sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Deltan só dorme “à base de remédio”

Por Altamiro Borges

Em uma nota curtíssima, intitulada “A insônia de Deltan”, a jornalista Bela Megale revelou em sua coluna no jornal O Globo nesta quinta-feira (22):

Chefe da força-tarefa da Lava-Jato, o procurador Deltan Dallagnol confidenciou a amigos que, recentemente, só consegue dormir à base de remédio. Na semana passada, o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) desarquivou uma reclamação disciplinar contra Deltan e seu colega, Roberto Pozzobon, devido aos diálogos revelados pelo site “The Intercept”. Ainda há outras representações contra o investigador que serão analisadas. Os processos podem culminar no afastamento do chefe da Operação Lava-Jato.

Triste fim do ex-todo-poderoso carrasco da midiática operação. Até recentemente, Deltan Dallagnol ganhava fortunas em palestras em função da “visibilidade” que adquiriu com a escandalização da política. Só no ano passado, elas renderam uns R$ 400 mil. O “pastor do powerpoint” chegou a planejar a criação de uma firma com o cupincha Roberto Pozzobon, que seria gerenciada pelas respectivas “conjes” no papel de “laranjas”.

No auge da fama, conquistada com farto abuso de autoridade e outros crimes, o vaidoso procurador pensou até em erguer uma escultura em homenagem à força-tarefa da Lava-Jato. A maluquice só não vingou porque foi abortada por seu chefe e tutor, o “justiceiro” Sergio Moro – que depois ganhou de presente pelos serviços prestados um ministério no laranjal do miliciano Jair Bolsonaro. Sobre o tal monumento, vale conferir trechos da reportagem da Folha publicada na quarta-feira (21):

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Deltan idealizou monumento à Lava Jato, mas Moro previu crítica à 'soberba' 

Por Felipe Bächtold, da Folha, e Paula Bianchi, do The Intercept Brasil

"Precisamos de estratégias de marketing. Marketing das reformas necessárias", disse o procurador Deltan Dallagnol em grupo de conversa com colegas em maio de 2016.

Dessa necessidade, mostram mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil e analisadas pela Folha, surgiu a ideia de fazer uma espécie de monumento à Lava Jato e a reformas em Curitiba, escolhido por meio de concurso.

O projeto nunca foi concretizado, mas rendeu discussões entre procuradores, com a chefia do Ministério Público Federal no Paraná e até com o então juiz Sergio Moro.

A colegas, no aplicativo Telegram, Deltan demonstrava entusiasmo com o projeto. O plano era realizar um concurso de uma escultura que simbolizasse a operação e mudanças defendidas pelos procuradores, como o projeto das Dez Medidas, que estava em tramitação no Congresso, e a reforma política. ​

"A minha primeira ideia é esta: Algo como dois pilares derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça..."

O plano foi levado pelo procurador, que é chefe da força-tarefa, a Moro. Deltan esperava obter apoio do magistrado para colocar a peça na praça em frente à sede da Justiça Federal, que já virara local de atos em apoio à Lava Jato.

Citou a possibilidade de um concurso de escultura "que simbolize o fato de que a lava-jato é um avanço, mas precisamos avançar com reformas, como a reforma do sistema de justiça e do sistema político".

"Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além... Posso contar com seu apoio?", questionou.

Moro, em conversa no aplicativo, transpareceu contrariedade: "Não é melhor esperar acabar?"

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Depois de pedir um prazo para pensar, Moro deu opinião contrária: "Melhor deixar para depois. Em tempos de crise, o gasto seria questionado e poderia a iniciativa toda soar como soberba".

Para o então juiz, iniciativas que soam como homenagens "devem vir de terceiros".

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A vida dá muitas voltas. O “pastor” Deltan Dallagnol, que se achava acima da lei e de Deus, agora só "consegue dormir à base de remédios”. E sua situação deve piorar ainda mais. No próprio Ministério Público Federal, seus amiguinhos procuradores já dão como certo que ele será punido e deverá cair no ostracismo. Além disso, outros pesadelos poderão incomodar seu sono.

Uma notinha na revista Época serve de alerta: “Lula apresentou recurso ao STJ, pedindo a condenação de Deltan Dallagnol por danos morais e o pagamento de R$ 1 milhão. O petista alegou que uma apresentação feita pela Lava-Jato para apresentar denúncia contra ele em 2016, aquela do PowerPoint, trouxe ‘injustificáveis ataques à sua honra, imagem e reputação com evidente abuso de autoridade’”. Pode faltar dinheiro para comprar os remedinhos!

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