Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
Enquanto no Brasil ganham força as especulações de que Lula poderá voltar a ser candidato a presidente, caso o governo Dilma entre enfraquecido no próximo ano, tentando jogar um contra o outro, Hélio Campos Mello e Luiza Villaméa, da "Brasileiros", revista mensal de reportagens onde também trabalho, foram até Adis Adeba, na Etiópia, para ouvir o próprio sobre os seus planos para 2014.
Após um longo silêncio, Lula falou pela primeira vez sobre as grandes manifestações de junho, a reação do governo brasileiro e a necessidade de se buscar uma nova forma de fazer política. No início de julho, o ex-presidente foi à Etiópia para participar das comemorações dos 50 anos da União Africana e lá abriu um espaço na sua agenda para dar uma longa entrevista aos meus dois colegas, publicada na íntegra na edição de julho, que está chegando às bancas.
No ponto mais importante da conversa, Lula deixou bem claro qual será seu papel na sucessão presidencial. Alguns trechos:
Fala-se em sua volta. Onde o senhor vai estar em 2014?
Eu nem gosto de comentar este assunto. Faz dois anos e meio que deixei a presidência da República. Cumpri oito anos de Presidência. Se não fiz tudo, fiz muito do que achava que era preciso fazer. Temos de ter outras pessoas. A Dilma é uma excelente presidente da República. Conheço muita gente neste país. Conheço muito político neste País. E conheço pouquíssimas pessoas com a competência da Dilma. Portanto, ela será minha candidata em 2014. E eu serei seu cabo eleitoral. É isso que vai acontecer.
Como o senhor está vendo o Brasil? De repente, o índice de popularidade da presidente Dilma despencou.
Não é a presidenta. O terremoto que aconteceu no país pegou tudo. Pegou desde a imprensa, que estava perplexa e depois virou apoiadora do movimento, até o Congresso Nacional. Pegou todo mundo, os políticos, os prefeitos, como se fosse um vulcão em erupção. Quem estava ali na frente foi se queimando. (...) Acho que a Dilma deu um passo importante. Ela conversou com amplos setores da sociedade. Conversou com os sindicatos, com os partidos, com os jovens, com o Movimento Passe Livre. E, como Dilma é muito inteligente, ela certamente vai tomar as medidas que precisa tomar.
E o senhor também está tentando entender as novas mídias, não é verdade?
Mais do que entender, nós temos de nos preocupar e nos modernizar. O jeito de fazer política está mudando no mundo. Não é no Brasil. É no mundo. Hoje, as pessoas se comunicam sem pedir licença. Antigamente, na porta de uma empresa, eu tinha que conversar com o segurança para ver se deixavam entrar o carro de som. Hoje, milhares de jovens se comunicam, sentados no sofá, comendo batatinha. É um negócio fantástico. Onde isso vai parar no mundo eu não sei. O fato concreto é que a comunicação mudou. E nós temos de evoluir. De qualquer forma, sempre que a sociedade alerta é muito importante prestar atenção. A Dilma agiu rapidamente (...) Não sei se haverá grandes mudanças se a reforma política for feita pelos mesmos que estão hoje no Congresso (...)Muita gente prefere que fique do jeito que está.
Lula ainda aproveitou para mandar um recado aos jovens do "contra tudo e contra todos", que se declararam apartidários e atacaram os políticos de todas as latitudes:
"Quando achar que nenhum político presta e que todo mundo é ladrão, o jovem não deve desanimar. Em vez disso, ele tem de entrar na política. O político perfeito que ele quer pode estar dentro dele".
Além da entrevista com Lula, a revista traz também reflexões sobre o significado da volta do povo às ruas em artigos assinados por Almir Pazzianoto, Antônio Bivar, Antônio Risério, Juan Arias e Maria Vitória Benevides, entre outros.
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