Por Renato Rovai, em seu blog:
Nada com um dia após o outro para se fazer análises atualmente. A situação política é tão tensa e tão sensível que quem não quer errar muito tem que aprender a fazer avaliações à frio. Ou no mínimo à morno. No calor da hora é extremamente arriscado.
Ontem escrevi logo após o anúncio das medidas pelos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa que Dilma havia elegido um novo inimigo, os funcionários públicos e seus sindicatos. Bingo!
Hoje já há lideranças sindicais falando em convocar uma greve geral dos servidores. Foi uma análise à quente, mas muito óbvia também e que por isso difícil de errar. Não é possível imaginar que a presidenta e seus principais ministros e assessores não tenham feito este cálculo na proporção dos riscos que ele pode vir a gerar pra um governo já combalido. Ou seja, eles devem ter uma solução para isso.
Ou então, maginem a seguinte situação: policiais federais, médicos, professores universitários, professores das escolas técnicas, funcionários da previdência, todos os integrantes dos programas sociais, burocratas de todas as áreas etc e tal, parados no país por um mês.
Ao mesmo tempo imaginem o MST e o MTST, que já soltou uma nota criticando o ajuste, entrando nesta luta dos servidores de forma solidária e exigindo que os recursos do Minha Casa Minha Vida sejam mais claros.
E ao mesmo tempo o Congresso não aprovando a CPMF.
Se isso vier a acontecer Dilma terá jogado fora todas as possibilidades de diálogo com sua base fora e terá ficado absolutamente isolada e sem condições de terminar o mandato. Ou seja, o governo deve ter alguma solução e proposta para que isso não aconteça. Ou então, estamos na mão de gente muito mais distante da realidade do que aquele marciano dos filmes de ficção.
Mas se esse risco existe é verdade que a proposta do ajuste parece ter conseguido abrir algumas portas. A nota da Febraban celebrando-o, a reunião com os governadores que parecem ter interesse em aumentar a aliquota do novo-velho imposto pra ficar com essa parte e poder melhorar suas combalidas contas. O sinal para os prefeitos de que eles também podem ficar com uma parte que seria um excelente reforço de caixa no último ano de governo. A fala de apoio de Renan Calheiros, cujo filho governador de Alagoas também saiu em apoio à CPMF. E a posição do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que ao contrário de Cunha, se mostrou disposto a conduzir o debate sem vetos. Todos esses sinais somados, podem demonstrar que há espaço para se conduzir no mínimo uma proposta que se não vier a ser essa que foi apresentada, pode ser algo que torne o impeachment algo um pouco mais distante.
Essa e a próxima semana serão fundamentais para o governo Dilma resolver a equação que propôs ao Congresso e à sociedade na tarde de ontem.
Para isso, a reforma ministerial parece conter os principais ingredientes da solução.
Se Dilma decidir tornar o seu governo ainda mais de direita, desmontando ministérios que são referências para o movimento social, como o de Direitos Humanos, Mulheres, Negros, Cultura e Desenvolvimento Agrário, ela pode se manter no cargo. Mas já será um mero espectro daquela figura que assumiu compromissos progressistas na campanha. E seria abandonada tanto pelo PT, como pelo PCdoB, a CUT, a UNE e outros movimentos. Pode até ser que isso viesse a demorar alguns meses, mas seria inevitável porque esses movimentos e partidos seriam espremidos por suas bases.
Mas se ela conseguir melhorar o nível político do seu ministério, dando sinais claros à esquerda e oferecendo poder real ao centro a à direita civilizada que tope ir até o fim com ela, o ajuste pode vir a ser de fato apenas uma travessia. Mas para isso Dilma terá mudar o ministro da Casa Civil e alguns outros com os quais mantém estreitos laços.
Mercadante que tem várias qualidades nunca foi habilidoso politicamente. Mesmo no PT, sempre foi questionado pelo seu pavonismo e essa sua característica se mantém firme e forte no ministério. O que lhe fez acumular um número muito maior de adversários e críticos do que aliados. Não há quem não reclame de Mercadante e do seu estilo autista e autoritário, comportamento que também é atribuído à Dilma.
Um governo que precisa construir apoios precisa de gente que chame os atuais aliados e os que busca ainda pelo apelido. Que saiba o time de futebol do sujeito. Que entenda as demandas que estão sendo apresentadas e não as discuta na base da tabela de Exccel.
Os movimentos sociais vão cobrar sua fatura, com ou sem reforma ministerial. E o que se espera é que o governo tenha condições de negociar algo com os sindicatos. Porque essa de mudar o acordo e propor reajuste em agosto não vai ser engolida assim desse jeito.
Os empresários já deram seus sinais. Febraban em apoio e Fiesp na porrada.
Mas os políticos estão esperando a reforma ministerial. Porque a conta que eles vão fazer é de futuro e não de presente. Se o sinal de Dilma for de manter o mesmo modelo de governo, com este estilo de poucos ouvidos e ao mesmo tempo só mostrar que vai mais pra direita, danou-se.
Ela fica sem a base que a elegeu. E sem os chamados aliados.
Porque o problema do governo não é só de posições ideológicas para eles. É de estilo. E de falta de expectativa de futuro. Eles sabem que nesta toada, não vai dar certo. Ou seja, ainda é cedo para saber no que este ajuste vai dar. Mas uma coisa é certa, essa proposta isolada não resolve nada. Muito pelo contrário, joga mais gasolina em algumas fogueiras.
O que pode reposicionar as peças e a reforma ministerial. E para que resulte de fato em algo, Dilma vai ter de cortar na carne. E não é na economia, mas na política. Ou seja, vai ter de mexer com gente que gosta muito.
Ontem escrevi logo após o anúncio das medidas pelos ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa que Dilma havia elegido um novo inimigo, os funcionários públicos e seus sindicatos. Bingo!
Hoje já há lideranças sindicais falando em convocar uma greve geral dos servidores. Foi uma análise à quente, mas muito óbvia também e que por isso difícil de errar. Não é possível imaginar que a presidenta e seus principais ministros e assessores não tenham feito este cálculo na proporção dos riscos que ele pode vir a gerar pra um governo já combalido. Ou seja, eles devem ter uma solução para isso.
Ou então, maginem a seguinte situação: policiais federais, médicos, professores universitários, professores das escolas técnicas, funcionários da previdência, todos os integrantes dos programas sociais, burocratas de todas as áreas etc e tal, parados no país por um mês.
Ao mesmo tempo imaginem o MST e o MTST, que já soltou uma nota criticando o ajuste, entrando nesta luta dos servidores de forma solidária e exigindo que os recursos do Minha Casa Minha Vida sejam mais claros.
E ao mesmo tempo o Congresso não aprovando a CPMF.
Se isso vier a acontecer Dilma terá jogado fora todas as possibilidades de diálogo com sua base fora e terá ficado absolutamente isolada e sem condições de terminar o mandato. Ou seja, o governo deve ter alguma solução e proposta para que isso não aconteça. Ou então, estamos na mão de gente muito mais distante da realidade do que aquele marciano dos filmes de ficção.
Mas se esse risco existe é verdade que a proposta do ajuste parece ter conseguido abrir algumas portas. A nota da Febraban celebrando-o, a reunião com os governadores que parecem ter interesse em aumentar a aliquota do novo-velho imposto pra ficar com essa parte e poder melhorar suas combalidas contas. O sinal para os prefeitos de que eles também podem ficar com uma parte que seria um excelente reforço de caixa no último ano de governo. A fala de apoio de Renan Calheiros, cujo filho governador de Alagoas também saiu em apoio à CPMF. E a posição do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, que ao contrário de Cunha, se mostrou disposto a conduzir o debate sem vetos. Todos esses sinais somados, podem demonstrar que há espaço para se conduzir no mínimo uma proposta que se não vier a ser essa que foi apresentada, pode ser algo que torne o impeachment algo um pouco mais distante.
Essa e a próxima semana serão fundamentais para o governo Dilma resolver a equação que propôs ao Congresso e à sociedade na tarde de ontem.
Para isso, a reforma ministerial parece conter os principais ingredientes da solução.
Se Dilma decidir tornar o seu governo ainda mais de direita, desmontando ministérios que são referências para o movimento social, como o de Direitos Humanos, Mulheres, Negros, Cultura e Desenvolvimento Agrário, ela pode se manter no cargo. Mas já será um mero espectro daquela figura que assumiu compromissos progressistas na campanha. E seria abandonada tanto pelo PT, como pelo PCdoB, a CUT, a UNE e outros movimentos. Pode até ser que isso viesse a demorar alguns meses, mas seria inevitável porque esses movimentos e partidos seriam espremidos por suas bases.
Mas se ela conseguir melhorar o nível político do seu ministério, dando sinais claros à esquerda e oferecendo poder real ao centro a à direita civilizada que tope ir até o fim com ela, o ajuste pode vir a ser de fato apenas uma travessia. Mas para isso Dilma terá mudar o ministro da Casa Civil e alguns outros com os quais mantém estreitos laços.
Mercadante que tem várias qualidades nunca foi habilidoso politicamente. Mesmo no PT, sempre foi questionado pelo seu pavonismo e essa sua característica se mantém firme e forte no ministério. O que lhe fez acumular um número muito maior de adversários e críticos do que aliados. Não há quem não reclame de Mercadante e do seu estilo autista e autoritário, comportamento que também é atribuído à Dilma.
Um governo que precisa construir apoios precisa de gente que chame os atuais aliados e os que busca ainda pelo apelido. Que saiba o time de futebol do sujeito. Que entenda as demandas que estão sendo apresentadas e não as discuta na base da tabela de Exccel.
Os movimentos sociais vão cobrar sua fatura, com ou sem reforma ministerial. E o que se espera é que o governo tenha condições de negociar algo com os sindicatos. Porque essa de mudar o acordo e propor reajuste em agosto não vai ser engolida assim desse jeito.
Os empresários já deram seus sinais. Febraban em apoio e Fiesp na porrada.
Mas os políticos estão esperando a reforma ministerial. Porque a conta que eles vão fazer é de futuro e não de presente. Se o sinal de Dilma for de manter o mesmo modelo de governo, com este estilo de poucos ouvidos e ao mesmo tempo só mostrar que vai mais pra direita, danou-se.
Ela fica sem a base que a elegeu. E sem os chamados aliados.
Porque o problema do governo não é só de posições ideológicas para eles. É de estilo. E de falta de expectativa de futuro. Eles sabem que nesta toada, não vai dar certo. Ou seja, ainda é cedo para saber no que este ajuste vai dar. Mas uma coisa é certa, essa proposta isolada não resolve nada. Muito pelo contrário, joga mais gasolina em algumas fogueiras.
O que pode reposicionar as peças e a reforma ministerial. E para que resulte de fato em algo, Dilma vai ter de cortar na carne. E não é na economia, mas na política. Ou seja, vai ter de mexer com gente que gosta muito.
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