domingo, 9 de novembro de 2014

Aécio tem razões para espernear

Por Fernando Borgonovi, no site Vermelho:

Fosse apenas à estrepitosa recepção na entrada do Senado, quando Aécio Neves foi aclamado por uma multidão de uma centena de funcionários comissionados, e tudo estaria bem, relevar-se-ia. Afinal, é mais do que comum em nossos costumes políticos o derrotado armar um teatro para figurar o papel de vencedor.

Mas, não, o ridículo não encontra limites – e, no caso do PSDB, quando encontra, este corajosamente o transpõe. O segundo ato, ainda em encenação, nos reserva coisas mais deploráveis que o anterior.

O palavrório vazio do ex-presidenciável, em entrevista e na tribuna do Senado, por exemplo, só pode servir a dois propósitos.

O primeiro, pessoal, está evidente: aproveitar os holofotes do momento pós-campanha para manter-se como líder da oposição. E é mesmo de se esperar que lute para alongar ao máximo este período de mídia espontânea, já que nada leva a crer – dada sua preguiçosa e opaca atuação nos quatro anos anteriores – que o lugar ora conquistado esteja garantido até a próxima disputa.

Afinal, se é verdade que Aécio teve o melhor desempenho para um tucano desde 2002, é igualmente verídico que perdeu a eleição em casa, ao ser atropelado pelo povo de Minas Gerais não uma, mas duas vezes. E ficou em flagrante desvantagem ao perder o governo, já que seu potencial oponente interno, Geraldo Alckmin, continuará mais uma gestão no comando da segunda máquina do país. Isso sem contar com as velhas raposas com quem competirá para manter-se em destaque, José Serra à frente.

Quem alimenta o ódio?

O outro propósito, ainda que a dissimulação queira camuflar, é aquele de alimentar o revanchismo e o envenenamento do ambiente político, numa espécie de terceiro turno deveras prejudicial ao país.

Ao descer do altar em que foi santificado pela mídia e escalar a tribuna, o senador não perdeu a oportunidade para mais uma vitimização. "No geral, aquilo a que se assistiu foi uma campanha baseada no estímulo ao ódio, um projeto amesquinhado e subordinado ao marketing do medo e da ameaça. Tentaram, a todo custo, dividir o país ao meio: entre pobres e ricos, entre Nordeste e Sudeste”, diz num trecho da longa peroração.

Haja para tamanho despudor

Esqueçamos, pois, que o deputado estadual eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) propôs a secessão do estado de São Paulo, uma vez que no seu olhar obtuso, Nordeste e Norte seriam os “responsáveis” pelo triunfo de Dilma e, portanto, um Brasil de segunda classe.

Decerto são vítimas da “campanha de ódio” aqueles eleitores e partidários de Aécio que clamaram pelo impeachment de Dilma, no último sábado, na avenida paulista. Lembremos que entre os devotos do ex-presidenciável estava um deputado federal eleito, de arma na cinta, a urrar pela intervenção militar.

Na passeata dos “cidadãos de bem”, só faltou pedirem a volta do voto censitário. Mas, claro, estavam todos a caminho da missa e não em pregação consciente contra os valores mais elementares daquilo que se convencionou chamar democracia.

E o que dizer do conteúdo edificante que se tem propagado nas redes sociais? São a prova viva de como os adeptos do tucanato estão com o espírito desarmado, a alma despedida de preconceitos de todos os matizes, influenciados talvez pela elevada figura deste monge das Alterosas.

A verdade, amigos, é que o PSDB está gostosamente adaptado a este eleitor de ultra-direita e o alimenta com atitudes irresponsáveis como o pedido que levanta suspeição sobre o resultado eleitoral, com frases como a de FHC, que atribuiu a votação de Dilma à “falta de informação” dos mais pobres, ou a de Alberto Goldman, para quem ao perder nos grandes centros e entre os mais ricos Dilma ficaria sem condições de governar.

Na falta de militância engajada em seu projeto de país, resta ao PSDB ombrear-se com a vanguarda do atraso, mantê-la em campanha aberta e permanente contra o governo legitimamente eleito, mesmo que isso signifique incentivar preconceitos e intolerâncias mil.

Jus sperniandi

O que nem a mídia servil e nem o mais fanático tucano conseguem negar é que, por trás do discurso de “vitória política”, “oposição fortalecida” e “país dividido”, esconde-se o desespero de quem sofreu a pior e mais amarga entre as quatro consecutivas derrotas eleitorais.

A oposição havia encomendado o terno da posse desde junho do ano passado. Pudera: as condições, objetivas e subjetivas, nunca foram tão favoráveis ao campo oposicionista. A crise econômica que traga o mundo afetou o Brasil, existiu (e existe) um anseio difuso por mudanças em grande parcela da população, aconteceu a importante fissura na base governista que originou a candidatura Eduardo Campos – mais tarde acrescida pela triste figura de Marina Silva -, o PSDB finalmente marchou unido e contou, mais uma vez, com o uníssono dos meios de comunicação a seu favor – inclusive a tentativa de golpe da Veja, às vésperas do 2º turno.

O que lhes causa desespero é responder a simples e direta pergunta: se perderam agora, com tudo a favor, vão ganhar quando? Pensando bem, Aécio tem razões de sobra para espernear.

4 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a leitura, esclarecedora para os inconformados figurões da elite.

Henrique - DF disse...

Este tipo de informação esclarecedora, e com conteúdo comentado de forma simples, e informativa é que precisamos difundir, junto com as grandes obras desenvolvimentistas que estão por vir, para que esta oposição "golipista", seja jogada na lona deste país..

Henrique - DF disse...

E a cada leitura feita a cerca de informações como está, nos preparamos mais para a batalha que virá com a guerra da mídia, e dos golpistas de plantão que agora choram mais esta derrota da urnas..

Carmen Regina Dias disse...

"
O que lhes causa desespero é responder a simples e direta pergunta: se perderam agora, com tudo a favor, vão ganhar quando? Pensando bem, Aécio tem razões de sobra para espernear."


Irão querer atrapalhar as demandas do Gov Dilma, porque se ela continua no passo que anda... ta feio demais pro lado da oposição e vai piorar pra eles.