A gente já sabe… Tá cansado de saber… Que a vida na periferia vale menos do que no centro. Que a vida dos pretos vale menos. Que a vida dos pobres vale menos. Agora, ficamos sabendo também que a vida do professor preto, pobre e da periferia vale muito menos do que a do professor branco, que dá aula em colégio de bairro rico. Mesmo que esse colégio seja público.
Pois a Polícia Militar está há quase cinco dias de guarda diante da Escola Estadual Fernão Dias Paes e o máximo que se viu por lá foi um spray de pimenta aqui, um empurra-empurra ali, uma tentativa de levar gente para a delegacia… e mais nada. Porque a Fernão Dias fica no bairro de Pinheiros, perto da caríssima Fnac, ao lado de uma classe média com acesso aos jornais e à mídia em geral.
(Aliás, nos primeiros dias da ocupação da Fernão Dias, uma menina, adolescente, aluna da escola, foi detida numa van da PM durante 30 minutos… adivinha de que cor ela é? Acertou! Negra! A pressão dos amigos logrou que ela fosse liberada).
Mas, na periferia, a coisa é bem diferente. Para pior. No bairro do Jardim Ângela, onde há pouco tempo grupos de extermínio faziam seus festins de sangue, a PM agiu com extrema violência e sem mandato judicial para desocupar a Escola Estadual José Lins do Rego, localizada na estrada do M’Boi Mirim.
O colégio estava ocupado pelos estudantes, em protesto contra a reorganização escolar proposta pelo governador Geraldo Alckmin, que acarretará o fechamento de 94 escolas e o encerramento de ciclos e de turnos de ensino em muitas outras.
Com 1.762 alunos de Ensino Médio, a José Lins do Rego aparece no site da Secretaria da Educação assim: “Essa escola não será afetada pela reorganização”. Para os alunos, isso é uma mentira, já que o colégio será o destino de muitos outros, remanejados de escolas que fecharão. As classes ficarão superlotadas, preocupam-se os meninos.
A violência da PM desesperou os estudantes, que chamaram mais professores para ajudar. O resultado é que vários docentes da José Lins do Rego estão extremamente machucados. Um deles, o professor Edivan, um dos melhores professores da escola, foi detido e levado ao 47º Distrito Policial (do Capão Redondo), acusado de crime de Resistência (artigo 329 do Código Penal). Antes, o professor teve de ser levado ao hospital, para tratar de ferimentos; a namorada dele, a professora Flávia, também está muito machucada e em estado de choque.
A truculência da PM não tem limites.
É esse o padrão de selvageria que a PM utiliza sempre na periferia. Com o movimento das escolas não seria diferente, agora que ele chegou às franjas pobres e periféricas da cidade.
Por isso, #JornalistasLivres pedem à população que fique atenta e use seus celulares para documentar os abusos.
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