Por Juliane Furno, no jornal Brasil de Fato:
Faz tempo que vários economistas vêm falando que desigualdade social e concentração da renda não combinam com crescimento. Para não dizerem que estou sendo desonesta, o Brasil vivenciou um período em que altas taxas de crescimento econômico conviveram com o aumento das desigualdades sociais. Isso ocorreu no período chamado de “milagre econômico” da década de 1970, no qual um fator muito particular – a indústria de bens de consumo duráveis – permitiu expandir o consumo da classe média à revelia do arrocho salarial dos trabalhadores mais pobres.
Salvo exceções muito particulares, a trajetória mundial no século 19 e 20 atesta a correlação positiva entre o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais. Os chamados “Anos Dourados” do capitalismo, que compreende o período pós 2ª Guerra Mundial até o início da década de 1970, foi um período que combinou elevadas taxas de crescimento, alto nível de emprego, aumento real dos salários, redução da pobreza, queda da desigualdade e distribuição funcional da renda.
Importante atentar que isso tudo não foi concebido nos ditames do “livre mercado”, mas no seu oposto. As políticas que permitiram o crescimento econômico e a repartição do “bolo” tinham claro conteúdo intervencionista e regulador dos Estados nacionais, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho, aos sistemas bancário e financeiro e aos fluxos internacionais de capitais.
O gráfico acima, tomando o exemplo dos Estados Unidos, explicita esse momento de redução significativa da concentração da renda, exatamente no período em que vigoraram as políticas de taxação sobre as grandes fortunas, de busca do pleno emprego e de elevação da renda média.
A fórmula não é muito difícil de compreender. Quanto mais cresce a renda dos trabalhadores, mais eles consomem; e quanto mais gastam, mais geram demanda para bens e serviços, que – por isso – necessitam contratar mais pessoas para atender as expectativas de venda. Quanto mais expectativas de vendas das mercadorias, mais os empresários investem; e quanto mais investem, mais empregos criam.
A partir de meados da década de 1970, com a crise econômica e a opção por governos neoliberais, a concentração da renda avança pari passu com a diminuição dos índices de crescimento globais.
Atualmente, até o FMI – bastião do liberalismo econômico – se diz preocupado com o descontrole do aumento da desigualdade social. Recentemente, Kristalina Georgieva, diretora do fundo, disse que o mundo corre o risco de mergulhar em uma nova “grande depressão” econômica se prosseguir a concentração tal qual vemos atualmente.
O recente relatório da Oxfam atesta que o número de bilionários dobrou na última década. Segundo a revista Forbes, 26 novos brasileiros passaram a integrar o seleto grupo de bilionários brasileiros entre 2018 e 2019. Enquanto isso, a desigualdade brasileira vem aumentando persistentemente há 17 trimestres.
Reduzir a secular desigualdade social que assola o Brasil é o meio mais eficaz de construir uma política sustentada de retomada do crescimento econômico, ao mesmo tempo em que presta contas com uma das principais e maléficas heranças sociais.
Faz tempo que vários economistas vêm falando que desigualdade social e concentração da renda não combinam com crescimento. Para não dizerem que estou sendo desonesta, o Brasil vivenciou um período em que altas taxas de crescimento econômico conviveram com o aumento das desigualdades sociais. Isso ocorreu no período chamado de “milagre econômico” da década de 1970, no qual um fator muito particular – a indústria de bens de consumo duráveis – permitiu expandir o consumo da classe média à revelia do arrocho salarial dos trabalhadores mais pobres.
Salvo exceções muito particulares, a trajetória mundial no século 19 e 20 atesta a correlação positiva entre o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais. Os chamados “Anos Dourados” do capitalismo, que compreende o período pós 2ª Guerra Mundial até o início da década de 1970, foi um período que combinou elevadas taxas de crescimento, alto nível de emprego, aumento real dos salários, redução da pobreza, queda da desigualdade e distribuição funcional da renda.
Importante atentar que isso tudo não foi concebido nos ditames do “livre mercado”, mas no seu oposto. As políticas que permitiram o crescimento econômico e a repartição do “bolo” tinham claro conteúdo intervencionista e regulador dos Estados nacionais, principalmente no que diz respeito ao mercado de trabalho, aos sistemas bancário e financeiro e aos fluxos internacionais de capitais.
O gráfico acima, tomando o exemplo dos Estados Unidos, explicita esse momento de redução significativa da concentração da renda, exatamente no período em que vigoraram as políticas de taxação sobre as grandes fortunas, de busca do pleno emprego e de elevação da renda média.
A fórmula não é muito difícil de compreender. Quanto mais cresce a renda dos trabalhadores, mais eles consomem; e quanto mais gastam, mais geram demanda para bens e serviços, que – por isso – necessitam contratar mais pessoas para atender as expectativas de venda. Quanto mais expectativas de vendas das mercadorias, mais os empresários investem; e quanto mais investem, mais empregos criam.
A partir de meados da década de 1970, com a crise econômica e a opção por governos neoliberais, a concentração da renda avança pari passu com a diminuição dos índices de crescimento globais.
Atualmente, até o FMI – bastião do liberalismo econômico – se diz preocupado com o descontrole do aumento da desigualdade social. Recentemente, Kristalina Georgieva, diretora do fundo, disse que o mundo corre o risco de mergulhar em uma nova “grande depressão” econômica se prosseguir a concentração tal qual vemos atualmente.
O recente relatório da Oxfam atesta que o número de bilionários dobrou na última década. Segundo a revista Forbes, 26 novos brasileiros passaram a integrar o seleto grupo de bilionários brasileiros entre 2018 e 2019. Enquanto isso, a desigualdade brasileira vem aumentando persistentemente há 17 trimestres.
Reduzir a secular desigualdade social que assola o Brasil é o meio mais eficaz de construir uma política sustentada de retomada do crescimento econômico, ao mesmo tempo em que presta contas com uma das principais e maléficas heranças sociais.
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