Por Paulo Henrique Amorim, no blog Conversa Afiada:
Uma tem a ver com a outra.
Dilma chamou para a reunião Gleisi Hoffmann, da Casa Civil; Bernardo plim-plim e trim-trim, que não abriu a boca; Celso Amorim, da Defesa, presença-chave na questão; Zé Cardozo, que já teve clientes especializados em grampo; Fernando Pimentel, da Indústria; Marco Antonio Raupp, da Ciência e Tecnologia; Miriam Belchior, do Planejamento; o novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo; e Luiz Inácio Adams, Advogado Geral da União.
É revelador, não?
Ausência notável: não tinha ninguém da Abin …
Como se sabe, o que provocou a decisão de não ir a Washington foi saber que os Estados Unidos bisbilhotam o leilão de Libra – e, portanto, a Petrobras, ou seja, o sistema coronário da economia brasileira.
Até então, o grampo era tolerável.
Faz parte do jogo.
Spy vs spy.
Acontece que a Presidenta deu Golpe de Mestre diplomático.
Aproveitou a crise da Petrobras para demonstrar que não tira os sapatos.
Fala grosso com os americanos.
E mais do que isso.
Vai para a ONU defender uma internet democrática, neutra, que garanta a privacidade.
Assume uma bandeira que, até hoje, não se viu no cenário internacional.
Um tema atualíssimo, que mexe com a vida de todo mundo e a segurança das nações.
O não a Obama a conduziu ao pódio do plenário da Assembleia da ONU com mais autoridade.
Com uma nova proposta.
Sim, perguntará o amigo navegante: e a reunião com o Comitê Gestor e aquela poderosa plateia ?
É porque a Presidenta deve estar muito preocupada com a sua vulnerabilidade, a da Petrobras e a do cidadão brasileiro, portanto.
Além da vitória diplomática – só os colonistas de sempre verterão lágrimas de sangue, porque ela não vai acompanhar o espetáculo dos canhões que disparam bolas de artifício nos jardins da Casa Branca – só eles vão lamentar a sagaz decisão.
Além da vitória diplomática, ela aproveitou para fazer o dever de casa.
Que historia é essa de o sistema brasileiro de criptografia ser mais furado que queijo suíço?
Não existe essa história de “entrou na internet todo mundo te grampeia”, como disse um sábio na reunião.
Uma coisa é você deixar a janela da casa aberta.
Outra é fechar a janela.
Fica mais difícil para o ladrão entrar, não é isso ?, se pergunta o Sérgio Amadeu, representante do Terceiro Setor no Comitê Gestor, que esteve na reunião, trabalhou com o presidente Lula nessa área de internet, e deu uma entrevista ao Conversa Afiada, que, breve, estará no ar.
É possível que o sistema de criptografia que a Presidenta use dispense algumas soluções desenvolvidas internamente e prefira comprar no mercado.
E quem vende isso é americano, principalmente (sem desprezar os russos e os israelenses).
Não dá para a Presidenta usar o Windows, diz Amadeu.
Porque a National Security Agency entra nos sistemas através das empresas americanas, como o Windows e o Google: a partir das corporações americanas.
Invadir máquinas individuais ficaria mais difícil.
Durante o governo Lula, se descobriu que todo o sistema de proteção da comunicação dos governantes era comprado em empresas americanas.
Foi desenvolvido um sistema próprio, brasileiro, dentro do projeto “João de Barro”, a partir do Palácio do Planalto, da Marinha, do ITA, do Laboratório de Sistemas Integráveis, da USP, da Universidade Federal de Santa Catarina e da UNB.
E o “João de Barro” criou uma plataforma genuinamente nacional.
À qual, segundo Amadeu, a NSA não tem acesso.
O desafio, hoje, segundo Amadeu, é saber até que ponto o “João de Barro” é usado.
Até que ponto ele ainda é seguro.
Porque há níveis de privacidade e proteção.
E tentar descobrir diferentes plataformas para diferentes tipos de necessidades.
Segundo Amadeu, o ministro da Defesa, Celso Amorim, revelou-se, na reunião, o mais interessado no tema e vai voltar a conversar com o pessoal do Comitê Gestor.
Porque eles do Comitê ofereceram, sim, na reunião, sugerir ao Governo propostas para enfrentar o grampo americano.
Dilma transformou um impasse político num instrumento para reequipar a Segurança do Governo Central.
O ansioso blogueiro espera, como se sabe, que a Dilma possa fazer com a nova embaixadora americana o que a nova embaixadora americana pretende fazer com ela.
Espionar.
Porque é assim que os países sérios funcionam.
Nos tempos sombrios do Farol de Alexandria, a Carta Capital mostrou à balda que o FBI e a CIA trafegavam em Brasília com mais desenvoltura do que os deputados que se venderam na reeleição do Príncipe da Privataria .
Mas, naquele tempo, o Brasil não era sério.
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