O discurso da presidente Dilma Rousseff no lançamento do programa Brasil sem Miséria, em São Paulo, ontem, demonstra a disposição da mandatária de não aceitar a pressão da mídia pela imposição de uma pauta vassoureira ao governo, e reforça a opção pela agenda desenvolvimentista pela qual foi eleita.
A solenidade teve a presença dos quatro governadores dos estados do sudeste: Sergio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro; Geraldo Alckmin (PSDB), de São Paulo; Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo; e Antonio Anastasia (PSDB), de Minas Gerais; além da presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Perante eles Dilma deixou claro que não se afasta do projeto político em curso desde os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da decisão de aprofundar os avanços alcançados desde então.
A melhor forma de “administrar é buscar o bem de todos os brasileiros. É buscar a construção de um projeto nacional acima dos interesses partidários e que articule as dimensões sociais”, disse Dilma num discurso encerrado por uma frase que indica qual é a faxina a que a mandatária adere: “É o Brasil inteiro fazendo um pacto pela verdadeira faxina que esse país tem que fazer: a faxina da miséria”.
Afirmação cujo sentido fica claro se comparada com outra que a presidente vem repetindo, como ocorreu dia 16, quando anunciou a criação de quatro novas universidades federais: “Meu desafio não é isso, meu desafio nesse país é desenvolver e distribuir renda. Esse é meu grande desafio. O resto a gente tem que fazer por ossos do ofício.”
O debate político em curso opõe, de um lado, a oposição conservadora e neoliberal que, sem poder bater de frente contra o programa de desenvolvimento, investimentos e distribuição de renda do governo dirigido por Dilma Rousseff, insiste naquilo que chama de “faxina”.
Não que sejam partidários firmes do rigor no uso dos recursos públicos – basta a recordação dos escândalos não investigados do período em que os tucanos estiveram à frente da Presidência da República e governos estaduais dirigidos por eles. Na verdade, o objetivo da “operação faxina” da oposição conservadora é trincar a unidade na base aliada, tentando separar a presidente dos partidos que a apoiam, particularmente o PMDB.
A bandeira esfarrapada que resta à oposição de direita, o moralismo, tem contudo pouca repercussão entre o povo, e os altos índices de aprovação popular a Dilma Rousseff se repetem, como revelam as últimas pesquisas de opinião. A mais recente, da CNT/Sensus, traz uma aprovação de 49% (ótimo/bom) mais 37% (regular), contra uma condenação baixa, de apenas 9% (ruim/péssimo).
As declarações feitas de maneira insistente por Dilma Rousseff nas últimas semanas ilustram a distinção correta entre as duas agendas, a falsamente moralista da oposição, que se opõe à pauta desenvolvimentista do governo. A bandeira do governo não é a ética e a lisura no uso do dinheiro público; elas são obrigação de todos os homens públicos e pré-requisito para a função pública, e o governo tem demonstrado que não vai tolerar infrações deste princípio.
A bandeira do governo é afirmativa: é a “obsessão” pelo desenvolvimento e pela elevação da qualidade de vida dos brasileiros. Não há contradição entre estes dois objetivos, ao contrário da insistência interessada da oposição que, no parlamento e na mídia, quer impor um roteiro político economicamente conservador e recessivo, oculto pelo biombo frágil representado pela “faxina” contra a corrupção.
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