Por Rodrigo Vianna, em seu blog:
O retorno de Henrique Pizzolato ao Brasil, o bloqueio das contas de Eduardo Cunha na Suíça e a nova convocação da seleção de Dunga acabaram por deixar em segundo plano um fato que pode ser decisivo para o desfecho da crise política no Brasil: o STF negou habeas corpus que pedia a liberação de Marcelo Odebrecht, dono de empreiteira preso há quatro meses pelo juiz das camisas negras – Sérgio Moro.
Advogados que acompanham de perto a Operação Lava-Jato observam a decisão como a senha que Moro esperava: ele agora começará a mover as peças em direção do rei no tabuleiro. Moro quer Lula preso. Sempre quis. Ou, na pior das hipóteses (para Moro), Lula estará solto mas desmoralizado.
Na narrativa megalomaníaca estabelecida pelo juiz das camisas negras, Lula seria o Bettino Craxi brasileiro. Craxi era o líder do Partido Socialista Italiano, e se tornou o grande alvo da operação Mãos Limpas.
Moro vai testando as jogadas no tabuleiro. Se o STF o desautorizasse, expedindo habeas corpus para presos de primeira grandeza (como é o caso de Odebrecht), o juiz talvez não se arriscasse agora a chegar até Lula. Mas o STF parece temer Moro. Foi essa a senha emitida.
“Com a decisão de Teori, aguarde para a semana que vem, ou no mais tardar a outra, a prisão do empresário Bunlai e também do filho de Lula”, diz ao blogueiro um advogado que atua na defesa de empresários atingidos pela fúria de Moro.
O blogueiro, a princípio, duvida da tese do advogado: “Moro vai prender o filho, você acha?”
“Sim, vai prender o filho, pois tem medo da reação de prender o pai. A estratégia é maquiavélica: esvazia o argumento de que é uma prisão política, arrasa o Lula e ainda o desmoraliza”, diz o advogado, que em outros momentos trouxe a este blogueiro análises certeiras, sempre baseadas em fatos e não em desejos dele (leia aqui outro texto que teve como fonte o mesmo advogado).
Moro estaria nesse momento tomando o pulso do STF. Lembremos que, no passado recente, o ministro Gilmar Mendes desautorizou o juiz de primeiro grau Fausto de Sanctis, relaxando por duas vezes a prisão do banqueiro Daniel Dantas. Sanctis, depois, foi triturado pela máquina midiática aliada a Gilmar Mendes.
Moro sabe que não corre o mesmo risco, mas era preciso saber até onde vai a coragem de Teori e de outros ministros do Supremo. Pelo visto, não vai até o ponto de desautorizar de maneira enfática o poderoso juiz de Curitiba.
De onde vem o poder de Moro? Certamente, não é apenas o poder comum de que se investe um juiz de primeiro grau. Sobre o julgador das camisas negras, há muitas teorias. Há quem o veja como um ser dotado de mentalidade salvacionista e algo messiânica (“tenho a missão de combater a corrupção”); outros o percebem como emissário de um poder maior, quiçá instalado até fora do país.
O que não se pode negar é que há uma “operação de inteligência”, procurando casar as decisões judiciais, com a pauta midiática e as manifestações de rua.
Não é à toa que o boneco inflável de Lula ganhou as ruas nos últimos meses. Trata-se de operação casada, calculada milimetricamente.
Não foi Moro que inflou os bonecos, dirão alguns. Mas basta seguir a articulação que une a Globo, Moro e estranhos personagens (como o jovem Chequer, formado nos Estados Unidos) para o centro das articulações golpistas: logo se vislumbrará que o juiz é parte de uma articulação mais ampla.
Moro sabe que o caminho para chegar a Lula passa pelo empresário Bunlai. Este não leva diretamente ao ex-presidente, mas pode mover as peças – primeiramente – em direção à família do líder petista.
“Pessoalmente, isso quebraria mais o Lula do que se fosse ele mesmo preso“, diz o advogado, que revela também: “vários [empresários e advogados] me dizem que a pergunta sobre ele [Bunlai] tem surgido para todos que estão negociando delação premiada“. É a forma de se chegar ao filho de Lula. Por enquanto, há apenas manchetes sem substância, mas vai-se estabelecendo a narrativa. AS decisões de Moro dependem dessa narrativa – externa aos autos.
O cenário se parece muito com 1954, quando Carlos Lacerda tratava o filho de Vargas como “o filho rico do pai dos pobres”. Nem isso mudou na sintaxe dos que se opõem ao trabalhismo e pregam o golpe.
A UDN ameaçava levar o filho de Vargas preso ao Galeão – onde a Aeronáutica conduzia seus inquéritos, como se fosse um estado paralelo. O presidente reagiu, com o suicídio.
O Galeão de 2015 fica em Curitiba. O juiz das camisas negras tem como objetivo final um líder que talvez não possua a dimensão trágica de Vargas. Mas que lutará até o último momento.
O que se percebe é que nos últimos dias o golpe parlamentar parece ter minguado, enquanto o golpe pela via judicial ganha força – de forma discreta. Por isso mesmo, pode ter muito mais impacto.
Lembremos que foi Lula quem articulou a reação que pôs o governo Dilma de novo em pé. Se Lula for alvejado, ainda que indiretamente, através do filho, todo o campo que se mantem de forma frágil em torno de Dilma, ficará mais vulnerável.
O jogo não está jogado, mas as peças se movem em direção ao rei.
O retorno de Henrique Pizzolato ao Brasil, o bloqueio das contas de Eduardo Cunha na Suíça e a nova convocação da seleção de Dunga acabaram por deixar em segundo plano um fato que pode ser decisivo para o desfecho da crise política no Brasil: o STF negou habeas corpus que pedia a liberação de Marcelo Odebrecht, dono de empreiteira preso há quatro meses pelo juiz das camisas negras – Sérgio Moro.
Advogados que acompanham de perto a Operação Lava-Jato observam a decisão como a senha que Moro esperava: ele agora começará a mover as peças em direção do rei no tabuleiro. Moro quer Lula preso. Sempre quis. Ou, na pior das hipóteses (para Moro), Lula estará solto mas desmoralizado.
Na narrativa megalomaníaca estabelecida pelo juiz das camisas negras, Lula seria o Bettino Craxi brasileiro. Craxi era o líder do Partido Socialista Italiano, e se tornou o grande alvo da operação Mãos Limpas.
Moro vai testando as jogadas no tabuleiro. Se o STF o desautorizasse, expedindo habeas corpus para presos de primeira grandeza (como é o caso de Odebrecht), o juiz talvez não se arriscasse agora a chegar até Lula. Mas o STF parece temer Moro. Foi essa a senha emitida.
“Com a decisão de Teori, aguarde para a semana que vem, ou no mais tardar a outra, a prisão do empresário Bunlai e também do filho de Lula”, diz ao blogueiro um advogado que atua na defesa de empresários atingidos pela fúria de Moro.
O blogueiro, a princípio, duvida da tese do advogado: “Moro vai prender o filho, você acha?”
“Sim, vai prender o filho, pois tem medo da reação de prender o pai. A estratégia é maquiavélica: esvazia o argumento de que é uma prisão política, arrasa o Lula e ainda o desmoraliza”, diz o advogado, que em outros momentos trouxe a este blogueiro análises certeiras, sempre baseadas em fatos e não em desejos dele (leia aqui outro texto que teve como fonte o mesmo advogado).
Moro estaria nesse momento tomando o pulso do STF. Lembremos que, no passado recente, o ministro Gilmar Mendes desautorizou o juiz de primeiro grau Fausto de Sanctis, relaxando por duas vezes a prisão do banqueiro Daniel Dantas. Sanctis, depois, foi triturado pela máquina midiática aliada a Gilmar Mendes.
Moro sabe que não corre o mesmo risco, mas era preciso saber até onde vai a coragem de Teori e de outros ministros do Supremo. Pelo visto, não vai até o ponto de desautorizar de maneira enfática o poderoso juiz de Curitiba.
De onde vem o poder de Moro? Certamente, não é apenas o poder comum de que se investe um juiz de primeiro grau. Sobre o julgador das camisas negras, há muitas teorias. Há quem o veja como um ser dotado de mentalidade salvacionista e algo messiânica (“tenho a missão de combater a corrupção”); outros o percebem como emissário de um poder maior, quiçá instalado até fora do país.
O que não se pode negar é que há uma “operação de inteligência”, procurando casar as decisões judiciais, com a pauta midiática e as manifestações de rua.
Não é à toa que o boneco inflável de Lula ganhou as ruas nos últimos meses. Trata-se de operação casada, calculada milimetricamente.
Não foi Moro que inflou os bonecos, dirão alguns. Mas basta seguir a articulação que une a Globo, Moro e estranhos personagens (como o jovem Chequer, formado nos Estados Unidos) para o centro das articulações golpistas: logo se vislumbrará que o juiz é parte de uma articulação mais ampla.
Moro sabe que o caminho para chegar a Lula passa pelo empresário Bunlai. Este não leva diretamente ao ex-presidente, mas pode mover as peças – primeiramente – em direção à família do líder petista.
“Pessoalmente, isso quebraria mais o Lula do que se fosse ele mesmo preso“, diz o advogado, que revela também: “vários [empresários e advogados] me dizem que a pergunta sobre ele [Bunlai] tem surgido para todos que estão negociando delação premiada“. É a forma de se chegar ao filho de Lula. Por enquanto, há apenas manchetes sem substância, mas vai-se estabelecendo a narrativa. AS decisões de Moro dependem dessa narrativa – externa aos autos.
O cenário se parece muito com 1954, quando Carlos Lacerda tratava o filho de Vargas como “o filho rico do pai dos pobres”. Nem isso mudou na sintaxe dos que se opõem ao trabalhismo e pregam o golpe.
A UDN ameaçava levar o filho de Vargas preso ao Galeão – onde a Aeronáutica conduzia seus inquéritos, como se fosse um estado paralelo. O presidente reagiu, com o suicídio.
O Galeão de 2015 fica em Curitiba. O juiz das camisas negras tem como objetivo final um líder que talvez não possua a dimensão trágica de Vargas. Mas que lutará até o último momento.
O que se percebe é que nos últimos dias o golpe parlamentar parece ter minguado, enquanto o golpe pela via judicial ganha força – de forma discreta. Por isso mesmo, pode ter muito mais impacto.
Lembremos que foi Lula quem articulou a reação que pôs o governo Dilma de novo em pé. Se Lula for alvejado, ainda que indiretamente, através do filho, todo o campo que se mantem de forma frágil em torno de Dilma, ficará mais vulnerável.
O jogo não está jogado, mas as peças se movem em direção ao rei.
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