Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Conversei com a presidente Dilma e o ex-presidente Lula antes e depois da grande festa de lançamento do documentário Pela Primeira Vez, de Ricardo Sutckert, que narra a despedida do primeiro presidente operário e a posse da primeira mulher presidente, na noite de quarta-feira, no Museu Nacional, em Brasília.
Os dois vieram juntos no mesmo carro, com mais de uma hora de atraso, mas não pareciam preocupados em chegar logo à sala superlotada onde foi exibido o filme, o primeiro produzido no Brasil em 3D. Pararam várias vezes no caminho para conversar e tirar fotos.
Depois de um longo almoço no Palácio da Alvorada, que foi até o final da tarde, do qual participaram os ministros Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho, amigos de ambos, Dilma e Lula chegaram sorridentes e tranquilos ao lançamento do filme de Stuckinha, como é chamado, enquanto o Congresso Nacional fervia com o início da CPI do Cachoeira e a votação do Código Florestal.
São dois mundos diferentes e eles sabem que seus papéis hoje são diferentes: o político, que agita os parlamentares e líderes partidários, caso de Lula, e o econômico, que ocupa a maior parte do tempo de Dilma, mais voltada para a administração do País.
Acima de tudo, porém, à parte os acidentes de percurso do dia a dia da política, o que os une é um projeto político comum e uma profunda admiração mútua, uma identidade de alma que se manifesta na continuidade do governo do PT, que está completando dez anos de Palácio do Planalto.
Emocionado com as cenas do filme que mostram o dia da vitória dos dois, Lula se empolga e fala para Dilma que se o partido não fizer nenhuma grande besteira, o PT vai governar até 2020, quando o Brasil será um país completamente diferente. Animados, eles fazem planos para o futuro.
Lula fica com lágrimas nos olhos quando lhe pergunto qual foi a cena do filme que mais o emocionou. Na verdade, foram duas cenas: o momento em que passa a faixa presidencial para Dilma, "um símbolo da nossa vitória", e a sua conversa com José Alencar no hospital, quando voltou a São Paulo logo após transmitir o cargo, em que os dois fizeram um balanço dos oito anos de governo.
Numa sala reservada, onde encontraram ministros de Dilma e ex-ministros e colaboradores do governo Lula, a presidente e o ex-presidente lembraram-se do seu encontro no Palácio da Alvorada, logo após o anúncio da vitória, em outubro de 2010.
Ainda não tinha caído a ficha da presidente eleita, como ela lembra, com bom humor, porque nunca antes (como Lula costuma dizer), havia sequer sonhado com este cargo."Este plano era teu, não meu...".
Lula brinca ao contar que Dilma foi a última a saber que ela era sua candidata na sucessão. Ao longo de muito tempo, o então presidente foi costurando a candidatura de Dilma meio na surdina, sem falar com a própria, para evitar qualquer disputa interna no partido e temer que ela não gostasse da ideia.
Desde meados de 2005, ainda no primeiro mandato, quando Lula me falou pela primeira vez no nome de Dilma, que tinha assumido pouco tempo antes a chefia da Casa Civil, Lula demonstrava com palavras, olhares e gestos quem seria a sua indicada para disputar a sucessão.
É assim que eles se entendem até hoje e, por isso, perdem seu tempo os que todos os dias tentam jogar um contra o outro - a última esperança de largos setores da imprensa e da minguada oposição para conter a hegemonia petista.
Talvez não saibam os que defendem o governo Dilma para desconstruir o governo Lula que o ex-presidente e sua sucessora fizeram um trato para evitar intrigas. No comecinho do governo, eles combinaram que conversariam pessoalmente a cada 15 dias, fora os frequentes telefonemas entre Brasília e São Bernardo do Campo.
Ainda na última sexta-feira, os dois conversaram longamente na sede da Presidência da República em São Paulo, e assim não fazia muito sentido a questão levantada pelos repórteres perguntando se a conversa do almoço tinha servido para eles "acertarem os ponteiros", como se eles estivessem em conflito.
Depois de três meses sem vir a Brasília, em função do tratamento do câncer na laringe, Lula mostrou que continua afiado ao enfrentar a selva de câmeras e microfones que seguiram os dois até suas cadeiras reservadas na sala de projeção, lembrando a chegada de algum ídolo de rock.
"Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter de atrasar ou adiantar. Nunca temos de acertar os ponteiros", respondeu Lula, segundo os jornais desta quinta-feira, já que eu não consegui ouvir nada no meio da confusão.
A confiança de Dilma em Lula e vice-versa é tanta que nem mesmo as diferentes posturas de cada um diante do comportamento da imprensa - a presidente procurando ser mais conciliadora, e o ex-presidente sempre mais crítico sobre o que é publicado - será capaz de criar atrito entre eles.
O ambiente estava tão bom que até resolvi fazer uma brincadeira com a presidente Dilma, que há muito tempo não via tão à vontade:
- A tua aprovação nas pesquisas já está ficando maior do que a minha na família...
- Por quê? Teu ibope anda tão baixo assim em casa?
Aparentemente de personalidades tão diferentes, os dois têm alguns hábitos comuns, como reparei ao me despedir: eles pegam nas mãos do interlocutor, perguntam da família e mandam lembranças para todos. A vida, afinal, não é feita só de política e economia. No caso desses dois, as pessoas são mais importantes.
Os dois vieram juntos no mesmo carro, com mais de uma hora de atraso, mas não pareciam preocupados em chegar logo à sala superlotada onde foi exibido o filme, o primeiro produzido no Brasil em 3D. Pararam várias vezes no caminho para conversar e tirar fotos.
Depois de um longo almoço no Palácio da Alvorada, que foi até o final da tarde, do qual participaram os ministros Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho, amigos de ambos, Dilma e Lula chegaram sorridentes e tranquilos ao lançamento do filme de Stuckinha, como é chamado, enquanto o Congresso Nacional fervia com o início da CPI do Cachoeira e a votação do Código Florestal.
São dois mundos diferentes e eles sabem que seus papéis hoje são diferentes: o político, que agita os parlamentares e líderes partidários, caso de Lula, e o econômico, que ocupa a maior parte do tempo de Dilma, mais voltada para a administração do País.
Acima de tudo, porém, à parte os acidentes de percurso do dia a dia da política, o que os une é um projeto político comum e uma profunda admiração mútua, uma identidade de alma que se manifesta na continuidade do governo do PT, que está completando dez anos de Palácio do Planalto.
Emocionado com as cenas do filme que mostram o dia da vitória dos dois, Lula se empolga e fala para Dilma que se o partido não fizer nenhuma grande besteira, o PT vai governar até 2020, quando o Brasil será um país completamente diferente. Animados, eles fazem planos para o futuro.
Lula fica com lágrimas nos olhos quando lhe pergunto qual foi a cena do filme que mais o emocionou. Na verdade, foram duas cenas: o momento em que passa a faixa presidencial para Dilma, "um símbolo da nossa vitória", e a sua conversa com José Alencar no hospital, quando voltou a São Paulo logo após transmitir o cargo, em que os dois fizeram um balanço dos oito anos de governo.
Numa sala reservada, onde encontraram ministros de Dilma e ex-ministros e colaboradores do governo Lula, a presidente e o ex-presidente lembraram-se do seu encontro no Palácio da Alvorada, logo após o anúncio da vitória, em outubro de 2010.
Ainda não tinha caído a ficha da presidente eleita, como ela lembra, com bom humor, porque nunca antes (como Lula costuma dizer), havia sequer sonhado com este cargo."Este plano era teu, não meu...".
Lula brinca ao contar que Dilma foi a última a saber que ela era sua candidata na sucessão. Ao longo de muito tempo, o então presidente foi costurando a candidatura de Dilma meio na surdina, sem falar com a própria, para evitar qualquer disputa interna no partido e temer que ela não gostasse da ideia.
Desde meados de 2005, ainda no primeiro mandato, quando Lula me falou pela primeira vez no nome de Dilma, que tinha assumido pouco tempo antes a chefia da Casa Civil, Lula demonstrava com palavras, olhares e gestos quem seria a sua indicada para disputar a sucessão.
É assim que eles se entendem até hoje e, por isso, perdem seu tempo os que todos os dias tentam jogar um contra o outro - a última esperança de largos setores da imprensa e da minguada oposição para conter a hegemonia petista.
Talvez não saibam os que defendem o governo Dilma para desconstruir o governo Lula que o ex-presidente e sua sucessora fizeram um trato para evitar intrigas. No comecinho do governo, eles combinaram que conversariam pessoalmente a cada 15 dias, fora os frequentes telefonemas entre Brasília e São Bernardo do Campo.
Ainda na última sexta-feira, os dois conversaram longamente na sede da Presidência da República em São Paulo, e assim não fazia muito sentido a questão levantada pelos repórteres perguntando se a conversa do almoço tinha servido para eles "acertarem os ponteiros", como se eles estivessem em conflito.
Depois de três meses sem vir a Brasília, em função do tratamento do câncer na laringe, Lula mostrou que continua afiado ao enfrentar a selva de câmeras e microfones que seguiram os dois até suas cadeiras reservadas na sala de projeção, lembrando a chegada de algum ídolo de rock.
"Nosso relógio é suíço. Jamais ele vai ter de atrasar ou adiantar. Nunca temos de acertar os ponteiros", respondeu Lula, segundo os jornais desta quinta-feira, já que eu não consegui ouvir nada no meio da confusão.
A confiança de Dilma em Lula e vice-versa é tanta que nem mesmo as diferentes posturas de cada um diante do comportamento da imprensa - a presidente procurando ser mais conciliadora, e o ex-presidente sempre mais crítico sobre o que é publicado - será capaz de criar atrito entre eles.
O ambiente estava tão bom que até resolvi fazer uma brincadeira com a presidente Dilma, que há muito tempo não via tão à vontade:
- A tua aprovação nas pesquisas já está ficando maior do que a minha na família...
- Por quê? Teu ibope anda tão baixo assim em casa?
Aparentemente de personalidades tão diferentes, os dois têm alguns hábitos comuns, como reparei ao me despedir: eles pegam nas mãos do interlocutor, perguntam da família e mandam lembranças para todos. A vida, afinal, não é feita só de política e economia. No caso desses dois, as pessoas são mais importantes.
0 comentários:
Postar um comentário