Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo:
Almocei com um amigo jornalista um dia desses e ele colocou na conversa, por uma fração de minuto, Eduardo Giannetti, o principal economista de Marina.
“Lembra que ele não declarava o voto e você ficava bravo com isso?”
Meu amigo se referia aos dias em que nós dois dirigíamos a Exame, coisa de uns quinze anos atrás.
Tinha esquecido.
Mas logo lembrei: Giannetti, como se fosse jornalista da Folha, nos dissera, numa entrevista, que não podia declarar seu voto.
Para mim, ali estava uma mistura de pretensão – como se o voto dele fosse influenciar multidões – e medo de se comprometer.
Naqueles dias, Giannetti era um típico economista ortodoxo, mais um entre tantos filhos de Thatcher.
Não havia nada de substancial nele que o distinguisse de outros da mesma linhagem, como André Lara Resende e Armínio Fraga.
Por tudo isso, não fiquei surpreso quando, agora, encontrei no Twitter uma entrevista de 2003 à revista Época na qual ele apoiou a Guerra do Iraque.
Sim, aquela guerra de Bush e Blair que, sob argumentos que o tempo comprovaria serem mentirosos, transformou o Iraque em escombros e custou a vida de milhares de iraquianos, incluídas tantas crianças.
Não é uma guerra pelo petróleo, afirmou Giannetti.
“Eu consigo entender o argumento moral de quem defende a guerra”, disse ele.
O entrevistador trouxe ao debate a questão dos Estados Unidos como única superpotência.
“Por mais restrições que tenhamos aos americanos, eles exercem a condição de superpotência militar com razoável autocontrole, sem excessos (…). É uma sorte para a humanidade.”
“Uma sorte para a humanidade”?
Talvez para Giannetti, mas para os iraquianos, os afegãos, os iranianos, os paquistaneses etc?
Eles devem agradecer os drones, por exemplo, os aviões teleguiados que matam civis em quantidade copiosa?
Ali, naquela entrevista, estava a alma de Giannetti, sua visão de mundo americanófila, sua fé nos bons propósitos dos Estados Unidos.
No próprio Brasil, segundo essa linha de pensamento, talvez devêssemos ser gratos aos americanos por terem nos livrado, em 1964, da ameaça dos comunistas e nos haverem permitido desfrutar das belezas da ditadura militar.
Terá Giannetti mudado nestes onze anos desde que concedeu aquela entrevista?
O que ele diria agora da Guerra do Iraque?
Não sei. Talvez devessem perguntar essas coisas a ele, ou a Marina.
Também não me surpreendeu, pelo que lembrava dele de meus dias de Exame, o que ele disse numa entrevista nestes dias ao Valor.
Giannetti condicionou os compromissos de Marina em áreas como saúde e educação ao “equilíbrio fiscal”.
Quer dizer: se houver dinheiro, os compromissos serão honrados. Se não houver, serão engavetados. Os eleitores? Esqueçamos.
Esse tipo de compromisso é o melhor que qualquer ser humano pode assumir. Você promete o que quiser. E só entrega se puder.
Marina fala na “nova política”. Giannetti parece nos trazer o “novo orçamento”.
Marina conhece mesmo Giannetti além das superficialidades?
Se não, cometeu um erro extraordinário na escolha.
Se sim, a mudança principal que ela representa é o lado que ela agora defende.
“Lembra que ele não declarava o voto e você ficava bravo com isso?”
Meu amigo se referia aos dias em que nós dois dirigíamos a Exame, coisa de uns quinze anos atrás.
Tinha esquecido.
Mas logo lembrei: Giannetti, como se fosse jornalista da Folha, nos dissera, numa entrevista, que não podia declarar seu voto.
Para mim, ali estava uma mistura de pretensão – como se o voto dele fosse influenciar multidões – e medo de se comprometer.
Naqueles dias, Giannetti era um típico economista ortodoxo, mais um entre tantos filhos de Thatcher.
Não havia nada de substancial nele que o distinguisse de outros da mesma linhagem, como André Lara Resende e Armínio Fraga.
Por tudo isso, não fiquei surpreso quando, agora, encontrei no Twitter uma entrevista de 2003 à revista Época na qual ele apoiou a Guerra do Iraque.
Sim, aquela guerra de Bush e Blair que, sob argumentos que o tempo comprovaria serem mentirosos, transformou o Iraque em escombros e custou a vida de milhares de iraquianos, incluídas tantas crianças.
Não é uma guerra pelo petróleo, afirmou Giannetti.
“Eu consigo entender o argumento moral de quem defende a guerra”, disse ele.
O entrevistador trouxe ao debate a questão dos Estados Unidos como única superpotência.
“Por mais restrições que tenhamos aos americanos, eles exercem a condição de superpotência militar com razoável autocontrole, sem excessos (…). É uma sorte para a humanidade.”
“Uma sorte para a humanidade”?
Talvez para Giannetti, mas para os iraquianos, os afegãos, os iranianos, os paquistaneses etc?
Eles devem agradecer os drones, por exemplo, os aviões teleguiados que matam civis em quantidade copiosa?
Ali, naquela entrevista, estava a alma de Giannetti, sua visão de mundo americanófila, sua fé nos bons propósitos dos Estados Unidos.
No próprio Brasil, segundo essa linha de pensamento, talvez devêssemos ser gratos aos americanos por terem nos livrado, em 1964, da ameaça dos comunistas e nos haverem permitido desfrutar das belezas da ditadura militar.
Terá Giannetti mudado nestes onze anos desde que concedeu aquela entrevista?
O que ele diria agora da Guerra do Iraque?
Não sei. Talvez devessem perguntar essas coisas a ele, ou a Marina.
Também não me surpreendeu, pelo que lembrava dele de meus dias de Exame, o que ele disse numa entrevista nestes dias ao Valor.
Giannetti condicionou os compromissos de Marina em áreas como saúde e educação ao “equilíbrio fiscal”.
Quer dizer: se houver dinheiro, os compromissos serão honrados. Se não houver, serão engavetados. Os eleitores? Esqueçamos.
Esse tipo de compromisso é o melhor que qualquer ser humano pode assumir. Você promete o que quiser. E só entrega se puder.
Marina fala na “nova política”. Giannetti parece nos trazer o “novo orçamento”.
Marina conhece mesmo Giannetti além das superficialidades?
Se não, cometeu um erro extraordinário na escolha.
Se sim, a mudança principal que ela representa é o lado que ela agora defende.
1 comentários:
Marina garante: irei governar com os melhores. E agora?
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