Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Ricardo Calil não entendeu nada. No blog que mantem no UOL, o crítico de cinema estranhou a forma como o jornalismo da TV Globo tratou o filme “Que Horas Ela Volta?”.
O filme, diz Calil, é “uma reflexão crítica sobre as contradições sociais brasileiras centrada nas relações entre uma família de classe alta de São Paulo, sua empregada doméstica e a filha desta (que chega do Recife e fica morando um tempo na casa dos patrões). O filme de Anna Muylaert – que vem fazendo merecido sucesso mundo afora e foi escolhido como candidato brasileiro ao Oscar – revela o quanto ainda há de “Casa Grande e Senzala” nessas relações e o quanto o Brasil se libertou das heranças escravagistas nos últimos anos.”
Mas o programa dominical da Globo, afirma Calil, conseguiu transformar o filme estrelado por Regina Casé em “uma história de amor entre patrões e empregadas – ao colocá-lo lado a lado com duas histórias reais ´edificantes´ que versam sobre o mesmo tema.”
O Jornalismo da Globo, dirigido por Ali Kamel, não gosta muito de explicitar contradições. O diretor de Jornalismo da Globo acredita que não há racismo no Brasil: “não somos racistas”, diz ele.
O curioso é que o filme de Muylaert é uma co-produção da Globo Filmes, braço cinematográfico da Rede Globo.
“Isso significa que a reportagem do “Fantástico” é um curioso caso em que se fez o marketing de um filme afirmando o contrário do que ele defende“, estranha Calil, que emenda: “Não se via nada parecido desde que a Globo transformou em elogios as críticas do filme ‘ Tim Maia ‘ a Roberto Carlos.
O crítico também reproduz entrevista da diretora – em que ela explica do que o filme trata…
- “O filme retrata a diferença social entre os personagens e a quebra de regras sociais pré-estabelecidas. Como você avalia essa relação patrão x empregadas no Brasil?
(Anna Muylaert) Acho que a PEC das empregadas deu um grande passo no sentido da profissionalização da doméstica, mas acho que ainda falta bastante para a sociedade brasileira abandonar seus arraigados hábitos coloniais.
- A PEC influenciou na construção do filme?
Eu escrevi este roteiro pensando em falar das regras de convivência sociais no âmbito doméstico. Essas regras separatistas, nós sabemos, não são faladas, mas estão aí. Quando eu criei a Jéssica tão segura de si, não estava pensando em política, mas em fugir de um clichê dramatúrgico da coitadinha da filha da empregada. Mas, quando o filme ficou pronto, todos reconheceram que ele estava falando de um Brasil pós-Lula. E eu concordei. Uma personagem como a Jéssica não seria verossímil antes de seu governo. Acho que, entre erros e acertos, houve uma melhora da autoestima do povo brasileiro. E a PEC das empregadas, sem dúvida, tem a ver com o final do filme. Acho que foi um grande passo para tirar o estigma do escravagismo e tornar a empregada doméstica uma profissional como qualquer outra.”
Ou seja, quem for ao cinema assistir a “Que Horas Ela Volta?” esperando encontrar uma história de amor entre patrões e empregados vai se sentir tão “satisfeito” quanto os espectadores que foram ver “Praia do Futuro” para reencontrar a macheza do Capitão Nascimento.
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Ricardo Calil não entendeu nada. No blog que mantem no UOL, o crítico de cinema estranhou a forma como o jornalismo da TV Globo tratou o filme “Que Horas Ela Volta?”.
O filme, diz Calil, é “uma reflexão crítica sobre as contradições sociais brasileiras centrada nas relações entre uma família de classe alta de São Paulo, sua empregada doméstica e a filha desta (que chega do Recife e fica morando um tempo na casa dos patrões). O filme de Anna Muylaert – que vem fazendo merecido sucesso mundo afora e foi escolhido como candidato brasileiro ao Oscar – revela o quanto ainda há de “Casa Grande e Senzala” nessas relações e o quanto o Brasil se libertou das heranças escravagistas nos últimos anos.”
Mas o programa dominical da Globo, afirma Calil, conseguiu transformar o filme estrelado por Regina Casé em “uma história de amor entre patrões e empregadas – ao colocá-lo lado a lado com duas histórias reais ´edificantes´ que versam sobre o mesmo tema.”
O Jornalismo da Globo, dirigido por Ali Kamel, não gosta muito de explicitar contradições. O diretor de Jornalismo da Globo acredita que não há racismo no Brasil: “não somos racistas”, diz ele.
O curioso é que o filme de Muylaert é uma co-produção da Globo Filmes, braço cinematográfico da Rede Globo.
“Isso significa que a reportagem do “Fantástico” é um curioso caso em que se fez o marketing de um filme afirmando o contrário do que ele defende“, estranha Calil, que emenda: “Não se via nada parecido desde que a Globo transformou em elogios as críticas do filme ‘ Tim Maia ‘ a Roberto Carlos.
O crítico também reproduz entrevista da diretora – em que ela explica do que o filme trata…
- “O filme retrata a diferença social entre os personagens e a quebra de regras sociais pré-estabelecidas. Como você avalia essa relação patrão x empregadas no Brasil?
(Anna Muylaert) Acho que a PEC das empregadas deu um grande passo no sentido da profissionalização da doméstica, mas acho que ainda falta bastante para a sociedade brasileira abandonar seus arraigados hábitos coloniais.
- A PEC influenciou na construção do filme?
Eu escrevi este roteiro pensando em falar das regras de convivência sociais no âmbito doméstico. Essas regras separatistas, nós sabemos, não são faladas, mas estão aí. Quando eu criei a Jéssica tão segura de si, não estava pensando em política, mas em fugir de um clichê dramatúrgico da coitadinha da filha da empregada. Mas, quando o filme ficou pronto, todos reconheceram que ele estava falando de um Brasil pós-Lula. E eu concordei. Uma personagem como a Jéssica não seria verossímil antes de seu governo. Acho que, entre erros e acertos, houve uma melhora da autoestima do povo brasileiro. E a PEC das empregadas, sem dúvida, tem a ver com o final do filme. Acho que foi um grande passo para tirar o estigma do escravagismo e tornar a empregada doméstica uma profissional como qualquer outra.”
Ou seja, quem for ao cinema assistir a “Que Horas Ela Volta?” esperando encontrar uma história de amor entre patrões e empregados vai se sentir tão “satisfeito” quanto os espectadores que foram ver “Praia do Futuro” para reencontrar a macheza do Capitão Nascimento.
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