Por Gabriela Leite, no site Outras Palavras:
O Facebook está prestes a sofrer um revés, graças aos ativistas pela liberdade da internet. A Índia definirá, nos próximos dias, se vai banir do país o Free Basics, atrevida iniciativa de Mark Zuckerberg, dono da rede social gigante. O projeto consiste em uma parceria com operadoras de telefonia móvel de países em desenvolvimento para fornecer internet gratuita a pessoas pobres, porém apenas a um número limitado de sites e conteúdos filtrados pela empresa de Zuckerberg — Facebook obviamente incluso. Desde dezembro, o serviço está bloqueado no país asiático, e acontecem fervorosas discussões sobre seu futuro e o que será da liberdade da internet para os indianos. O órgão local que regula as telecons, TRAI (Telecon Regulatory Authority of India), decidirá nos próximos dias se Free Basics será ou não permitido.
O que está em jogo, na Índia e em outros países onde o Free Basics já opera, é a neutralidade da rede. Garantida pelo Marco Civil da Internet, no Brasil, ela diz respeito ao conteúdo disponível: nenhum site deve ter privilégio de navegação, nenhuma operadora pode oferecer pacotes com apenas alguns sites disponíveis.
Mas a fúria do Facebook para manter sua questionável curadoria de sites que devem ser vistos pela população desfavorecida parece grande. Seu esforço em promover o Free Basics nos últimos meses é impressionante, relata a repórter Lauren Smiley, da página de tecnologia Backchannel. Ela conta que cartazes de promoção do sistema tomam conta das ruas de Mumbai, capital financeira da Índia. O próprio Zuckerberg assina uma carta/publicidade de página inteira no principal jornal em inglês do país, The Times of India. Entre apelações aos “fatos ao invés da ficção” e storytelling, o jovem bilionário pergunta: quem poderia ser contra o Free Basics?
Lauren, na verdade, não achou fácil encontrar quem fosse a favor. Ativistas pela internet livre e neutra estão organizados contra o projeto, e já conseguiram atingir milhões. Criaram o site SaveTheInternet.in, para informar a população. Pediram para um grupo de garotos que faz o canal de YouTube indiano All India Bakchod gravar vídeos de apoio [1,2 e 3], que viralizaram e chamaram a atenção desde astros de Bollywood a membros do parlamento, criando um forte apoio à causa. Em um deles, afirmam, com humor: “Imagine se algo como o Orkut ficasse disponível gratuitamente em plataformas como essas, dez anos atras. Não haveria Facebook hoje! O Facebook não está tentando proteger nossos direitos, está apenas tentando se certificar de que não haverá um novo Facebook nunca mais.”
O Facebook está prestes a sofrer um revés, graças aos ativistas pela liberdade da internet. A Índia definirá, nos próximos dias, se vai banir do país o Free Basics, atrevida iniciativa de Mark Zuckerberg, dono da rede social gigante. O projeto consiste em uma parceria com operadoras de telefonia móvel de países em desenvolvimento para fornecer internet gratuita a pessoas pobres, porém apenas a um número limitado de sites e conteúdos filtrados pela empresa de Zuckerberg — Facebook obviamente incluso. Desde dezembro, o serviço está bloqueado no país asiático, e acontecem fervorosas discussões sobre seu futuro e o que será da liberdade da internet para os indianos. O órgão local que regula as telecons, TRAI (Telecon Regulatory Authority of India), decidirá nos próximos dias se Free Basics será ou não permitido.
O que está em jogo, na Índia e em outros países onde o Free Basics já opera, é a neutralidade da rede. Garantida pelo Marco Civil da Internet, no Brasil, ela diz respeito ao conteúdo disponível: nenhum site deve ter privilégio de navegação, nenhuma operadora pode oferecer pacotes com apenas alguns sites disponíveis.
Mas a fúria do Facebook para manter sua questionável curadoria de sites que devem ser vistos pela população desfavorecida parece grande. Seu esforço em promover o Free Basics nos últimos meses é impressionante, relata a repórter Lauren Smiley, da página de tecnologia Backchannel. Ela conta que cartazes de promoção do sistema tomam conta das ruas de Mumbai, capital financeira da Índia. O próprio Zuckerberg assina uma carta/publicidade de página inteira no principal jornal em inglês do país, The Times of India. Entre apelações aos “fatos ao invés da ficção” e storytelling, o jovem bilionário pergunta: quem poderia ser contra o Free Basics?
Lauren, na verdade, não achou fácil encontrar quem fosse a favor. Ativistas pela internet livre e neutra estão organizados contra o projeto, e já conseguiram atingir milhões. Criaram o site SaveTheInternet.in, para informar a população. Pediram para um grupo de garotos que faz o canal de YouTube indiano All India Bakchod gravar vídeos de apoio [1,2 e 3], que viralizaram e chamaram a atenção desde astros de Bollywood a membros do parlamento, criando um forte apoio à causa. Em um deles, afirmam, com humor: “Imagine se algo como o Orkut ficasse disponível gratuitamente em plataformas como essas, dez anos atras. Não haveria Facebook hoje! O Facebook não está tentando proteger nossos direitos, está apenas tentando se certificar de que não haverá um novo Facebook nunca mais.”
Há argumentos ainda mais contundentes. O SaveTheInternet.in afirma que no último ano, 100 milhões de pessoas entraram na rede, e apenas uma pequena parte delas foi graças ao Free Basics. Segundo eles, há várias iniciativas mais transparentes e justas. A plataforma não tem código aberto, e todos os seus parâmetros são definidos pelo Facebook. Além disso, ela mantém e restringe os números de utilização — o número de usuários, a quantidade destes que passou a pagar por internet após o Free Basics, etc. Indo contra a privacidade, a empresa guarda os dados de navegação dos usuários — e fornece os dados para a NSA, agência de vigilância do governo norte-americano. Além disso, os ativistas são céticos quanto à afirmação de que o Facebook não estaria ganhando dinheiro com a plataforma pois não mostra propagandas por meio dela. Perguntam-se: até quando?
Mas não só os hackers estão na luta. Há uma rápida expansão no setor de tecnologia, no país, com ganas de competir com o Vale do Silício, e esses novos empresários estão convencidos de que o projeto de internet livre norte-americano será bastante prejudicial para suas iniciativas. Juntos, estão ajudando a pressionar o governo indiano para que ele impeça o Free Basics de operar. Enviaram também uma carta ao governo, assinada por 500 startups.
É difícil acreditar em almoço grátis ao ouvir os apelos de Mark Zuckerberg. Presente em 37 países, o Free Basics já chegou a 15 milhões de pessoas que acessam a internet pelo seu filtro. A Índia é um território estratégico. É um país com proporções continentais: 1,25 bilhões de habitantes, onde já acontece uma evolução muito rápida no mercado de internet: 300 milhões de pessoas (apenas um quarto da população) estava online no final de 2014, e estima-se que o número dobre até 2020, segundo a publicação inglesa The Economist. Para uma rede social utilizada por um bilhão de pessoas diariamente, inserir-se desde a raiz na digitalização das áreas rurais do mundo com máscara de filantropia é uma jogada bastante esperta.
Mas não só os hackers estão na luta. Há uma rápida expansão no setor de tecnologia, no país, com ganas de competir com o Vale do Silício, e esses novos empresários estão convencidos de que o projeto de internet livre norte-americano será bastante prejudicial para suas iniciativas. Juntos, estão ajudando a pressionar o governo indiano para que ele impeça o Free Basics de operar. Enviaram também uma carta ao governo, assinada por 500 startups.
É difícil acreditar em almoço grátis ao ouvir os apelos de Mark Zuckerberg. Presente em 37 países, o Free Basics já chegou a 15 milhões de pessoas que acessam a internet pelo seu filtro. A Índia é um território estratégico. É um país com proporções continentais: 1,25 bilhões de habitantes, onde já acontece uma evolução muito rápida no mercado de internet: 300 milhões de pessoas (apenas um quarto da população) estava online no final de 2014, e estima-se que o número dobre até 2020, segundo a publicação inglesa The Economist. Para uma rede social utilizada por um bilhão de pessoas diariamente, inserir-se desde a raiz na digitalização das áreas rurais do mundo com máscara de filantropia é uma jogada bastante esperta.
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