Os principais jornais de circulação nacional formam na terça-feira (7/1) um mosaico interessante para quem ainda tenta encontrar sinais de objetividade na imprensa brasileira. A decretação da prisão do deputado petista João Paulo Cunha está em todas as primeiras páginas, assim como o rescaldo de controvérsia provocada pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, ao criticar a organização da Copa do Mundo no Brasil, e um balanço sobre a crise no sistema penitenciário do Maranhão.
A divulgação de declarações feitas em agosto do ano passado pelo presidente da Fifa, em conversa particular com o técnico da seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari, seguida do contraponto feito pela presidente da República, mostra como os jornais estão sempre atentos à chance de veicular comentários desfavoráveis ao Brasil – mesmo que tenham sido produzidos em outra circunstância, como o contexto das manifestações de protesto que ocorriam naquela ocasião. Além disso, a imprensa coloca em níveis iguais o dirigente de uma entidade privada de futebol e a chefe do governo, aplainando o debate e jogando com aspectos depreciativos em relação ao Brasil.
O caso do deputado federal é apenas mais um desdobramento da Ação Penal 470, cujos detalhes são costumeiramente destacados pelos jornais. Já o acompanhamento da crise nos presídios do Maranhão deveria merecer um esforço jornalístico maior. Afinal, qual seria o elemento essencial para explicar a degradação da vida naquele estado, enquanto todo o resto do Brasil – principalmente as regiões Nordeste e Norte –, passa por um período inédito de desenvolvimento?
A imprensa aponta para o sobrenome Sarney, que domina a política no estado desde 1966, mas está devendo uma reportagem de fundo sobre por que isso acontece no Maranhão. O estado detém os piores índices de desenvolvimento humano entre as regiões brasileiras, concentra o maior número de adultos analfabetos, apresenta um dos maiores desníveis de renda e acaba de ganhar o topo das estatísticas de violência. A crise nos presídios, com mais de 60 assassinados no ano passado, é a joia da coroa, produzindo imagens chocantes, algumas das quais a Folha de S. Paulo publica na terça-feira (7/1), com destaque na primeira página.
Dois olhares diferentes
No noticiário econômico, o leitor mais atento vai observar que a expectativa da nota a ser dada ao Brasil pelas agências de avaliação de riscos foi reduzida, caindo do alto da primeira página para um registro abaixo da dobra dos jornais: é que a agência Moody’s, segundo o Estado de S.Paulo, decidiu manter a economia brasileira na mesma classificação anterior, frustrando as profecias negativas da imprensa. Se a agência tivesse anunciado a piora do risco Brasil, seria manchete?
Na Folha de S.Paulo, reportagem de quase uma página inteira (ver aqui) registra que o otimismo das empresas brasileiras sofreu uma grande queda em 2013, de acordo com pesquisa da consultoria norte-americana Grant Thornton. Um articulista da própria Folha nota que a situação econômica é vista no Brasil por duas lentes opostas: no chamado andar de cima, os ricos estão pessimistas, mas no andar de baixo os pobres e remediados parecem bem contentes.
Como somente as pessoas de renda mais alta leem jornais como a Folha, o Estado e o Globo, um raciocínio apressado pode induzir o observador a concluir que a visão negativa do Brasil é estimulada pela imprensa.
Mas o que fazer, então, com relação ao noticiário do principal jornal de economia do Brasil, Valor Econômico, que não costuma ser tão catastrofista quanto a chamada imprensa genérica?
Na segunda-feira (6/1), por exemplo, a manchete do Valor anunciava o crescimento da porcentagem de investidores estrangeiros na Bolsa de Valores do Brasil, que já respondem por metade do volume de transações.
Também na contramão do noticiário geral da imprensa brasileira, a revista semanal Bloomberg Newsweek chama atenção para o fato de que o Brasil, nos anos recentes, priorizou a mobilidade social. O texto da publicação americana (ver aqui, em inglês) compara o empresário Eike Batista com a dona de casa Luzia Souza, moradora em Teresina, Piauí, que acaba de conquistar sua casa própria. Segundo a Newsweek, Luzia Souza é parte dos 22 milhões de brasileiros que saíram da pobreza extrema durante o atual governo. A revista estrangeira destaca a redução da desigualdade social como resultado das escolhas governamentais.
A imprensa brasileira tende a enxergar os números mais sombrios da economia.
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