridades”.
Como estofo, basta-lhe o brilho dos salões e tudo rescende a transitoriedade: seus negócios são rápidos, engordado por “tacadas”, aplicações, investimentos que, ao contrário dos dos velhos capitães de indústria, não guardam mais relação entre dono e propriedade: são executivos, já não vivem de produzir nem mesmo como donos.
Por último, Witzel encarna o troglodismo estatal: o dos juízes, dos procuradores, o das “autoridades” que transformaram – e ainda estão transformando – o Estado brasileiro numa máquina de repressão e de repressão, onde as razões absolutas de “combate ao crime” justifica e coleta apoio às maiores brutalidades contra os pobres.
São os ferozes condutores das matilhas policiais e usam da ferocidade para esconder a ignorância, a incapacidade de serem, como deveriam, ser condutores da civilização, do progresso, da felicidade social. Uma dezena de negros mortos numa viela passa a ser mais importante, como ato de governo, que mil crianças em boas escolas, que mil pacientes bem atendidos na rede pública, que mil famílias terem uma casa digna, pois a missão essencial do estado e o sorvedouro de seus recursos é, e deve ser, a miragem da segurança pública, como se a selva pudesse ser um lugar seguro.
Os três se apresentam como candidatos a 2022, para que o Brasil continue “avançando” para a pré-história.
Na nossa capacidade de reunir humanidade e lucidez é que reside a chance de terem sido um acidente e não uma fatalidade.
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