No início da sua gestão em São Paulo, o prefeito Fernando
Haddad parece que ainda não sabe o que fazer com a bomba das chamadas
Organizações Sociais (OSs), que gerenciam boa parte das unidades de saúde na
capital paulista. Na semana passada, ele prorrogou por um ano contratos de três
delas. Os aditamentos somam R$ 135,5 milhões. Durante a campanha eleitoral,
vários setores que apoiaram a sua candidatura defenderam o fim desta forma de privatização.
Já o tucano José Serra, derrotado, pregou a continuidade das OSs.
Reproduzo abaixo um artigo do presidente do Sindicato dos
Médicos de São Paulo, Cid Carvalhaes, publicado em novembro de 2012, que pode
ajudar o prefeito Fernando Haddad a tomar uma decisão mais acertada sobre o
futuro da saúde na capital paulista:
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Terceirização sucateia a saúde pública
O gerenciamento de unidades de saúde por Organizações
Sociais (OSs) é desastroso, antidemocrático e antissocial. A terceirização da
saúde pública cria diversos problemas, pois gera a mercantilização de um
sistema que por dever é de responsabilidade do poder público e por direito, da
população, que deve ter acesso a uma saúde de qualidade, ágil e resolutiva.
Desde que foram implantas no Estado, em 1998, as OSs tem
apresentado fragilidades. Com a privatização dos serviços públicos, os médicos,
os profissionais da saúde e os usuários assistiram a um processo acelerado de
sucateamento da saúde, artifício utilizado pelo gestor público para justificar
a manutenção do serviço de privatização.
A discrepância pode ser vista em números. De acordo com o
Tribunal de Contas do Município de São Paulo, somente na capital, em 2011, o
governo repassou quase 40% de seu orçamento de mais de R$ 5 bilhões destinados
à saúde para as OSs. No Estado de São Paulo, a situação não é diferente: estão
sobre gerenciamento de OSs quase 40 hospitais, 44 unidades de saúde.
Temos consciência de que as organizações sociais
aprofundaram os problemas da saúde pública do país e de São Paulo. As empresas
maquiaram vários pontos de atendimento com pintura de paredes e modificação de
pisos, mas o atendimento continua defasado, ineficiente e deficitário. No
aspecto da prestação de contas, as OSs têm demonstrado dificuldades em
apresentar eficiente controle do destino do dinheiro público para o privado.
Além disso, a terceirização gera uma rotatividade desastrosa
nas contratações. Profissionais são contratados sem concurso público, sendo
muitos deles sem qualificação adequada, o que gera grande desassistência aos
usuários do sistema.
A lei das OSs se assemelha a outra experiência já rechaçada
pela população de São Paulo anos atrás: o PAS (Plano de Atendimento à Saúde),
do ex-prefeito Paulo Maluf. A alegação de que as empresas não têm fins
lucrativos é desculpa para pagar polpudos salários a diretores e criar cargos
em comissão por interesses administrativos, levantando a hipótese de benefícios
eleiçoeiros e outros não declarados.
Após muitas lutas, em maio deste ano conseguimos
sensibilizar a Justiça do Trabalho, que proibiu todas as contratações de
funcionários nas parcerias entre a Secretaria de Saúde e as OSs por suposta
terceirização irregular de mão de obra, mas a Procuradoria do Estado de São
Paulo tenta desde o início de outubro reverter essa decisão.
Desde 1998, tramita uma ação direta de inconstitucionalidade
para julgar a validade desses convênios. Nos últimos anos, houve também outras
tentativas de impedir judicialmente os contratos com as OSs, mas uma definitiva
do Supremo Tribunal Federal (STF) é aguardada.
O Brasil precisa ter um orçamento realista para a saúde e
uma gestão eficiente, focada na melhoria da qualidade dos serviços prestados
para todos os brasileiros, sem distinção. Para tanto, é necessário auscultar
todos os representantes envolvidos com a saúde e direcionar soluções concretas,
eficientes e definitivas de sorte a garantir à população brasileira uma saúde
mais sadia.
Há que se fazer valer o direito de todo cidadão a um sistema
de saúde de qualidade. Garantir a todos um ambiente de trabalho seguro e
consistente. A verdadeira justiça só se faz pela equidade! Afinal de contas, a
saúde é um bem público e não deve ter intermediários.
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