Por Carlos Drummond, na revista CartaCapital:
A existência de milhares de contas bancárias de sonegadores, corruptos, traficantes, empresários, banqueiros e ditadores no HSBC, denunciada recentemente por um grupo de veículos de comunicação da Europa e dos Estados Unidos, não é uma exceção, nem na história dessa instituição nem no mundo bancário. O dinheiro do tráfico de drogas e de armas, de corrupção e até mesmo do terrorismo internacional circula no sistema financeiro legal com desenvoltura muito além do imaginado.
O maior vazamento bancário da história, de cerca de 30 mil contas do HSBC na Suíça com 120 bilhões de dólares em depósitos realizados entre 2005 a 2007 por clientes criminosos e sonegadores, foi divulgado pelos jornais The Guardian, Le Monde, a BBC e o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos no começo deste mês. A instituição financeira forneceu contas para parentes de ditadores, indivíduos envolvidos em escândalos de corrupção na África, figuras da indústria de armas e empresários corruptos.
Celebridades como o piloto Fernando Alonso, o cantor David Bowie, o rei Abdullah II da Jordânia, o ator John Malkovich, o jogador de futebol Diego Forlán e os banqueiros Edmond Safra e Emilio Botin figuram na lista de correntistas com mais de 6 mil nomes de brasileiros. A filial suíça do banco ajudou a sonegar impostos e a ocultar milhões de dólares em ativos, distribuídos em pacotes não rastreáveis.
Devido ao grande número de contas e à quantidade de celebridades envolvidas, esse escândalo do HSBC desperta uma atenção incomum, mas é o mais recente de uma série longa e comprometedora de irregularidades semelhantes. Os 400 bilhões de dólares movimentados pelo tráfico internacional de drogas, equivalentes a 8% do total do comércio mundial, transitam, em grande medida, por agências bancárias legais.
Há 500 mil encarcerados nos Estados Unidos acusados de participar do tráfico, mas nada se fez até agora para coibir a ação dos maiores bancos do mundo que ajudam os cartéis do México e de outros países lavando bilhões de dólares ilegais provenientes dessa atividade. HSBC, Western Union, Bank of America, JP Morgan Chase&Co, Citigroup, Wachovia estão entre os bancos acusados dessa prática, segundo o jornalista Bill Conroy.
O Wachovia movimentou durante anos, até 2010, mais de 378 bilhões de dólares em lavagem de dinheiro, em grande medida originado no tráfico de drogas. Em 2012 uma comissão do Senado dos Estados Unidos emitiu um relatório com detalhes de operações de lavagem de dinheiro pelo HSBC em Londres para os cartéis de drogas Sinaloa, do Mexico e Norte del Valle, da Colômbia.
Pouco depois da destruição das torres gêmeas do World Trade Center por terroristas em 11 de setembro de 2001, parlamentares defenderam a intensificação da luta contra a lavagem de dinheiro com o objetivo de identificar e prender os autores do ataque. Estes tinham deixado pistas em contas bancárias, cartões de crédito e transferências de dinheiro, evidências da grande liberdade concedida pelo sistema bancário para as suas operações.
Os senadores Carl Levin e Charles E. Grassley apresentaram uma proposta para incluir providências antilavagem de dinheiro no escopo do Patriot Act. A proposição dos parlamentares revoltou a Associação dos Bancos Americanos, em especial o Citigroup e o J. P. Morgan Chase. Sob a liderança do primeiro, montou-se um lobby para abortar ou tornar inofensiva a legislação proposta.
Os bancos de fachada e o shadow baking system são aliados do sistema financeiro formal no empenho para proteger o livre trânsito do dinheiro ilegal. A atitude dos órgãos de supervisão do sistema financeiro é frouxa. O Comitê de Supervisão Bancária do Bank of International Settlements (BIS), o banco central dos bancos centrais, apenas recomenda que os bancos recusem iniciar ou continuar relações com bancos de fachada, eufemísticamente denominados “correspondentes localizados em outras jurisdições”.
Os principais bancos fazem transações a partir de entidades offshore para evitar a sujeição às exigências de reservas bancárias no seu próprio país. O risco dessa atividade conduzida sem reservas é sustentado pela instituição original, pelo seu banco central e pelos contribuintes do país.
As revelações de escândalos sucessivos evidenciam uma atividade constante de bancos e outras instituições financeiras na proteção do dinheiro obtido ilegalmente. Ações isoladas de estados nacionais seriam benvindas, mas fariam o dinheiro sujo escapulir para o país mais próximo em busca de cobertura. Está por surgir uma entidade mundial com autoridade suficiente para combater com eficácia a estrutura legal de proteção férrea do dinheiro criminoso com livre trânsito internacional. Se é que isso é possível.
O maior vazamento bancário da história, de cerca de 30 mil contas do HSBC na Suíça com 120 bilhões de dólares em depósitos realizados entre 2005 a 2007 por clientes criminosos e sonegadores, foi divulgado pelos jornais The Guardian, Le Monde, a BBC e o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos no começo deste mês. A instituição financeira forneceu contas para parentes de ditadores, indivíduos envolvidos em escândalos de corrupção na África, figuras da indústria de armas e empresários corruptos.
Celebridades como o piloto Fernando Alonso, o cantor David Bowie, o rei Abdullah II da Jordânia, o ator John Malkovich, o jogador de futebol Diego Forlán e os banqueiros Edmond Safra e Emilio Botin figuram na lista de correntistas com mais de 6 mil nomes de brasileiros. A filial suíça do banco ajudou a sonegar impostos e a ocultar milhões de dólares em ativos, distribuídos em pacotes não rastreáveis.
Devido ao grande número de contas e à quantidade de celebridades envolvidas, esse escândalo do HSBC desperta uma atenção incomum, mas é o mais recente de uma série longa e comprometedora de irregularidades semelhantes. Os 400 bilhões de dólares movimentados pelo tráfico internacional de drogas, equivalentes a 8% do total do comércio mundial, transitam, em grande medida, por agências bancárias legais.
Há 500 mil encarcerados nos Estados Unidos acusados de participar do tráfico, mas nada se fez até agora para coibir a ação dos maiores bancos do mundo que ajudam os cartéis do México e de outros países lavando bilhões de dólares ilegais provenientes dessa atividade. HSBC, Western Union, Bank of America, JP Morgan Chase&Co, Citigroup, Wachovia estão entre os bancos acusados dessa prática, segundo o jornalista Bill Conroy.
O Wachovia movimentou durante anos, até 2010, mais de 378 bilhões de dólares em lavagem de dinheiro, em grande medida originado no tráfico de drogas. Em 2012 uma comissão do Senado dos Estados Unidos emitiu um relatório com detalhes de operações de lavagem de dinheiro pelo HSBC em Londres para os cartéis de drogas Sinaloa, do Mexico e Norte del Valle, da Colômbia.
Pouco depois da destruição das torres gêmeas do World Trade Center por terroristas em 11 de setembro de 2001, parlamentares defenderam a intensificação da luta contra a lavagem de dinheiro com o objetivo de identificar e prender os autores do ataque. Estes tinham deixado pistas em contas bancárias, cartões de crédito e transferências de dinheiro, evidências da grande liberdade concedida pelo sistema bancário para as suas operações.
Os senadores Carl Levin e Charles E. Grassley apresentaram uma proposta para incluir providências antilavagem de dinheiro no escopo do Patriot Act. A proposição dos parlamentares revoltou a Associação dos Bancos Americanos, em especial o Citigroup e o J. P. Morgan Chase. Sob a liderança do primeiro, montou-se um lobby para abortar ou tornar inofensiva a legislação proposta.
Os bancos de fachada e o shadow baking system são aliados do sistema financeiro formal no empenho para proteger o livre trânsito do dinheiro ilegal. A atitude dos órgãos de supervisão do sistema financeiro é frouxa. O Comitê de Supervisão Bancária do Bank of International Settlements (BIS), o banco central dos bancos centrais, apenas recomenda que os bancos recusem iniciar ou continuar relações com bancos de fachada, eufemísticamente denominados “correspondentes localizados em outras jurisdições”.
Os principais bancos fazem transações a partir de entidades offshore para evitar a sujeição às exigências de reservas bancárias no seu próprio país. O risco dessa atividade conduzida sem reservas é sustentado pela instituição original, pelo seu banco central e pelos contribuintes do país.
As revelações de escândalos sucessivos evidenciam uma atividade constante de bancos e outras instituições financeiras na proteção do dinheiro obtido ilegalmente. Ações isoladas de estados nacionais seriam benvindas, mas fariam o dinheiro sujo escapulir para o país mais próximo em busca de cobertura. Está por surgir uma entidade mundial com autoridade suficiente para combater com eficácia a estrutura legal de proteção férrea do dinheiro criminoso com livre trânsito internacional. Se é que isso é possível.
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