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O “capetão” Jair Bolsonaro se isola em todas as áreas. Ele é um pária mundial, conforme atestado na cúpula do G20 em Roma ou na COP26 em Glasgow, e um traste nacional, detestado por todos os setores lúcidos da sociedade. Na semana passada, um grupo de 21 cientistas condecorados com a Ordem Nacional de Mérito Científico anunciou a renúncia à indicação por discordar da sua postura fascista e dos retrocessos civilizatórios no Brasil.
A rejeição se deu em solidariedade a dois cientistas que tiveram a condecoração retirada pelo presidente apenas dois dias após a divulgação da lista inicial. Ambos são críticos da forma como o governo federal conduziu o combate à pandemia da Covid-19. Em carta aberta, os que rejeitaram a homenagem enfatizam que a exclusão dos pesquisadores é “inaceitável sob todos os aspectos” e "uma clara demonstração de perseguição”.
Negacionismo e perseguição fascista
"Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade científica brasileira nas últimas décadas", diz o texto.
A Ordem Nacional do Mérito Científico é a mais alta honraria na comunidade. Foi criada em 1993 pelo então presidente Itamar Franco com o objetivo de reconhecer "personalidades nacionais e estrangeiras que, por relevantes contribuições prestadas à ciência e à tecnologia, tenham-se tornado merecedoras de distinção". Na carta, os cientistas explicam os motivos da rejeição e, ao mesmo tempo, agradecem a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência que, junto com membros do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, indicam os cientistas para a condecoração.
"Esse ato de renúncia, que nos entristece, expressa nossa indignação frente ao processo de destruição do sistema universitário e de Ciência e Tecnologia. Agimos conscientes no intuito de preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção do processo civilizatório no Brasil", finaliza o documento.
Os cientistas excluídos pelo presidente fascista foram: Adele Schwartz Benzaken, que é diretora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Amazônia; e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda, que é pesquisador da Fundação de Medicina Tropical "Doutor Heitor Vieira Dourado" e liderou estudo que concluiu que a cloroquina não deve ser usada no tratamento da Covid-19.
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Em tempo: Jair Bolsonaro está doente. Ele precisa ser urgentemente internado. Além de excluir os dois cientistas e gerar revolta na comunidade, ele ainda se concedeu a si próprio uma homenagem de mérito científico. Segundo relato do site UOL, “o presidente concedeu a si próprio o título de grão-mestre, o mais alto, da Ordem Nacional do Mérito Científico”.
O decreto foi publicado em 4 de novembro no Diário Oficial da União. O fascista também condecora os ministros Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia e Inovações), Carlos França (Relações Internacionais), Paulo Guedes (Economia) e Milton Ribeiro (Educação) – outras nulidades e mediocridades como ele. O site UOL ainda tenta justificar que “a homenagem é regimental”. Mas nada justifica tamanha patifaria do presidente-pária!
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Reproduzo abaixo a íntegra da carta dos cientistas que rejeitaram a condecoração do governo:
Os cientistas abaixo assinados, condecorados com a Ordem Nacional do Mérito Científico, em decreto presidencial de 3 de novembro de 2021, vêm a público declarar sua indignação, protesto e repúdio pela exclusão arbitrária dos colegas Adele Schwartz Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães de Lacerda da lista de agraciados, em novo decreto presidencial na data de 5 de novembro de 2021.
Tal exclusão, inaceitável sob todos os aspectos, torna-se ainda mais condenável por ter ocorrido em menos de 48 horas após a publicação inicial, em mais uma clara demonstração de perseguição a cientistas, configurando um novo passo do sistemático ataque à Ciência e Tecnologia por parte do Governo vigente.
Enquanto cientistas, não compactuamos com a forma pela qual o negacionismo em geral, as perseguições a colegas cientistas e os recentes cortes nos orçamentos federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas.
Como bem pontuaram a Academia Brasileira de Ciências e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em notas divulgadas no dia 5/11/2021, a Ordem Nacional do Mérito Científico, fundada em 1993, é um instrumento de Estado para reconhecer contribuições científicas e técnicas de personalidades brasileiras e estrangeiras. A indicação de membros agraciados é realizada por uma Comissão, formada por três membros indicados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, três membros indicados pela Academia Brasileira de Ciências e três membros indicados pela SBPC. Nossos nomes foram honrosamente indicados por essa comissão, reunida em 2019. Mérito científico (como não poderia deixar de ser) foi o único parâmetro considerado para a inclusão de um nome na lista.
Consideramos, portanto, gratificante nossa presença nessa lista, e ficamos extremamente honrados com a possibilidade de sermos agraciados com um dos maiores reconhecimentos que um cientista pode receber em nosso país. Entretanto, a homenagem oferecida por um Governo Federal que não apenas ignora a ciência, mas ativamente boicota as recomendações da epidemiologia e da saúde coletiva, não é condizente com nossas trajetórias científicas. Em solidariedade aos colegas que foram sumariamente excluídos da lista de agraciados, e condizentes com nossa postura ética, renunciamos coletivamente a essa indicação.
Outrossim, desejamos expressar nosso reconhecimento às indicações da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entidades que têm respeito duradouro em defesa da Ciência, Tecnologia e Inovação na sociedade brasileira.
Esse ato de renúncia, que nos entristece, expressa nossa indignação frente ao processo de destruição do sistema universitário e de Ciência e Tecnologia. Agimos conscientes no intuito de preservar as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção do processo civilizatório no Brasil.
Brasil, 6 de novembro de 2021
Assinam (em ordem alfabética)
Aldo Ângelo Moreira Lima (UFC)
Aldo José Gorgatti Zarbin (UFPR)
Alfredo Wagner Berno de Almeida (UEMA)
Anderson Stevens Leonidas Gomes (UFPE)
Angela De Luca Rebello Wagener (PUC-RJ)
Carlos Gustavo Tamm de Araujo Moreira (IMPA)
Cesar Gomes Victora (UFPel)
Claudio Landim (IMPA)
Fernando Garcia de Melo (UFRJ)
Fernando de Queiroz Cunha (USP)
João Candido Portinari (Projeto Portinari)
José Vicente Tavares dos Santos (UFRGS)
Luiz Antonio Martinelli (USP)
Maria Paula Cruz Schneider (UFPA)
Marília Oliveira Fonseca Goulart (UFAL)
Neusa Hamada (INPA)
Paulo Hilário Nascimento Saldiva (USP)
Paulo Sérgio Lacerda Beirão (UFMG)
Pedro Leite da Silva Dias (USP)
Regina Pekelmann Markus (USP)
Ronald Cintra Shellard (CBPF)
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