domingo, 5 de novembro de 2023

Diretor da ONU crítica imprensa sionista

São Paulo, 04/11/23. Foto: Elineudo Meira/MídiaNinja
Por Altamiro Borges


A carta de despedida do cargo do diretor do escritório do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos em Nova York, Craig Mokhiber, teve grande repercussão nas redes digitais. Entre outras verdades, o veterano diplomata afirmou que o que ocorre na Faixa de Gaza é um genocídio, reconheceu que a ONU fracassou na sua missão de paz e afirmou que o órgão se dobra aos interesses e às pressões dos EUA e de Israel. Um dos trechos da carta, porém, teve menor destaque. É o que trata do papel da mídia corporativa, descaradamente sionista.

Mídia desumaniza os palestinos

Para ele, a imprensa ocidental "desumaniza continuamente os palestinos para facilitar o genocídio e transmite propaganda de guerra e defesa do ódio nacional, racial ou religioso que constitui incitação à discriminação, hostilidade e violência". Ele ainda denunciou que “as empresas de mídia sediadas nos EUA estão suprimindo as vozes dos defensores dos direitos humanos enquanto amplificam a propaganda pró-Israel”.

Craig Mokhiber também relatou que “os controladores online do lobby de Israel estão assediando e difamando os defensores dos direitos humanos, e as universidades e os empregadores ocidentais estão colaborando com eles para punir os que ousam se manifestar contra as atrocidades... Na esteira desse genocídio, esses atores também devem prestar contas, assim como aconteceu com a rádio Milles Collines em Ruanda” – relembrando a emissora de rádio e televisão do país africano que instigou o genocídio de meio milhão de tutsis em 1994.

Vale conferir outros trechos da impactante carta:

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O genocídio diante de nossos olhos

“Mais uma vez, estamos vendo um genocídio se desenrolar diante de nossos olhos, e a Organização a que servimos parece impotente para impedi-lo. O mundo está assistindo. Todos nós seremos responsáveis por nossa posição nesse momento crucial da história... Nas últimas décadas, partes importantes da ONU se renderam ao poder dos EUA e ao medo do lobby de Israel, abandonando esses princípios e se afastando do próprio direito internacional”.

“Trabalhei nesses corredores durante os genocídios contra os tutsis, os muçulmanos bósnios, os yazidis e os rohingyas. Em todos os casos, quando a poeira baixou sobre os horrores perpetrados contra populações civis indefesas, ficou dolorosamente claro que havíamos falhado em nosso dever de cumprir os imperativos de prevenção de atrocidades em massa, de proteção dos vulneráveis e de responsabilização dos perpetradores... E assim tem sido com as sucessivas ondas de assassinato e perseguição contra os palestinos durante toda a existência da ONU”.

“Sei bem que o conceito de genocídio tem sido frequentemente sujeito a abusos políticos. Mas o atual massacre em massa do povo palestino, enraizado em uma ideologia colonial de colonos etnonacionalistas, na continuação de décadas de perseguição e expurgo sistemáticos, com base inteiramente em sua condição de árabes, e associado a declarações explícitas de intenção por parte dos líderes do governo e das forças armadas israelenses, não deixa espaço para dúvidas ou debates”.

O apartheid impera na região

“Em Gaza, casas de civis, escolas, igrejas, mesquitas e instituições médicas são atacadas arbitrariamente e milhares de civis são massacrados. Na Cisjordânia, incluindo a Jerusalém ocupada, as casas são confiscadas e reatribuídas com base inteiramente na raça, e violentos pogroms de colonos são acompanhados por unidades militares israelenses. Em todo o país, o Apartheid impera... Esse é um caso exemplar de genocídio. O projeto colonial europeu, etnonacionalista e de colonos na Palestina entrou em sua fase final, rumo à destruição acelerada dos últimos remanescentes da vida indígena palestina na Palestina”.

“Os governos dos Estados Unidos, do Reino Unido e de grande parte da Europa são totalmente cúmplices desse terrível ataque... Estão ativamente armando o ataque, fornecendo apoio econômico e de inteligência e dando cobertura política e diplomática para as atrocidades de Israel... Nessas circunstâncias, as demandas de nossa organização por ações eficazes e baseadas em princípios são maiores do que nunca. Mas não vencemos o desafio. O Conselho de Segurança, com poder de proteção e aplicação, foi novamente bloqueado pela intransigência dos EUA”.

“Vim para esta Organização pela primeira vez na década de 1980, porque encontrei nela uma instituição baseada em princípios e normas, que estava totalmente do lado dos direitos humanos, inclusive nos casos em que os poderosos EUA, Reino Unido e Europa não estavam do nosso lado. Enquanto meu próprio governo, suas instituições subsidiárias e grande parte da mídia dos EUA ainda apoiavam ou justificavam o apartheid sul-africano, a opressão israelense e os esquadrões da morte da América Central, a ONU estava defendendo os povos oprimidos dessas terras. Tínhamos o direito internacional do nosso lado. Tínhamos os direitos humanos do nosso lado. Tínhamos os princípios do nosso lado. Nossa autoridade estava enraizada em nossa integridade. Mas não mais”.


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O repúdio da atriz Angelina Jolie

Não foi só o desabafo do ex-diretor do escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos em Nova York que repercutiu na semana passada. Outra posição impactante foi a da atriz Angelina Jolie, que durante 20 anos foi “embaixadora” da Agência da ONU para Refugiados (Acnur). Em postagem nas suas redes sociais, ela repudiou a violência de Israel contra o povo palestino. “Gaza tem sido uma prisão ao ar livre durante quase duas décadas e está rapidamente se tornando uma vala comum. 40% dos mortos são crianças inocentes. Famílias inteiras estão sendo assassinadas”.

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