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A Folha de S. Paulo divulga na edição de quinta-feira (27/3) parte do resultado do mais recente relatório do Centro de Pesquisas Pew sobre o “Estado da Mídia” nos Estados Unidos. O jornal paulista destaca o fato de que os veículos originários da mídia impressa ainda recebem a maior parcela (61%) da receita destinada pela publicidade aos meios noticiosos americanos. Os telejornais de emissoras locais e de TV a cabo ficam com 14,1% do bolo publicitário e apenas 2,1% vão para os noticiários nacionais em TV aberta.
Paralelamente, o relatório destaca a evolução dos veículos nascidos na era digital, cujas redações crescem e começam a ampliar sua influência internacional. O exemplo mais próximo dos brasileiros seria, no caso, a chegada do Huffington Post, que se associou ao grupo Abril para lançar seu conteúdo em português (ver aqui). O estudo conclui que a chamada imprensa tradicional ainda respira, pelo menos nos Estados Unidos, mas está longe de alcançar um sistema de captação de receita capaz de assegurar sua sobrevivência no longo prazo.
A questão específica do modelo de negócio vem sendo estudada há anos por especialistas e profissionais experientes, como explica Caio Túlio Costa em entrevista reproduzida neste Observatório (ver aqui). No entanto, há outras questões que não são captadas na pesquisa anual do Centro Pew sobre a imprensa americana e que afetam de maneiras diversas os mercados específicos.
Uma delas é, certamente, o grau de diversidade que os veículos de alcance nacional oferecem à sociedade. Nos Estados Unidos e na Europa, embora predomine uma imprensa conservadora, há muito mais alternativas para os que pensam de maneira diversa. No Brasil, a predominância de três diários e duas revistas semanais como principais captadores de verba publicitária destinada a veículos da chamada imprensa de papel ocorre num contexto em que eles funcionam praticamente como um único título, dada a homogeneidade de suas opiniões sobre política e economia e do recorte ideológico que representam.
Isso define em boa parte a resistência de seus dirigentes a adotar projetos realmente inovadores e sua preferência por contratar consultorias igualmente conservadoras.
Jornalismo e imprensa
Na análise sobre alternativas disponíveis para a mídia jornalística tradicional, Caio Túlio Costa observa que talvez seja necessário dar vazão ao complexo de Édipo, ou conforme a preferência do observador, ao complexo de Electra, ou seja, para sobreviver na era digital, os títulos clássicos da mídia noticiosa nascida no papel teriam que matar sua própria empresa-mãe.
Um exemplo desse processo pode ser observado no grupo Folha, onde o portal UOL se consolida progressivamente como a locomotiva, enquanto a versão de papel perde público.
No Brasil, há uma enorme complexidade de desafios a serem enfrentados, entre os quais a dificuldade de monitorar os hábitos voláteis dos brasileiros mais jovens, que não incluem entre suas prioridades a leitura de notícias da forma como são tradicionalmente organizadas pela imprensa.
Deve-se levar em conta um processo de mudança no traçado demográfico e de renda da sociedade brasileira, que altera a distribuição da população segundo as faixas etárias, revelando um maior protagonismo dos jovens e de famílias resgatadas recentemente da pobreza. Contraditoriamente, o modelo econômico adotado pelo governo que a imprensa ama detestar tem assegurado a receita publicitária capaz de amenizar a queda no número de leitores.
Claramente, a política econômica adotada há dez anos, com foco na criação de um mercado interno dinâmico, é a responsável pela profusão de anúncios que sustentam os jornais. O crescimento de uma nova classe de renda média, produzido por políticas sociais que a imprensa sempre condenou, estimula a concorrência no comércio, na indústria automotiva, na construção civil e em outros setores ligados ao consumo, alimentando os cofres das empresas jornalísticas.
Essa constatação induz a uma discussão paralela e fundamental sobre a necessidade de separar os conceitos de imprensa e jornalismo. Nesse sentido, há um aspecto crucial a ser encarado pelas redações: a quase irresistível tentação da imprensa em agir contra seus próprios interesses.
Para simplificar, mas longe de esgotar esse filão, basta observar que a insistência dos jornais em produzir um clima de pessimismo na economia atenta contra o dinamismo do mercado que sustenta a própria mídia.
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