Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:
O ex-capitão Bolsonaro não é um político normal. Não por ser “espontâneo” e “franco”, como alguns afirmam, comparando-o ao estereótipo do político tradicional e enxergando uma qualidade em sua anormalidade.
Normais, ao longo de sua vida e na Presidência, foram José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma e até Michel Temer, cada um à sua maneira e apesar de suas diferenças. Podemos não admirar nenhum deles e ter forte rejeição a vários, mas os sete foram normais e fizeram a carreira com base em princípios democráticos.
Bolsonaro, não. Nem nas atitudes nem no comportamento o ex-capitão mostra ter apreço pelos valores ou respeito pelos códigos de conduta democráticos. Se quisermos encontrar um antecessor de hábitos semelhantes, vem à mente o ex-presidente que ameaçava prender e arrebentar e que preferia cheiro de cavalo àquele de povo. Bolsonaro consegue ser, porém, um João Figueiredo piorado, sem capacidade para se tornar general.
Normais, ao longo de sua vida e na Presidência, foram José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, Lula, Dilma e até Michel Temer, cada um à sua maneira e apesar de suas diferenças. Podemos não admirar nenhum deles e ter forte rejeição a vários, mas os sete foram normais e fizeram a carreira com base em princípios democráticos.
Bolsonaro, não. Nem nas atitudes nem no comportamento o ex-capitão mostra ter apreço pelos valores ou respeito pelos códigos de conduta democráticos. Se quisermos encontrar um antecessor de hábitos semelhantes, vem à mente o ex-presidente que ameaçava prender e arrebentar e que preferia cheiro de cavalo àquele de povo. Bolsonaro consegue ser, porém, um João Figueiredo piorado, sem capacidade para se tornar general.
Nas democracias, políticos normais, quando disputam cargos majoritários, buscam obter o máximo possível de votos. Ganhar é bom, mas melhor é ganhar por larga margem. Não por acaso, essas vitórias são chamadas de consagradoras.
Depois da performance surpreendente de Donald Trump na última eleição nos Estados Unidos, tivemos de admitir a existência de outro modo de ganhar uma disputa nas urnas. Não foi pela busca do máximo possível de votos que o republicano venceu. Ele queria apenas o mínimo suficiente para superar a adversária. Deu-se bem, apesar de derrotado no voto popular do conjunto do país e de receber cerca de 70 mil votos a mais (equivalentes a 0,0005% do eleitorado) em três estados, nos quais a eleição se resolveu.
Foi um caso excepcional. De um lado, só deu certo por causa das regras peculiares do sistema eleitoral norte-americano. De outro, inaugurou um tipo novo de trapaça para o qual ninguém estava preparado. O uso ilegal das redes sociais por Trump não se repetirá, no entanto, pois todos estarão preparados e atentos. O presidente dos EUA pode até se reeleger, mas por motivos convencionais, diferentes dos que explicam sua primeira vitória.
Quando Bolsonaro se dirige ao núcleo que o apoia na sociedade, não faz como o ídolo. Trump age para manter seu eleitorado mobilizado e busca os temas potencialmente mais eficazes naquele ambiente institucional. Não é isso que o ex-capitão busca, pois tem, ao que parece, outra meta.
O comportamento de Bolsonaro, sua capacidade de inventar impropriedades gratuitas, afugentar eleitores e assustar possíveis novos apoiadores não é normal. Para que desafiar o bom senso e os sentimentos de gente comum, que vive fora de bolhas ideológicas amalucadas e não compartilha sua violência verbal e a ilimitada disposição para agredir e humilhar?
O ex-capitão abriu mão da ideia de formar uma maioria para sustentar o governo e disputar com chances a reeleição, por reconhecer que, para ele, é um sonho inalcançável. Ao que parece, desistiu também de executar uma estratégia à Trump, pois será muito difícil repetir as manobras imorais que usou em 2018.
Seu cálculo é que a coalizão antiesquerda, formada por militares, banqueiros, Rede Globo, políticos, bispos empresários, a maioria do Judiciário, do Ministério Público e de outras corporações, permanecerá unida. Ele não é o candidato preferencial de nenhum de seus integrantes, mas pode obrigá-los a engoli-lo, impedindo que busquem opções melhores, desde já e em 2022.
O que lhe resta é enveredar por um caminho que nada tem de democrático. Antes, é inteiramente antidemocrático (o que não o detém).
O ex-capitão investe na formação de uma milícia ideológica, um núcleo largamente minoritário na sociedade, mas suficientemente grande para ameaçar as instituições e seus atores. Deve acreditar que serão poucos os políticos com coragem para enfrentá-lo no Congresso, os jornalistas dispostos a criticá-lo, os magistrados que ousarão decidir contra ele, os procuradores que o investigarão, as cidadãs e cidadãos que sairão às ruas para repudiá-lo, sabendo que terão de enfrentar os milicianos bolsonaristas e se expor à violência.
Quem confia na democracia e sabe quão tosco é Bolsonaro aposta que isso não dará certo. O ex-capitão imagina que vencerá. Sua meta não é ter o apoio de 50% mais um dos votantes ou de 30% da sociedade. O que almeja é uma matilha pronta para morder, uma milícia que, ao seu comando, saia para bater nos outros.
Depois da performance surpreendente de Donald Trump na última eleição nos Estados Unidos, tivemos de admitir a existência de outro modo de ganhar uma disputa nas urnas. Não foi pela busca do máximo possível de votos que o republicano venceu. Ele queria apenas o mínimo suficiente para superar a adversária. Deu-se bem, apesar de derrotado no voto popular do conjunto do país e de receber cerca de 70 mil votos a mais (equivalentes a 0,0005% do eleitorado) em três estados, nos quais a eleição se resolveu.
Foi um caso excepcional. De um lado, só deu certo por causa das regras peculiares do sistema eleitoral norte-americano. De outro, inaugurou um tipo novo de trapaça para o qual ninguém estava preparado. O uso ilegal das redes sociais por Trump não se repetirá, no entanto, pois todos estarão preparados e atentos. O presidente dos EUA pode até se reeleger, mas por motivos convencionais, diferentes dos que explicam sua primeira vitória.
Quando Bolsonaro se dirige ao núcleo que o apoia na sociedade, não faz como o ídolo. Trump age para manter seu eleitorado mobilizado e busca os temas potencialmente mais eficazes naquele ambiente institucional. Não é isso que o ex-capitão busca, pois tem, ao que parece, outra meta.
O comportamento de Bolsonaro, sua capacidade de inventar impropriedades gratuitas, afugentar eleitores e assustar possíveis novos apoiadores não é normal. Para que desafiar o bom senso e os sentimentos de gente comum, que vive fora de bolhas ideológicas amalucadas e não compartilha sua violência verbal e a ilimitada disposição para agredir e humilhar?
O ex-capitão abriu mão da ideia de formar uma maioria para sustentar o governo e disputar com chances a reeleição, por reconhecer que, para ele, é um sonho inalcançável. Ao que parece, desistiu também de executar uma estratégia à Trump, pois será muito difícil repetir as manobras imorais que usou em 2018.
Seu cálculo é que a coalizão antiesquerda, formada por militares, banqueiros, Rede Globo, políticos, bispos empresários, a maioria do Judiciário, do Ministério Público e de outras corporações, permanecerá unida. Ele não é o candidato preferencial de nenhum de seus integrantes, mas pode obrigá-los a engoli-lo, impedindo que busquem opções melhores, desde já e em 2022.
O que lhe resta é enveredar por um caminho que nada tem de democrático. Antes, é inteiramente antidemocrático (o que não o detém).
O ex-capitão investe na formação de uma milícia ideológica, um núcleo largamente minoritário na sociedade, mas suficientemente grande para ameaçar as instituições e seus atores. Deve acreditar que serão poucos os políticos com coragem para enfrentá-lo no Congresso, os jornalistas dispostos a criticá-lo, os magistrados que ousarão decidir contra ele, os procuradores que o investigarão, as cidadãs e cidadãos que sairão às ruas para repudiá-lo, sabendo que terão de enfrentar os milicianos bolsonaristas e se expor à violência.
Quem confia na democracia e sabe quão tosco é Bolsonaro aposta que isso não dará certo. O ex-capitão imagina que vencerá. Sua meta não é ter o apoio de 50% mais um dos votantes ou de 30% da sociedade. O que almeja é uma matilha pronta para morder, uma milícia que, ao seu comando, saia para bater nos outros.
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