Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Os jornais de quinta-feira [4/7] seguem produzindo a crônica da súbita vontade política que se apossou de Brasília depois das grandes manifestações do mês passado. Essa avassaladora vontade política está fazendo andar, por exemplo, a Proposta de Emenda à Constituição que elimina quase todas as hipóteses de voto secreto no Congresso.
No entanto, nem tudo é eficiência no Senado e na Câmara, e o noticiário explora a queda-de-braço entre o Parlamento e o Executivo, que resulta num boicote à proposta de submeter a reforma política à decisão direta da população. Cada vez mais se consolida, na imprensa, a interpretação segundo a qual a presidente da República agiu rápido demais, assumindo algumas das bandeiras das ruas, e, como é de seu temperamento, personalizou determinadas questões que a política de alianças tem transformado em longas negociações, quase sempre resolvidas com a sangria dos cofres públicos.
Então, arma-se o jogo no qual os líderes dos partidos fingem que concordam com as mudanças exigidas pela onda de manifestações enquanto, das sombras, mandam recados para a chefe do governo.
A imprensa parece, subitamente, ter perdido o apetite para influenciar a disputa e se limita a selecionar declarações. Há claramente um contingente de senadores e deputados que agem para reduzir ao mínimo possível as concessões às reivindicações da sociedade.
Ainda que as palavras de ordem tenham soado difusas e eventualmente contraditórias, há um núcleo fácil de identificar nos protestos: o que se quer é justamente a mudança nos procedimentos da política. Entre esses temas têm papel central a questão do financiamento de campanhas, a representatividade dos partidos, a profusão de cargos de suplente e as ações entre amigos escondidas sob votações secretas.
O problema do voto secreto está sendo encaminhado pelo próprio Congresso, que age como quem aceita entregar alguns anéis – de preferência a bijuteria do poder. Mas o ponto fundamental segue sendo objeto de enrolação.
E a imprensa tradicional, sempre cheia de adjetivos em outras questões, apenas registra o jogo de empurra.
Um novo modelo
Se os jornais não se empenham em cobrar uma aceleração do processo de reforma, é de se questionar por onde a sociedade irá se informar sobre o que anda acontecendo nos bastidores do poder. Os blogueiros independentes ainda não conseguiram formar um conjunto capaz de atrair grandes audiências e a agenda institucional segue dominada pelas corporações de mídia.
Durante a fase mais intensa das manifestações, iniciativas de estudantes, jornalistas e transeuntes permitiram acompanhar com detalhes o que acontecia nas ruas, suprindo as lacunas deixadas pela mídia tradicional, cujos representantes foram hostilizados por ativistas e agredidos pela polícia. Mas não se pode esperar que o jornalismo alternativo cubra com a mesma intensidade o jogo de sutilezas da política.
Durante os protestos, as emissoras de televisão foram obrigadas a encher seus noticiários com imagens feitas de helicópteros ou do alto dos edifícios, mas ao mesmo tempo colocaram nas ruas repórteres munidos de smartphones e pequenas câmeras para registrar os acontecimentos.
Coletivos de repórteres, como o do grupo Mídia NINJA, se destacaram por divulgar diretamente imagens das ruas, sem filtros e sem edição, o que permitiu desmascarar manipulações de algumas emissoras, como no caso da manifestação que ocorreu no domingo nas proximidades do estádio do Maracanã.
Embora, segundo a Folha de S. Paulo, a mídia tradicional tenha produzido o maior número de compartilhamentos nas redes sociais durante o período mais intenso das manifestações, é preciso registrar que uma proporção relevante dessas trocas era acompanhada por depoimentos de testemunhas que contestavam a versão dos fatos apresentada pelos jornais e emissoras de televisão.
Assim, ainda que a audiência seja massivamente dirigida ao mainstream da mídia tradicional, o fenômeno do jornalismo cooperativo ganha mais credibilidade, porque seus agentes atuam no meio da multidão, postando imediatamente as imagens e entrevistas, sem edição.
Essa “mídia sem filtro” tem como principal paradigma o movimento conhecido como NINJA – denominação para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação –, um coletivo de jornalistas, estudantes e outros profissionais que produzem documentários, reportagens e coberturas diretas de eventos que não estão necessariamente na pauta da imprensa tradicional.
O movimento, ainda recente, tem chamado a atenção de pesquisadores e representa um fenômeno a ser observado no contexto de mudanças trazidas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais.
No entanto, nem tudo é eficiência no Senado e na Câmara, e o noticiário explora a queda-de-braço entre o Parlamento e o Executivo, que resulta num boicote à proposta de submeter a reforma política à decisão direta da população. Cada vez mais se consolida, na imprensa, a interpretação segundo a qual a presidente da República agiu rápido demais, assumindo algumas das bandeiras das ruas, e, como é de seu temperamento, personalizou determinadas questões que a política de alianças tem transformado em longas negociações, quase sempre resolvidas com a sangria dos cofres públicos.
Então, arma-se o jogo no qual os líderes dos partidos fingem que concordam com as mudanças exigidas pela onda de manifestações enquanto, das sombras, mandam recados para a chefe do governo.
A imprensa parece, subitamente, ter perdido o apetite para influenciar a disputa e se limita a selecionar declarações. Há claramente um contingente de senadores e deputados que agem para reduzir ao mínimo possível as concessões às reivindicações da sociedade.
Ainda que as palavras de ordem tenham soado difusas e eventualmente contraditórias, há um núcleo fácil de identificar nos protestos: o que se quer é justamente a mudança nos procedimentos da política. Entre esses temas têm papel central a questão do financiamento de campanhas, a representatividade dos partidos, a profusão de cargos de suplente e as ações entre amigos escondidas sob votações secretas.
O problema do voto secreto está sendo encaminhado pelo próprio Congresso, que age como quem aceita entregar alguns anéis – de preferência a bijuteria do poder. Mas o ponto fundamental segue sendo objeto de enrolação.
E a imprensa tradicional, sempre cheia de adjetivos em outras questões, apenas registra o jogo de empurra.
Um novo modelo
Se os jornais não se empenham em cobrar uma aceleração do processo de reforma, é de se questionar por onde a sociedade irá se informar sobre o que anda acontecendo nos bastidores do poder. Os blogueiros independentes ainda não conseguiram formar um conjunto capaz de atrair grandes audiências e a agenda institucional segue dominada pelas corporações de mídia.
Durante a fase mais intensa das manifestações, iniciativas de estudantes, jornalistas e transeuntes permitiram acompanhar com detalhes o que acontecia nas ruas, suprindo as lacunas deixadas pela mídia tradicional, cujos representantes foram hostilizados por ativistas e agredidos pela polícia. Mas não se pode esperar que o jornalismo alternativo cubra com a mesma intensidade o jogo de sutilezas da política.
Durante os protestos, as emissoras de televisão foram obrigadas a encher seus noticiários com imagens feitas de helicópteros ou do alto dos edifícios, mas ao mesmo tempo colocaram nas ruas repórteres munidos de smartphones e pequenas câmeras para registrar os acontecimentos.
Coletivos de repórteres, como o do grupo Mídia NINJA, se destacaram por divulgar diretamente imagens das ruas, sem filtros e sem edição, o que permitiu desmascarar manipulações de algumas emissoras, como no caso da manifestação que ocorreu no domingo nas proximidades do estádio do Maracanã.
Embora, segundo a Folha de S. Paulo, a mídia tradicional tenha produzido o maior número de compartilhamentos nas redes sociais durante o período mais intenso das manifestações, é preciso registrar que uma proporção relevante dessas trocas era acompanhada por depoimentos de testemunhas que contestavam a versão dos fatos apresentada pelos jornais e emissoras de televisão.
Assim, ainda que a audiência seja massivamente dirigida ao mainstream da mídia tradicional, o fenômeno do jornalismo cooperativo ganha mais credibilidade, porque seus agentes atuam no meio da multidão, postando imediatamente as imagens e entrevistas, sem edição.
Essa “mídia sem filtro” tem como principal paradigma o movimento conhecido como NINJA – denominação para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação –, um coletivo de jornalistas, estudantes e outros profissionais que produzem documentários, reportagens e coberturas diretas de eventos que não estão necessariamente na pauta da imprensa tradicional.
O movimento, ainda recente, tem chamado a atenção de pesquisadores e representa um fenômeno a ser observado no contexto de mudanças trazidas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais.
1 comentários:
Este NINJA tem www? Ou preciso procurer o NINJA no youtube? Vivo fora do Brasil e padeço, pois não tenho outra opção de TV, somente a Globo.
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