O que você acha que aconteceria se Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT) ou João Vaccari (atual tesoureiro) aparecessem numa lista de brasileiros com contas secretas na Suíça, ao lado de vereador, suplente de senador e outros políticos de menor expressão?
Qual seria a manchete? “Políticos de vários partidos têm contas na Suíça”. Não!!! Mil vezes não.
“Tesoureiro do PT escondia 2 milhões na Suíça“, diria a Folha. “A prova que faltava: até conta na Suíça – saiba os valores e entenda porque o PT virou um ninho de corruptos com contas no exterior”, diria a Veja. Só no pé da matéria, haveria citação dos outros envolvidos.
Pois bem, é escandalosa a forma como o UOL trata a presença (não fictícia, mas absolutamente real) do tucano Márcio Fortes na lista do HSBC. Não houve qualquer destaque para o fato de ele ter sido tesoureiro de campanhas de Serra a presidente (com um papel central em 2002), ou de ter sido o principal doador do PSDB.
Não! A manchete no UOL era insípida: “Políticos de 6 partidos têm elos com contas secretas” – confira aqui.
Fortes tinha um saldo de 2,4 milhões em uma das contas – que por sua vez não aparece na declaração que ele apresentou à Justiça Eleitoral quando foi candidato pelo PSDB. Ou seja: parece ser uma conta irregular, além de secreta.
Mas Fortes surge perdido na tal lista, em meio a um vereador petista e a um suplente de senador do PMDB. Não há contexto, não há qualquer destaque. O UOL quase pede desculpas por citar o sujeito na lista.
O perfil publicado no site da família Frias sequer informa que Fortes foi captador de recursos para as campanhas de Serra, ou tesoureiro do PSDB. Nada, nem uma palavra sobre isso.
Um amigo paulista, que foi filiado ao PSDB, se disse espantado: “Todo mundo sabe que o Fortes é Serra, são quase uma coisa só quando se trata de campanha; o UOL nem cita que ele foi coordenador, ou arrecadador”.
O vazamento das contas secretas do HSBC (um escândalo mundial) é absolutamente controlado e seletivo no Brasil. Todos sabemos por que: estão na lista donos de jornais, artistas e (até agora) dois tucanos graúdos – Armínio Fraga e Marcio Fortes.
Lily Marinho (viúva de Roberto Marinho) e Luis Frias (dono do UOL) aparecem na relação – clique aqui pra saber mais sobre isso. Mas o fato não ganhou qualquer destaque! Tudo noticiado de forma discreta. Quase secreta (se não fosse o barulho dos blogs e das redes sociais).
Aliás, ‘O Globo’ usou o nome do primeiro marido de Lily para tentar desvincular a família Marinho da conta secreta na Suíça. Já os Frias alegam que não lembram de terem aberto a conta. E fica tudo em casa.
É a grande hipocrisia da elite nacional, como se os tucanos e empresários (de mídia, inclusive) dissessem: nós podemos ter conta secreta, nós podemos transgredir e sonegar. É nosso direito inalienável! e abaixo a corrupção do PT!
O Marcio Fortes, tesoureiro de Serra (que por sua vez é amigo dos Frias) não tem com o que se preocupar. A não ser… A não ser que a CPI e a internet cumpram o papel de espalhar a notícia e investigar o fato, traçando as ligações de Fortes com o senador (e eternamente presidenciável) José Chirico Serra. E mostrando que Fortes é também próximo de FHC.
Veja abaixo como o UOL deu o perfil de Fortes, evitando usar o nome de Serra e FHC (no entanto, Fernando Gabeira – que foi companheiro de chapa dele numa campanha a governador – foi citado sim).
Curioso critério jornalístico. Para os tucanos, vale sempre a regra de ouro: #podemostirartirarseacharmelhor.
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Do UOL
MÁRCIO FORTES (PSDB)
Na relação de clientes do HSBC na Suíça consta ainda o nome do primeiro vice-presidente do PSDB no Rio, Márcio Fortes. Também integrante da Comissão Executiva Nacional do PSDB e deputado federal por 3 mandatos, Fortes, de 70 anos, atuou como presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e do Banerj e foi secretário-geral do Ministério da Fazenda.
Conforme os dados do SwissLeaks, o tucano tinha o seu nome relacionado a 3 contas no HSBC em Genebra em 2006 e 2007, sendo que uma delas ainda estava ativa naquela época –com um saldo de US$ 2.413.260,28. Fortes é do ramo de construção civil e é um tradicional doador para campanhas eleitorais.
No ano 2000, por exemplo, Fortes foi a pessoa física que mais doou dinheiro ao PSDB –o equivalente a 21% do total arrecadado pela legenda nessa modalidade de financiamento.
Em 2010, Fortes concorreu ao cargo de vice-governador do Rio na chapa encabeçada por Fernando Gabeira (PV). À Justiça Eleitoral, o tucano comunicou que tinha na época um patrimônio de R$ 4.442.412,71, sendo 13 imóveis, um carro e R$ 117.342,03 na CEF. Assim como Lirio Parisotto, o peessedebista não declarou possuir conta no HSBC.
Na eleição de 2010, Fortes fez uma doação de R$ 500 mil para a campanha ao governo do Rio. Dias antes, Gabeira havia dito que os partidos aliados o apoiavam “muito mal” e que, por esse motivo, poderia “dar uma banana” se fosse necessário.
Em 2006, Fortes concorreu a deputado federal pelo PSDB fluminense. À época, sua conta identificada como “Aframfran Holdings Limited” tinha um saldo de US$ 2,413 milhões no HSBC da Suíça. Esse bem, entretanto, não aparece na declaração de patrimônio que o tucano entregou à Justiça Eleitoral.
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