A eleição do presidente Hassan Rohani, na República Islâmica do Irã, foi recebida como um ponto de virada, ou apenas como um fio de “esperança” pela “moderação” com que se classifica a postura do novo chefe de Estado. A mídia internacional, analistas políticos e acadêmicos de vários foros preconizam uma melhoria das relações entre o país persa e os Estados Unidos, que, contudo, relutam em deixar de lado o tom ameaçador.
O editorial do portal iraniano HispanTV suplanta o otimismo cauteloso que até a mídia estadunidense e, surpreendentemente, a israelense têm se deixado transmitir. A expectativa é a da “reconciliação política” entre o Irã e os Estados Unidos, que desde 1979 aplicam sanções restabelecidas e expandidas quase anualmente contra os persas.
O ano foi o da Revolução Islâmica, que abalou o investimento político norte-americano no regime autocrático até então vigente naquele país de grande importância geoestratégica e de posição e contexto de imenso interesse para os Estados Unidos, como reafirmado pelo próprio presidente estadunidense Barack Obama, em seu discurso petulante e imperialista na Assembleia Geral da ONU.
Rohani já demonstrou a sua disposição para a melhoria das relações com os membros da ONU e, especificamente, com os EUA. Isso não significa, porém, a concessão frente aos direitos do país persa de seguir desenvolvendo o seu programa nuclear, com fins civis (medicinais e energéticos), embora esta seja a principal fonte de pretextos para as potências ocidentais manterem e expandirem sanções econômicas, comerciais e financeiras contra o Irã.
Entre as sanções estão medidas contra o comércio e a produção de petróleo, uma das principais fontes de receita deste país do Golfo Pérsico, e também contra as transações do seu sistema bancário. Em nível mundial, as sanções ganharam força quando passaram a ser aplicadas, através de resoluções, pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2006, e depois pela União Europeia (UE).
O estatuto de membro da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), de signatário do Tratado de Não Proliferação (desde a década de 1970, enquanto os EUA e vizinhos hostis como Israel ainda hoje não ratificaram o tratado) e o decreto religioso (fatwa) que proíbe o desenvolvimento de armas nucleares no país são recursos ressaltados há anos pelo governo persa para defender-se das acusações sobre uma pretensão belicista, em vão. O Irã proclama ser contrário às armas de destruição em massa.
Pressionados por Israel, que se percebe como o principal alvo do imaginário programa nuclear armamentista iraniano, e com investimento em seus próprios interesses políticos e geoestratégicos, os EUA, como de costume, mantêm acusações e ameaças contra o país persa. Entretanto, a eleição e a demonstração de comprometimento diplomático de Rohani têm reduzido o tom da retórica agressora e dado espaço às expressões de otimismo sobre uma aproximação entre os dois países, possibilidade à qual Israel assiste atônito.
Os EUA declararam disposição a retomar relações diplomáticas com o país, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, também reiterou um compromisso com as negociações com o Irã sobre o seu programa nuclear, no contexto das conversações entre o país e o Grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, França, Inglaterra, China e Reino Unido, membros do Conselho de Segurança, mais a Alemanha).
Além disso, no discurso que fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, nesta semana, Rohani reiterou que seu país não apresenta qualquer ameaça à paz, mas não deixou de criticar a “propaganda” contra o Islã e contra o Irã como “novas ameaças à estabilidade mundial e à segurança do ser humano”.
O presidente caracterizou as sanções impostas ao seu país como símbolos da violência que afeta o seu povo diretamente, mas suas declarações foram rechaçadas por Israel, cujo governo chegou a chamar Rohani de “cínico” e “hipócrita”, em uma demonstração clara de falta de disposição para qualquer diálogo político, ou para a diplomacia.
Ainda assim, o processo de reaproximação e as previsões de um encontro bilateral continuam sendo acompanhados com otimismo, embora a possibilidade de uma reunião entre os presidentes iraniano e estadunidense, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York, tenha sido deixada de lado.
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