Por Jeferson Miola, em seu blog:
O apagamento da história pelas oligarquias dominantes e sua mídia hegemônica não deriva de esquecimento involuntário, de descuido, de falha editorial ou de algum processo demencial de envelhecimento.
O apagamento da história é uma escolha programada, de sentido semiótico. O objetivo é a eliminação de acontecimentos, símbolos, memórias e verdades históricas para, assim, impor uma versão farsesca e alienada da história. Deixando, desse modo, a sociedade anestesiada e permitindo que a história de atropelos e rupturas institucionais se repita como se fosse, a cada vez, um fato inédito.
Sabemos que no Brasil, ao contrário do que disse Marx, essa repetição histórica acontece a segunda vez não como farsa, mas como tragédia – como a tragédia da escalada fascista-militar que hoje paira sobre a cabeça do povo brasileiro.
Escondendo a história, as oligarquias e sua mídia tentam esconder, também, sua própria índole atavicamente golpista e antidemocrática, que se manifesta brutalmente a cada vez que sentem seus interesses seculares e seus privilégios pornográficos ameaçados por governos progressistas, promotores de políticas distributivas.
Para a esquerda, a democracia é um valor fundante da vida societária, ao passo que para as elites dominantes a democracia tem valor meramente instrumental, que vale apenas enquanto não compromete seu projeto de poder e de dominação.
Neste 24 de agosto de 2022 o suicídio do presidente Getúlio Vargas, acontecido em 1954, aniversariou 68 anos. E neste 25 de agosto a Campanha da Legalidade, idealizada e liderada pelo governador gaúcho Leonel Brizola, completou 61 anos.
A imprensa hegemônica, no entanto, ignorou solenemente estes dois eventos relevantes. É como se estes acontecimentos, com toda a significação e relevância histórica de que são revestidos, simplesmente não tivessem acontecido.
Ao mesmo tempo, porém, a mídia oligárquica reservou espaços significativos para a cobertura do arcaico e bizarro traslado do coração formalizado do imperador Pedro I.
Tanto o suicídio de Getúlio como a Campanha da Legalidade ocorreram em contextos similares ao cenário político e institucional atual, de luta e de resistência à conspiração militar e à ofensiva autoritária da extrema-direita fascista contra uma democracia acossada e debilitada.
A história do Brasil é repleta de momentos em que as oligarquias dominantes obstruíram esforços de modernização e democratização do país – como, por exemplo:
[1] em 1954, quando fabricaram o clima beligerante e a crise política que levou Getúlio ao suicídio;
[2] quando tentaram, com artifícios golpistas, impedir as posses de JK em 1955 e do Jango, em 1961;
[3] nos anos 1961 a 1964, por meio da sabotagem e da conspiração apoiada e financiada pelos EUA, que culminou com o golpe de 31 de março de 1964 que derrubou Jango e levou à instalação da ditadura militar que durou 21 anos;
[4] em 2014, não aceitando a derrota eleitoral e incendiando o país;
[5] no período de 2014 a 2016, com a desestabilização, o terrorismo político e a fraude jurídico-midiática-parlamentar que resultou no impeachment fraudulento da presidente Dilma;
[6] em 2018, com a prisão farsesca do ex-presidente Lula determinada pela operação criminosa integrada por elementos do Ministério Público, Polícia Federal e chefiada pelo juiz suspeito Sérgio Moro com apoio ardente da mídia; e
[7] em 2018, com o emparedamento do STF pelas cúpulas partidarizadas das Forças Armadas para garantir a eleição do preposto do partido dos generais para a presidência da República.
Como a história brasileira mostra à exaustão, a depender das oligarquias dominantes a democracia, a legalidade e o respeito à vontade popular nunca estarão plenamente protegidos e preservados.
Em um contexto de reconstrução democrática do país e de alteração da correlação de forças sociais em favor do campo democrático e popular, será crucial resgatar a memória, a verdade e a justiça, para que ninguém se esqueça das monstruosidades perpetradas pelas oligarquias dominantes através do seu aparato policial-militar, e para que elas nunca mais aconteçam.
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