Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:
Matéria do Estadão, ontem à tarde e, hoje, na página 16.
Principais represas do Cantareira ficam com menos de 10% de sua capacidade
Um trabalho corretíssimo dos repórteres Fábio Leite e Ricardo Brant que mostra aquilo que há dias este Tijolaço afirma: o sistema Cantareira não pode entrar em colapso, ele já está em colapso irreversível.
Seus principais reservatórios, o Jaguari-Jacareí – 82% da capacidade total, tinham ontem 9,92% de água. Hoje cedo eram 9,73%. Amanhã, 9,5%. Não é adivinhação, são os exatos 1,5 bilhão de litros de déficit entre o que entra e o que sai deles. Um pouco mais, um pouco menos, graças á chuva benfazeja que vem caindo sobre São Paulo.
Mas que não sustentam nem mesmo o consumo diário.
Fábio e Ricardo revelam que Geraldo Alckmin não vai reconhecer o óbvio: que a a água precisa ser minimamente racionada para que o abastecimento de São Paulo não fique irremediavelmente comprometido.
Ele sabe que o Cantareira, como sistema, não tem mais que um mês ou poucos dias mais que isso – salvo por chuvas torrenciais, porque não bastam nem chuvas fortes – e subscreveu um plano completamente insano de “saída” desta situação que, nos seus cálculos, vai evitar o desgaste eleitoral do racionamento.
Porque com 5% de água Cantareira já não será um sistema, com capacidade de transferir água e otimizar seu aproveitamento.
E este limite está perigosamente próximo nas maiores barragens. Exatos 38,2 bilhões de litros, ou 25 dias de consumo em ritmo atual.
Daí em diante, Jaguari-Jacareí param de mandar água para os demais reservatórios, que têm mais 50 bilhões de litros de água útil, ou pouco menos, porque a represa “do meio”, Cachoeira, não pode ser usada até seu limite, porque a ela cabe transferir, apenas por gravidade, a água que um imenso conjunto de bombas de sucção, que custaram R$ 80 milhões, tire água “morta” do Jaguari-Jacareí ( 239 bilhões de litros de água e lama, dos quais talvez menos da metade consiga ser bombeada, porque grande parte vai ficar presa em pequenas lagos, pela extensão do reservatório) e, sobretudo, do Atibainha, que é um funil estreito, com 25 metros de profundidade abaixo do nível mínimo, do qual podem sair cerca de seis metros de nível até atingir a saída de água para o Rio Piracicaba, alimentado também pelo Jaguari.
Com esta água, no limite, Alckmin foi convencido de que chega até as eleições.
Pode mesmo chegar, no limite, se o período de seca não for padrasto. Como pode não chegar e lançar a maior cidade do continente e centro da economia brasileira num completo caos.
Uma coisa ou outra com consequências estruturais terríveis para o Cantareira, desastre ambiental em toda a extensão da bacia do Piracicaba e risco elevadíssimo de contaminação, seja pela formação de bolsões d´água parada no Jaguari-Jacareí, seja porque o fundo do Atibainha é um enigma.
Depois? Depois é depois, como no 1 real=1 dólar de FHC
Mesmo assim, com este extenso material e dados que indicam toda a seriedade da situação, o Estadão teu apenas uma chamada microscópica na primeira página.
A Folha, que deu na sua versão online o mesmo alerta, embora de forma menos completa, no trabalho do repórter Lucas Sampaio, nem isso.
Deu chamadinha para a cheia em Rondônia e 20 vezes mais espaço para o avião da Malásia.
No início da minha carreira, aprendi como o lendário Raul Azêdo, que “um fusca que cai no Canal do Mangue (no centro do Rio) é mais importante que um boeing que cai no Japão.”, um chiste para mostrar como a proximidade com os problemas e a vida do leitor é a régua do jornalismo.
Nos jornais de São Paulo, por cegueira para com o trabalho de seus profissionais ou por cumplicidade política com o PSDB, seus diretores e editores não dão a menor bola para a vida de quem os lê.
Matéria do Estadão, ontem à tarde e, hoje, na página 16.
Principais represas do Cantareira ficam com menos de 10% de sua capacidade
Um trabalho corretíssimo dos repórteres Fábio Leite e Ricardo Brant que mostra aquilo que há dias este Tijolaço afirma: o sistema Cantareira não pode entrar em colapso, ele já está em colapso irreversível.
Seus principais reservatórios, o Jaguari-Jacareí – 82% da capacidade total, tinham ontem 9,92% de água. Hoje cedo eram 9,73%. Amanhã, 9,5%. Não é adivinhação, são os exatos 1,5 bilhão de litros de déficit entre o que entra e o que sai deles. Um pouco mais, um pouco menos, graças á chuva benfazeja que vem caindo sobre São Paulo.
Mas que não sustentam nem mesmo o consumo diário.
Fábio e Ricardo revelam que Geraldo Alckmin não vai reconhecer o óbvio: que a a água precisa ser minimamente racionada para que o abastecimento de São Paulo não fique irremediavelmente comprometido.
Ele sabe que o Cantareira, como sistema, não tem mais que um mês ou poucos dias mais que isso – salvo por chuvas torrenciais, porque não bastam nem chuvas fortes – e subscreveu um plano completamente insano de “saída” desta situação que, nos seus cálculos, vai evitar o desgaste eleitoral do racionamento.
Porque com 5% de água Cantareira já não será um sistema, com capacidade de transferir água e otimizar seu aproveitamento.
E este limite está perigosamente próximo nas maiores barragens. Exatos 38,2 bilhões de litros, ou 25 dias de consumo em ritmo atual.
Daí em diante, Jaguari-Jacareí param de mandar água para os demais reservatórios, que têm mais 50 bilhões de litros de água útil, ou pouco menos, porque a represa “do meio”, Cachoeira, não pode ser usada até seu limite, porque a ela cabe transferir, apenas por gravidade, a água que um imenso conjunto de bombas de sucção, que custaram R$ 80 milhões, tire água “morta” do Jaguari-Jacareí ( 239 bilhões de litros de água e lama, dos quais talvez menos da metade consiga ser bombeada, porque grande parte vai ficar presa em pequenas lagos, pela extensão do reservatório) e, sobretudo, do Atibainha, que é um funil estreito, com 25 metros de profundidade abaixo do nível mínimo, do qual podem sair cerca de seis metros de nível até atingir a saída de água para o Rio Piracicaba, alimentado também pelo Jaguari.
Com esta água, no limite, Alckmin foi convencido de que chega até as eleições.
Pode mesmo chegar, no limite, se o período de seca não for padrasto. Como pode não chegar e lançar a maior cidade do continente e centro da economia brasileira num completo caos.
Uma coisa ou outra com consequências estruturais terríveis para o Cantareira, desastre ambiental em toda a extensão da bacia do Piracicaba e risco elevadíssimo de contaminação, seja pela formação de bolsões d´água parada no Jaguari-Jacareí, seja porque o fundo do Atibainha é um enigma.
Depois? Depois é depois, como no 1 real=1 dólar de FHC
Mesmo assim, com este extenso material e dados que indicam toda a seriedade da situação, o Estadão teu apenas uma chamada microscópica na primeira página.
A Folha, que deu na sua versão online o mesmo alerta, embora de forma menos completa, no trabalho do repórter Lucas Sampaio, nem isso.
Deu chamadinha para a cheia em Rondônia e 20 vezes mais espaço para o avião da Malásia.
No início da minha carreira, aprendi como o lendário Raul Azêdo, que “um fusca que cai no Canal do Mangue (no centro do Rio) é mais importante que um boeing que cai no Japão.”, um chiste para mostrar como a proximidade com os problemas e a vida do leitor é a régua do jornalismo.
Nos jornais de São Paulo, por cegueira para com o trabalho de seus profissionais ou por cumplicidade política com o PSDB, seus diretores e editores não dão a menor bola para a vida de quem os lê.
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