Foto: Roberto Stuckert Filho/PR |
Há sinais evidentes de que algumas bombas estão sendo desarmadas. A decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de conceder um prazo maior para as explicações do governo sobre suas contas de 2014 já reflete o começo da mudança dos ventos em Brasília. O TCU é um órgão de assessoramento do Poder Legislativo, que é a quem cabe a indicação de seus membros. Por isso, é totalmente permeável às oscilações, turbulências e calmarias do mundo político.
Em relação ao problema com o TCU, mais uma boa notícia para Dilma : o ministro Barroso do STF decidiu que a apreciação do parecer do tribunal é prerrogativa do Congresso Nacional, e não da Câmara dos Deputados isoladamente. Quando votou a toque de caixa, com um açodamento patético e oportunista, as contas dos últimos ex-presidentes, Cunha visava criar o fato consumado de que a prerrogativa de julgar as contas de Dilma cabia apenas aos deputados. Deu com os burros n'água. Por determinação do Supremo, uma sessão conjunta do Congresso, reunindo deputados e senadores, dará a palavra final sobre as contas.
No TSE, o pedido de vistas do ministro Luiz Fux, na ação sobre a continuidade ou não do processo que, em tese, pode levar à cassação da candidatura da presidenta, tem toda a pinta de que levará a decisão final para as calendas gregas. O pedido de vistas de Fux tem nítida relação com o ambiente de distensão que teve início com as declarações de figuras de proa da produção e do capital financeiro e o tom mais sereno adotado pelo PIG na abordagem da crise, tirando o pé do acelerador na marcha insana rumo ao golpe.
Embora de conteúdo explicitamente conservador e neoliberal, a "Agenda Brasil" anunciada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, acabou sendo positiva para o governo, no auge da crise política e das articulações golpistas. Em uma só tacada isolou Cunha e deixou falando sozinho Aécio e seus falcões do PSDB. De uma hora para outra, as propostas de Renan desencadearam discursos de representantes de setores que até flertavam com o golpe em defesa da "união do país para superar a crise" e da "legalidade democrática."
Uma passada d'olhos na tal "Agenda Brasil" é suficiente para perceber sua natureza privatista e pró-mercado. Com base no surrado pretexto de reduzir o custo Brasil, caminha no sentido da relativização ou mesmo do corte de direitos e conquistas da população. Contundo, entendo que o governo não tinha outra alternativa, no olho do furacão da crise e com o cerco se fechando, que não fosse saudá-lo como uma iniciativa importante para se discutir o país. Na hora do debate do mérito, provavelmente com uma atmosfera política menos contaminada, a base social, política e eleitoral que reelegeu a presidenta espera que seu governo rejeite grande parte dessas propostas.
Mas foi no campo da política que a presidenta colheu seus melhores frutos essa semana, ao longo da qual ela deve ter falado mais do que nos sete meses anteriores. Dilma recebeu as 70 mil Margaridas de todo o Brasil que marcharam em Brasília contra o golpe, em defesa da democracia e por mais direitos, numa impressionante manifestação de massas, que só mesmo a mídia mais venal do planeta pode tratar com desdém.
Em cada cerimônia ou evento do qual participou, Dilma não se furtou a rebater e denunciar as tramas golpistas. O encontro com a CUT, outras centrais e movimentos sociais como MTS, MTST e UNE também tem grande relevância política e estratégica. Significa a reconstrução das pontes com as organizações da sociedade que, ao fim e ao cabo, levarão às últimas consequências a luta pela manutenção da ordem democrática. Mas fica a indagação: por que a presidenta não mantém uma agenda permanente de debates e consultas com os movimentos sociais ?
Aconteça o que acontecer no próximo domingo, quando os coxinhas e fascistas estarão nas ruas pregando o golpe, essa semana deve servir de parâmetro para os mais de três anos que ainda lhe restam de mandato. Resta a esperança de que Dilma entenda finalmente que a Presidência da República é um cargo político por excelência, a mais política de todas as funções republicanas. Deixar a obsessão pela gestão de lado faria bem ao país.
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