“Bolsonaro não governa, ele se vinga” (Fabio Porchat, no Porta dos Fundos).
Como aconteceu em 1969, durante o impedimento do marechal Costa e Silva, o Brasil vem sendo governado desde janeiro por uma junta.
Sim, só que desta vez é uma junta formada por civis.
Em lugar dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, o triunvirato que governa o Brasil de fato é integrado pelo banqueiro Paulo Guedes, que cuida da Economia, o xerife Sergio Moro, responsável pela Segurança Pública, e o aloprado astrólogo Olavo de Carvalho, que lá do seu exílio nos Estados Unidos manda na Educação e Cultura, nas Relações Exteriores, e no resto.
Para completar a terceirização do governo, o plenário do Senado deve aprovar nesta quarta-feira a PEC 48, que na prática institui o sistema semiparlamentarista de governo, a partir de 1º de janeiro.
Chamado de “sistema semiparlamentarista informal”, a estrovenga transfere ao Senado e à Câmara a elaboração e a aplicação do grosso do Orçamento, já a partir de 2010.
Ou seja, praticamente toda a gestão do Orçamento ficaria a cargo de deputados e senadores, sem necessidade de passar pela aprovação do governo federal.
Restará a Jair Bolsonaro o papel de “Rainha do Planalto”, podendo dedicar todo seu tempo a participar de cerimônias militares e cultos evangélicos, rodando por templos e quartéis, além de dizer desaforos aos jornalistas, cada vez que entra ou sai do Alvorada.
Se o presidente já não faz a menor ideia do que acontece nos seus ministérios mais importantes, entregues de porteira fechada aos cuidados da junta Guedes-Moro-Olavo, com a aprovação da PEC 48 o que lhe resta de poder passará para o comando dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Rodrigo Maia, o que na prática já acontece.
Com a agenda presidencial esvaziada, o capitão poderá cuidar do seu único objetivo declarado no governo: destruir as instituições democráticas e reinar absoluto nas redes sociais para tocar o “gado bolsonarista” rumo ao seu projeto de reeleição.
A retaguarda jurídica está garantida pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, fiéis servidores que cuidarão da sua impunidade e manterão seus adversários à distância, de preferência presos.
Assim, sem que a população perceba o que está acontecendo em Brasília, o Brasil dá mais um passo à beira do abismo.
Incapaz de decidir sozinho nem quem vai representá-lo ou não na posse do novo presidente da Argentina, Alberto Fernandez, mudando várias vezes de opinião, Bolsonaro encontrará tempo para arrumar encrenca até com Greta Thunberg, a menina sueca de 16 anos, que roda o mundo em defesa do meio ambiente, um dos inimigos juramentados do presidente em exercício.
Só não entendo uma coisa: por que, para quem e para que o capitão quer tanto a reeleição?
Já não basta o estrago que pode fazer em quatro anos de mandato?
Vida que segue.
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