Foi-se o tempo em que a economia despontava como uma das principais vitrines do País. Em 2010, no último ano da “era Lula”, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 7,5% – maior alta em 24 anos. No final de 2011, já com Dilma Rousseff na Presidência, o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou a sexta economia do mundo.
Dois anos depois, em 2013, nosso PIB per capita alcançou a marca recorde de R$ 26.445. E antes que o primeiro governo Dilma terminasse, em dezembro de 2014, houve um novo feito: a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) apontava que apenas 4,3% dos brasileiros estavam desempregados, menor taxa – até hoje – da série histórica, iniciada em 2002.
Esse Brasil ficou para trás – e para isso contribuíram vários fatores: os efeitos das jornadas de junho de 2013 e da Operação Lava Jato, a recessão de 2015-2016, o golpe contra a presidenta Dilma, a retomada da agenda neoliberal a partir do governo Michel Temer, a desindustrialização mais acentuada, a pandemia de Covid-19 e, acima de tudo, a gestão deletéria de Jair Bolsonaro no Planalto.
Se conseguir chegar ao fim de seu mandato, o presidente tem pouco menos de 15 meses para tentar deixar um ou outro legado positivo para o povo brasileiro – o que, a esta altura, parece algo absolutamente improvável. Na economia, porém, “o governo Bolsonaro já acabou” e o ministro Paulo Guedes se limita a “administrar o caos”, conforme resumiu ao Vermelho o professor José Luís Oreiro, da Universidade de Brasília (UnB).
Nem mesmo o avanço da vacinação contra a Covid-19 e a progressiva reabertura do setor de serviços deram alento à atividade econômica. O governo deixa subentendido que espera uma recuperação do PIB por inércia, ignorando o papel do Estado como agente econômico.
“O Brasil está na contramão do que os países desenvolvidos estão fazendo para reaquecer a economia, que é investir”, avalia Oreiro, um dos economistas mais ligados ao chamado Novo Desenvolvimentismo. “A política monetária tem muito pouco a fazer sobre choque de oferta. Tentar debelar esse tipo de inflação com elevação da taxa de juros é nonsense.”
O resultado é que, passada a recessão recorde de 2020 – ano em que o PIB despencou 4,1% –, o Brasil, sob o governo Bolsonaro, ficará ainda mais para trás. Mesmo com uma base tão deprimida, a economia deve crescer 5,04% em 2021 e apenas 1,57% em 2022, a crer na nova previsão do Boletim Focus, divulgada pelo Banco Central nesta segunda-feira (4). Baseado na estimativa de mais de cem instituições financeiras, o Boletim Focus também projeta, para este ano, 8,51% de inflação (IPCA) e 8,50% de juros (taxa Selic) – taxas que inibem tanto os investimentos quanto o consumo.
Os níveis de emprego, embora em ligeira melhora, também seguem alarmantes. Se até 2014 se ousava em falar de “pleno emprego” no País, hoje o mercado de trabalho é marcado por desocupação, informalidade e precarização, conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua apontou que, no trimestre encerrado em julho, 14,1 milhões de brasileiros estavam desempregados e outros 5,4 milhões, desalentados (pessoas que desistiram de buscar emprego). Além disso, há um número recorde de 36,3 milhões de trabalhadores na informalidade (sem carteira assinada, sem CNPJ ou sem remuneração).
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) realça a gravidade da crise brasileira. De acordo com o estudo, o Brasil deve demorar quase dez anos para alcançar novamente o PIB per capita de 2013 – que, como dissemos, foi o mais alto já registrado no País. Ainda que possa acobertar o avanço das desigualdades na sociedade brasileira, esse indicador mostra os efeitos de uma economia que tem transitado entre a recessão e a estagnação.
Com Bolsonaro, a extrema pobreza avançou, a carestia também, a fome e a segurança alimentar idem. A maioria dos mais de 213 milhões de brasileiros tem pouco ou nada a celebrar com a economia do País sob seu governo de destruição. É uma crise generalizada,
Um dos poucos que parecem manter a tranquilidade é Paulo Guedes, desmascarado agora com o caso “Pandora Papers”. Segundo o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), o ministro da Economia de Bolsonaro é um dos 1.897 brasileiros que têm milhões de reais depositados fora do País, nos chamados “paraísos fiscais”. Para não pagar impostos no Brasil, Guedes depositou, desde 2014, US$ 9,54 milhões (quase R$ 52 milhões) numa agência do banco Crédit Suisse, em Nova York, no Estados Unidos.
A lista da “Pandora Papers”, por sinal, inclui 66 brasileiros que, juntos, devem R$ 16,6 bilhões em impostos no País. Mas o caso de Guedes é mais grave, pois fere artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal: “É vedado o investimento em bens cujo valor ou cotação possa ser afetado por decisão ou política governamental a respeito da qual a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função”. Justamente por isso, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a instauração de uma “notícia de fato” para pedir esclarecimentos ao ministro.
Quem dera Paulo Guedes tivesse com a economia brasileira uma partícula da preocupação com que ele cuida da própria fortuna!
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