segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Nelson Motta, o piadista de araque

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Pedro Pomar, no blog Escrevinhador:

A hegemonia do “pensamento Globo” é tão forte que arrasta para o seu campo uma série de intelectuais progressistas (ou que supúnhamos que o fossem) que mantêm vínculos simbólicos ou materiais com o principal grupo de mídia do país. O jornalista Nelson Motta, excelente crítico de música, e colunista do jornal O Estado de S. Paulo, ultimamente vem se aplicando na tarefa de tornar-se um intelectual reacionário, sempre pronto a espicaçar a esquerda por erros reais ou imaginários.

No artigo “Piadas no Salão”, publicado na edição de 8/2 do Estadão (p. A7) e disponível também em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2013/02/08/piadas-no-salao-por-nelson-motta-485583.asp, Nelson Motta trata da questão da democratização da mídia com uma leviandade espantosa. Ao fazer referência a uma declaração do ex-ministro José Dirceu, condenado na AP 470, em que este denuncia o “monopólio da comunicação”, o colunista pergunta: “Êpa! Que monopólio de araque é esse com tantas empresas competindo num dos maiores mercados publicitários do mundo?”

A rigor, não se trata mesmo de monopólio, mas de oligopólio, como advertia o saudoso jornalista Jair Borin, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP). O que não refresca nada. Porque, ainda que não seja uma única empresa a controlar sozinha o conjunto dos meios chamados de “comunicação de massa”, são algumas poucas que concentram, reunidas, algo em torno de 90% do sistema! Portanto, temos um oligopólio em que cerca de uma dezena de grandes grupos empresariais controla as principais emissoras de TV, rádio, jornais e revistas impressos de maior circulação, portais da Internet e outras mídias. Também integram o sistema, em maior ou menor grau, oligopólios e monopólios de escala regional e local.

Portanto, “monopólio” ou oligopólio, o fato é que um pequeno grupo de poderosas empresas determina, em grande medida, a qualidade e o formato daquilo que a maior parte dos brasileiros lê, ouve e assiste. A propriedade cruzada — o controle simultâneo de redes de rádio e TV, publicações impressas, meios digitais, distribuidoras, produtoras de filmes e discos e até transmissão de dados via satélite — confere enorme poder a essas empresas.

Motta devia saber disso, afinal de contas ele trabalha para a TV Globo e tem seus escritos publicados no G1, portal do mesmo grupo. O supergrupo da família Marinho é a estrela de maior brilho dentro do oligopólio e o “campeão” em matéria de propriedade cruzada da mídia no Brasil.

Mesmo com audiência em queda na TV, o grupo Globo ainda é, de longe, o maior conglomerado de mídia do país, com receitas anuais superiores a R$ 10 bilhões nos últimos anos. Segundo a revista Forbes, somente com a novela “Avenida Brasil” a Globo obteve receita de R$ 2 bilhões em 2012!

“Não podemos permitir que o Zé Dirceu tente cercear a palavra da imprensa independente, que não depende de favores do governo e vive de anunciantes privados que pagam para divulgar e promover seus produtos e serviços nos veículos que atingem o maior público com mais credibilidade”, exclama o indignado Motta no seu texto.

Ora, o que o articulista chama de “imprensa independente” são exatamente esses grandes grupos que integram o oligopólio da mídia. Afirmar que essa turma vive de anunciantes privados e que “não depende de favores do governo” é contar apenas parte da história (e falsear a outra parte). Tem sido fartamente noticiado que os governos estaduais de São Paulo (Alckmin, Serra) repassaram centenas de milhões de reais, durante anos, para os grupos Abril, Globo, Folha e Estado, mediante contratos sem licitação para aquisição de publicações impressas.

Mesmo o governo federal, duramente combatido por alguns desses grupos de mídia que resolveram assumir ostensivamente o papel de oposição, tem contribuído generosamente para sustentá-los. Todos receberam fartas verbas publicitárias da União em 2012. Mas Carta Capital, uma revista comercial que faz jornalismo de qualidade (e que apoiou a eleição de Dilma, sem abrir mão do direito de criticar erros do governo), recebeu pouco mais de R$ 100 mil.

Por outro lado, a opinião do ex-ministro José Dirceu importa bem pouco nesta questão. Para falar a verdade, enquanto esteve à frente da máquina partidária, e depois na Casa Civil, ele nunca se preocupou efetivamente em combater o oligopólio da mídia. É bom que se diga que a bandeira da democratização da mídia pertence a movimentos sociais, grupos, partidos e entidades da sociedade civil que conseguiram viabilizar politicamente a I Conferência Nacional de Comunicação, realizada em Brasília em 2009. Embora tenha sido convocada pelo próprio governo federal, e contado com expressiva participação do empresariado, as principais medidas aprovadas na Conferência para tornar a comunicação mais democrática e pluralista jamais foram implantadas.

Utilizando-se de um linguajar que seria mais apropriado num texto de Arnaldo Jabor, diz ainda Motta em seu artigo: “Um dos relinchos (sic!) mais estridentes nos blogs políticos é exigir que Dilma corte toda a publicidade estatal da TV Globo, por criticar o governo. Devem achar que a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobras anunciam na Globo, que tem mais audiência do que todas as outras juntas, não por necessidade de competir no mercado, mas para comprar apoio. Para eles tudo na vida é mensalão”.

Criticar o governo é necessário e importante, sempre que houver erros, omissões e ilicitudes que precisem ser apontadas. Porém, o que os grupos de mídia (Globo à frente) têm feito frequentemente é inventar e distorcer fatos, com a finalidade de proteger seus próprios interesses (e os de seus aliados). O alvo dessa mídia nem sempre é o governo Dilma: muitas vezes são os movimentos sociais, os beneficiários de políticas públicas (como os sem-terra, os povos indígenas, os quilombolas), as centrais sindicais (como a CUT), os movimentos grevistas etc. Ou os governos de países como Venezuela, Argentina e Equador, atacados como se fossem “ditaduras” e constantemente ridicularizados por comentaristas e apresentadores.

Motta deveria refletir sobre o que ele mesmo escreve: que a TV Globo “tem mais audiência do que todas as outras juntas”. Será que isso é bom? Será que caiu do céu? Será que se deve apenas ao “padrão Globo de qualidade”? Ou tem a ver com os benefícios que a Globo recebeu da Ditadura Militar, que lhe permitiram crescer rapidamente, enriquecendo a família Marinho?

É verdade que Caixa, Petrobras e BB anunciam na Globo por causa de sua maior audiência? Em parte, sim. Mas também é verdade que não é à toa que o Brasil é “um dos maiores mercados publicitários do mundo”. Aqui gerou-se, historicamente, uma enorme relação de promiscuidade entre gestores públicos e interesses privados, em torno exatamente da publicidade oficial. Portanto é importante rever as estratégias de publicidade do governo, inclusive como parte do processo de desconcentração da mídia. Além disso, não custa lembrar um incômodo detalhe: as TVs são uma concessão do poder público! O governo paga para usar algo que é patrimônio da nação.

Por fim, não foi o próprio Motta que garantiu que a “imprensa independente”, ou seja, o oligopólio da mídia, “vive de anunciantes privados”? Bem, se é assim, devemos entender que não deve lhe fazer falta a publicidade de empresas estatais como a Petrobras, o BB e a Caixa...

Motta tripudia dos defensores da democratização da mídia, que ele vê como “piadistas de salão”. Mas sua defesa do oligopólio é ou não é uma piada de mau gosto?

6 comentários:

Benjamin Eurico Malucelli disse...

Que o Nelson Motta se tornou um reacionário de carteirinha não é novidade para ninguém. Ele mesmo se autodeclarou reacionário em um artigo quando era articulista da Folha. Ou seja, tudo o que ele disser ou escrever não deve ser levado em consideração a partir do princípio do "domínio da suspeição"!

Monica disse...

A Globo consegue fazer com que seres pensantes não assistam o desfile das Escolas de Samba.mesmo sendo fã de algumas Escolas não consegui assistir ao desfile,tamanhas as Ms ditas na transmissão.

Anônimo disse...

Aparentemente a recente reestruturação funcional da empresa forçou até aqueles contratados mais discretos, como Sr. Nelson Mota, a emitirem qualquer coisa escrita ou interpretada, com conteúdos políticos em sintonia com com a filosofia sa empresa. Caso contrário, fossa!
Será bom que o referido autor exercite sua memória. Verá que não poucos da Globo que se comportaram assim na época de promover Collor não inspiram mais tanto ardor de fãs.
É a vida. Quer ganhar bem? Quer notoriedade? Tem preço!
Torço para que Mota consiga se desvencilhar da arapuca. Até porque o argumento é confuso:
“Não podemos permitir que o Zé Dirceu tente cercear a palavra da imprensa independente, que não depende de favores do governo e vive de anunciantes privados que pagam para divulgar e promover seus produtos e serviços nos veículos que atingem o maior público com mais credibilidade”, para depois: “Um dos relinchos (sic!) mais estridentes nos blogs políticos é exigir que Dilma corte toda a publicidade estatal da TV Globo, por criticar o governo. Devem achar que a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobras anunciam na Globo, que tem mais audiência do que todas as outras juntas, não por necessidade de competir no mercado, mas para comprar apoio. Para eles tudo na vida é mensalão”.

Alexandre Figueiredo disse...

"Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia. Tudo passa, tudo sempre passará."

E, pelo jeito, aquele Nelson Motta sinônimo de modernidade e espírito da Contracultura, um tanto Bossa Nova e um tanto bicho grilo, passou-se para sempre.

Anônimo disse...

este não me engana.

Marcos Filho disse...

Tem um erro grave nesse post: Nelson Motta excelente critico de musica. Nem aqui, nem em lugar algum. Ele apenas teve o privilégio de estar no lugar certo na hora certa durante toda a vida. No entanto, nao soube aproveitar essas oportunidades para aprender algo que presta. Por isso anda por ai. Como um zumbi dizendo essas asneiras.