quinta-feira, 27 de junho de 2013

A esquerda não pode piscar

Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:

O Brasil ingressa num ciclo de turbulência do qual a democracia participativa poderá emergir como parteira de uma sociedade mais equilibrada e justa.

Mas a esquerda não pode piscar.

A disputa fratricida, hoje, é o coveiro das esperanças nacionais.

Nos anos 50, um pedaço das forças progressistas só foi perceber o seu lado no jogo quando o povo já incendiava os carros do jornal 'O Globo', em resposta ao tiro com o qual Getúlio encerrou a sua resistência e convocou a das massas.

Ontem, como agora, o enclausuramento ideológico, o acanhamento organizativo e a dispersão programática pavimentam o caminho da ameaça regressiva.

É a hora da verdade de toda uma geração.

Cabe-lhe sustentar um novo desenho progressista para o desenvolvimento do país.

Um notável volume de investimentos é requerido para adequar a logística social e a infraestrutura às dimensões de uma nação que incorporou milhões de pobres ao mercado de consumo nos últimos anos.

Agora lhes deve a cidadania.

O novo giro da engrenagem terá que ocorrer num momento paradoxal.

A recuperação norte-americana encoraja as apostas no fim da crise, mas complica a mecânica do crescimento na periferia do mundo, encarecendo o custo do capital.

Asfixiada antes pela valorização do Real, a indústria brasileira agora é o canal de transmissão da alta do dólar nos índices de preços, por conta das importações.

Dotado de uma base fabril atrofiada pelo irrealismo cambial, o país importa quase 25% das manufaturas que consome.

A sangria destrói empregos e desperdiça receitas que faltam ao gasto público, ademais de fragilizar as contas externas.

O déficit comercial da indústria este ano alcançará o equivalente a 20% das reservas cambiais.

É só um vagalhão da tempestade perfeita que cobra respostas em várias frentes: prover a infraestrutura, combater a inflação, resgatar a industrialização, dar progressividade ao sistema tributário, ajustar o câmbio, modular o consumo.

Tudo junto e com a mesma prioridade.

A urgência das ruas sacudiu essa equação que há menos de um mês tornava a economia cada vez mais permeável a uma transição preconizada pelo conservadorismo.

Com o título sugestivo de, ‘Um Plano para Dilma’, coube ao editorial da Folha de 02/06, como já comentou Carta Maior, enunciá-la em detalhes.

O ‘plano’ consistia em impor ao país o projeto derrotado em 2002, 2006 e 2010. A saber: arrocho fiscal e monetário; entrega do pré-sal às petroleiras internacionais; redução dos gastos sociais e dos ganhos reais de salários; renúncia ao Mercosul e adesão aos tratados de livre comércio.

Essa plataforma envelheceu miseravelmente nas últimas horas.

Mas não foi arquivada.

O interesse conservador que antes pretendia usar o governo para escalpelar as ruas, subtraindo-lhe conquistas e recursos na ordenação de um novo ciclo econômico, agora quer usar as ruas para desidratar o governo.

Mas oscila.

A bipolaridade reflete a ansiedade típica de quem sabe que joga a carta do tudo ou nada.

Não por acaso, o jornalismo a serviço do dinheiro já constata receoso: ‘o que a rua pede colide com o que o mercado pretende’.

Curto e grosso: o espaço para um ajuste estritamente convencional se esgotou.

Quem dará coerência ao desenvolvimento brasileiro a partir de agora? -- perguntava Carta Maior há menos de um mês.

Antes turva, a resposta desta vez emerge mais limpa.

A nova coerência macroeconômica terá que ser buscada na correlação de forças redesenhada pelas grandes multidões que invadiram as ruas nas últimas semanas.

Emparedado pela lógica conservadora o governo Dilma passou a ter escolhas (leia a advertência de Paulo Kliass, na coluna nesta pág).

E o PT a chance de se reinventar, explicitando uma agenda clara para o passo seguinte da história.

Sua e a do país.

O bônus não autoriza o conjunto das forças progressistas a adotar a agenda da fragmentação suicida.

O focalismo cego às interações estruturais é confortável.

O descompromisso com partidos e organização dá leveza e audiência na mídia conservadora.

Mas levam ao impasse autodestrutivo e à inconsequência histórica (leia a entrevista do pesquisador Paolo Gerbaldo, do Kings College, de Londres, a Marcelo Justo; nesta pág).

Não se faz política sem poder; não se conquista poder sem disputar o Estado.

A responsabilidade de interferir num processo histórico pressupõe a adoção de balizas e estruturas que impeçam o retrocesso e assegurem coerência às mudanças.

Sem alianças aglutinadoras, nada acontecerá.

O jogo é pesado.

Limites estritos à ação convergente do Estado (mínimo) foram erguidos em todo o mundo nos últimos 30 anos.

A liberdade dos capitais manteve nações, projetos, partidos e governos sob chantagem impiedosa.

Domínios insulares foram instalados no interior do aparato público.

O conjunto elevou a tensão política que explode periodicamente, como agora --como em 2002, em 2006 e em 2010-- quando os mercados blindados se preparam para enfrentar a democracia insatisfeita nas urnas.

Teoricamente, essa é a hora em que o bancário e o banqueiro tem o mesmo peso no escrutínio do futuro.

Na prática, porém, é a locomotiva dos grandes levantes populares que delimita a fronteira da democracia social em cada época.

A alavanca brasileira, no caso, foram os levantes operários do ABC paulista dos anos 70/80 e a luta cívica contra a ditadura militar.

Daí nasceria o PT.

E o subsequente ciclo de governos do partido, caracterizado pela negociação permanente do divisor entre os dois domínios, o do dinheiro e o dos interesses gerais da sociedade.

Negociou-se ‘sem romper contratos’ nos últimos 12 anos.

Com acertos, equívocos e hesitações fartamente listados.

Ainda assim, o saldo configura ‘um custo Brasil’ intolerável aos interesses acantonados no polo oposto do braço de ferro.

Avançar à bordo da composição de forças que delimitou a ação progressista até aqui tornou-se cada dia mais penoso.

Faltava a locomotiva da história apitar outra vez para esticar os limites do possível na discussão do novo ciclo de crescimento que o país requer.

Foi o que fizeram as ruas.

A presidenta Dilma viu o bonde passar e não hesitou: ao redesenhar os perímetros da democracia com a reforma plebiscitária, tornou implícito --queira ou não-- que a soberania popular é também o único impulso capaz de harmonizar as balizas do novo ciclo de desenvolvimento.

Vive-se um meio fio.

De um lado, há a chance de uma ruptura efetiva do desenvolvimento brasileiro com a camisa de força do neoliberalismo.

De outro, a espiral descendente dos impasses pode jogar o país no abismo de uma recaída ortodoxa devastadora.

O tempo urge.

E não é pouco o que se tem a perder.

As lideranças progressistas terão discernimento e prontidão política para negociar uma agenda de bandeiras, fóruns e ações comuns?

A ver.

1 comentários:

Anônimo disse...



O QUE PODERÁ SER O RÉQUIEM AO GOVERNO DILMA ROUSSEFF! E O CANTO DE REDENÇÃO DA DIREITONA!

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Como dizia aquele amigo, velho comunista, que não caiu na esparrela do PPS: isso aí não dá em nada, ou derruba o Governo.
Acertou.
Derrubou o Governo Dilma e botou no lugar outro Governo Dilma.
O trabalho político passou a se desenvolver na arena da Copa das Confederações.
Por que a Copa passou a ser o alvo ?
Porque a Globo ganha com ela de qualquer jeito e em qualquer lugar: no Maracanã, na África do Sul ou na Coreia.
E para os conservadores e a Globo, a Copa tem uma maldição de origem: o Lula trouxe a Copa e a Dilma a realizará.
(...)
Não há 100 mil pessoas apartidárias nas ruas.
A Globo deu o Partido e os líderes.
(...)
Uma juventude que pensa que JK é tônico muscular.
Isso se deve à entre aspas politização fecha aspas, na Globo, do julgamento do mensalão, que mais do que punir o PT foi a fogueira em que ardeu a política.
A ideologia predominante nos altos escalões da Justiça contaminou o país: a política é o pecado.
A virtude está nas Leis, ou melhor, nos Juízes.
Tudo o que cheira a soberania popular fede.
Essa rebelião “desorientada” se valeu da ignorância.
Esses manifestantes – e, na verdade, milhões de brasileiros – não conhecem o Brasil.
Não sabem o que acontece no Brasil.
Por exemplo, não sabem que há 30 anos não se investia em transportes.
(...)
Outro erro estratégico,
Foi não criar um sistema estatal – de preferência – ou publico de comunicação de massa.
Informar é obrigação do governante.
E o governado tem o direito de ouvir e, constitucional, ser ouvido.
Nenhuma Democracia do mundo permitiria que a lei que regula a rádio-difusão não se atualizasse desde 1963.
Desde 1994, a Globo controla 80% de toda a verba da televisão aberta.
Em 1994, ela tinha 80% da audiência.
Hoje, tem 45% da audiência.
Mas, não faz diferença.
Os 80% são os mesmos e o bolo da grana aumentou.
E agora ?
O Governo Dilma perdeu.
Vê-se no seu rosto.
(...)
“Ouvir as voz das ruas” só seria possível numa Assembleia Constituinte exclusiva.
E, depois, um referendo.
Fora disso, a “voz das ruas” sumirá naquele salão do Athos Bulcão que liga a Câmara e o Senado.
Emudecerá
E a Dilma acabará mais perto do Michel Temer do que do Lula.
O Brasil vai parar ?
Não !
(...)
Vai mudar tudo.
Desde que tudo continue tudo como estava.
Há 200 anos.
(Já ouvi isso em algum lugar.)

Por jornalista Paulo Henrique Amorim
em http://www.conversaafiada.com.br/politica/2013/06/27/os-conservadores-capturaram-a-dilma/

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LÁ VEM O MATUTO ‘BANANIENSE’ QUE SENTE CHEIRO DE GOLPE DESDE QUE NASCEU EM *PINDORAMA!
* Etimologicamente quer dizer, em tupi-guarani, terra de papagaios. Designação dada ao Brasil pelas gentes andoperuanas e indopampianas. O jornalista e escritor Elio Gaspari, em seus artigos, usa muito este nome quando quer, de forma irônica, se referir ao Brasil.

“NUMDISSE?!”: continuemos pintados para a guerra! Mesmo porque a luta contra o fascismo é eterna!

Até a vitória sempre!

Respeitosas saudações democráticas, progressistas, civilizatórias, nacionalistas, antigolpistas e antifascistas,

República Desses Bananas da [eterna] OPOSIÇÃO AO BRASIL E AO POVO BRASILEIRO, MENTEcaptos, fascistas, mercenários, golpistas/terroristas de meia tigela!... ‘O cheiro dos cavalos ao do povo!’

Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo