Por Altamiro Borges
O boletim "De olho nas negociações", produzido pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), confirma que a pandemia da Covid-19, que agravou a crise econômica que já vinha de antes, está corroendo a renda dos trabalhadores. Segundo o estudo, 60% dos reajustes salariais de abril ficaram abaixo da inflação de 6,94%.
O pior desempenho se deu entre os trabalhadores do setor de serviços, com 71,7% inferior à inflação. “Segundo o Dieese, em abril do ano passado, ocorreram 30,9% negociações acima da inflação. Naquele mês, 31,4% empataram e 37,6% perderam. Agora, a perda – em 60% – mostra que a situação piorou”, alerta o site da Agência Sindical.
A pesquisa mostra que só 17% dos acordos coletivos em abril garantiram reajustes acima da inflação; os outros 23% repuseram apenas as perdas inflacionárias do mês. Como afirma José Silvestre Prado, diretor do Dieese, o balanço das negociações coletivas aponta que o país segue com “uma conjuntura extremamente adversa para os trabalhadores".
Renda média cai abaixo de mil reais
Na semana retrasada, outro estudo confirmou a gravidade do momento. A pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, elaborada pelo FGV Social, mostrou que a renda média no Brasil caiu abaixo de R$ 1 mil pela primeira vez em 10 anos. Com isso, a diferença que separa os ganhos de ricos e pobres ficou ainda maior e a desigualdade bateu recorde.
Para o economista Marcelo Neri, diretor do FGV Social, o estudo mostra que houve “um grande salto de desigualdade... A situação piorou agora. A pandemia veio num momento de fragilidade trabalhista. O resultado é pior do que uma década perdida. Andamos para trás”, afirmou ao jornal Folha de S.Paulo.
A pesquisa também comprova que, apesar da pandemia ter prejudicado diferentes estratos sociais, os mais pobres foram as maiores vítimas. Isso acabou elevando a desigualdade social no país. Se a renda individual do trabalho caiu, em média, 10,89% neste primeiro trimestre, diante de igual período de 2020, entre os mais pobres a baixa foi de 20,81%. “Houve uma piora. O bolo de renda diminuiu, e diminuiu mais para os mais pobres”, registra Marcelo Neri.
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