Por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:
Já se disse neste Observatório que não existe mais uma relação orgânica entre imprensa e jornalismo no Brasil. Alguns comentaristas que se manifestam sobre os temas propostos pelo observador neste espaço, entre eles acadêmicos portadores de currículos respeitáveis, consideram exagerada, ou no mínimo controversa essa afirmação. Mas a ruptura entre a mídia tradicional, como instituição, e o jornalismo, como atividade socialmente relevante no equilíbrio entre as forças que atuam no espaço público, fica mais evidente conforme se intensifica a disputa eleitoral. É neste período que os principais protagonistas da instituição conhecida como imprensa extrapolam de suas funções mais nobres para atuar como agentes de propaganda a serviço de determinada pauta política.
Como na frase de um antigo assessor do ex-presidente americano Bill Clinton, trata-se, como sempre, da economia: por trás de toda controvérsia abrigada pelos jornais, pode-se notar a linha d’água da questão crucial que ainda divide o mundo das ideias, grosseiramente, entre esquerda e direita. Trata-se de um embate mais próximo do pensamento religioso do que da racionalidade.
Acontece que essa matriz dicotômica não dá conta de iluminar as questões da complexa realidade contemporânea. Assim como as planilhas de uma pesquisa de opinião, por mais extensas e detalhadas que sejam, não conseguem abarcar as sutilezas que demarcam as variáveis individuais, a informação mediada passa longe de retratar a diversidade de interpretações possíveis para cada evento.
A origem dessa complexidade é facilmente identificável: quanto maior o protagonismo dos indivíduos, estimulado pela cultura de massas e facilitado pelas tecnologias de informação e comunicação, maior o peso das individualidades sobre o coletivo.
Tomemos, por exemplo, o caso da Petrobras, que frequenta o noticiário a bordo de uma sucessão de notícias sobre desvios de recursos, fraudes e supostos erros de gestão. Não há como escapar ao fato de que toda a celeuma em torno da estatal brasileira de petróleo tem como núcleo a divergência central grosseiramente delimitada entre direita e esquerda. Isolada a questão da corrupção, fenômeno histórico, o que alimenta o debate é a divergência ideológica.
A ruptura
Desde os comentários em programas noticiosos do rádio e da televisão até os artigos de economistas e jornalistas especializados, passando pelos editoriais que procuram conduzir a opinião do leitor para determinado viés, todas as manifestações credenciadas pela imprensa brasileira sobre a Petrobras carregam uma alta dose de aversão ao controle da estatal pelo... Estado.
Paralelamente ao noticiário – necessário e coerente com o papel da imprensa - sobre erros, fraudes, crimes e outros desvios na gestão da empresa, o que se critica, realmente, é a estratégia de gestão. Dizem comentaristas da mídia tradicional que o governo atual prejudica a Petrobras ao definir uma estratégia que a coloca como um dos instrumentos da política econômica.
Ora, se a aliança política que governa o país foi eleita há doze anos para conduzir um projeto de governo que se propõe a reduzir as diferenças de renda, ainda que eventualmente contrariando a doutrina do livre mercado, e o eleitorado tem renovado seus mandatos, não há como questionar a legitimidade de suas ações quando elas são coerentes com o compromisso anunciado.
A Petrobras, assim como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e todos os ativos do Estado são instrumentalizados para a realização desse propósito. Essa escolha permitiu, há cinco anos, que o governo utilizasse os bancos oficiais para manter a oferta de crédito, quando a crise surgida no sistema financeiro dos Estados Unidos quebrou a capacidade dos bancos privados de financiar atividades econômicas essenciais.
Sob essa estratégia, a Petrobras não apenas reduz a dependência nacional de insumos fundamentais para o dia a dia do país – também atua como fator de moderação de preços. Submetida aos caprichos do mercado, ela serviria apenas aos investidores da bolsa de ações e títulos – que, aliás, durante os anos anteriores se valeram de muita manipulação para fazer lucros da noite para o dia.
Essa é apenas uma das muitas complexidades que a mídia tradicional não penetra, nas intervenções diárias que protagoniza no debate eleitoral.
Por quê? Porque não existe mais a relação orgânica entre imprensa e jornalismo no Brasil.
Como na frase de um antigo assessor do ex-presidente americano Bill Clinton, trata-se, como sempre, da economia: por trás de toda controvérsia abrigada pelos jornais, pode-se notar a linha d’água da questão crucial que ainda divide o mundo das ideias, grosseiramente, entre esquerda e direita. Trata-se de um embate mais próximo do pensamento religioso do que da racionalidade.
Acontece que essa matriz dicotômica não dá conta de iluminar as questões da complexa realidade contemporânea. Assim como as planilhas de uma pesquisa de opinião, por mais extensas e detalhadas que sejam, não conseguem abarcar as sutilezas que demarcam as variáveis individuais, a informação mediada passa longe de retratar a diversidade de interpretações possíveis para cada evento.
A origem dessa complexidade é facilmente identificável: quanto maior o protagonismo dos indivíduos, estimulado pela cultura de massas e facilitado pelas tecnologias de informação e comunicação, maior o peso das individualidades sobre o coletivo.
Tomemos, por exemplo, o caso da Petrobras, que frequenta o noticiário a bordo de uma sucessão de notícias sobre desvios de recursos, fraudes e supostos erros de gestão. Não há como escapar ao fato de que toda a celeuma em torno da estatal brasileira de petróleo tem como núcleo a divergência central grosseiramente delimitada entre direita e esquerda. Isolada a questão da corrupção, fenômeno histórico, o que alimenta o debate é a divergência ideológica.
A ruptura
Desde os comentários em programas noticiosos do rádio e da televisão até os artigos de economistas e jornalistas especializados, passando pelos editoriais que procuram conduzir a opinião do leitor para determinado viés, todas as manifestações credenciadas pela imprensa brasileira sobre a Petrobras carregam uma alta dose de aversão ao controle da estatal pelo... Estado.
Paralelamente ao noticiário – necessário e coerente com o papel da imprensa - sobre erros, fraudes, crimes e outros desvios na gestão da empresa, o que se critica, realmente, é a estratégia de gestão. Dizem comentaristas da mídia tradicional que o governo atual prejudica a Petrobras ao definir uma estratégia que a coloca como um dos instrumentos da política econômica.
Ora, se a aliança política que governa o país foi eleita há doze anos para conduzir um projeto de governo que se propõe a reduzir as diferenças de renda, ainda que eventualmente contrariando a doutrina do livre mercado, e o eleitorado tem renovado seus mandatos, não há como questionar a legitimidade de suas ações quando elas são coerentes com o compromisso anunciado.
A Petrobras, assim como o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e todos os ativos do Estado são instrumentalizados para a realização desse propósito. Essa escolha permitiu, há cinco anos, que o governo utilizasse os bancos oficiais para manter a oferta de crédito, quando a crise surgida no sistema financeiro dos Estados Unidos quebrou a capacidade dos bancos privados de financiar atividades econômicas essenciais.
Sob essa estratégia, a Petrobras não apenas reduz a dependência nacional de insumos fundamentais para o dia a dia do país – também atua como fator de moderação de preços. Submetida aos caprichos do mercado, ela serviria apenas aos investidores da bolsa de ações e títulos – que, aliás, durante os anos anteriores se valeram de muita manipulação para fazer lucros da noite para o dia.
Essa é apenas uma das muitas complexidades que a mídia tradicional não penetra, nas intervenções diárias que protagoniza no debate eleitoral.
Por quê? Porque não existe mais a relação orgânica entre imprensa e jornalismo no Brasil.
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