Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Fosse a nossa vida real uma novela, poderíamos dizer que estamos entrando agora nos capítulos decisivos, mas ninguém ainda tem ideia de quando nem como ela vai terminar. A operação casada da Lava Jato nesta segunda-feira, que pela primeira vez mirou simultaneamente na presidente Dilma e no seu antecessor Lula, elevou o clima político à temperatura máxima.
Os dois sempre foram o alvo preferencial oculto da força-tarefa criada há dois anos para investigar o chamado petrolão. Ao decretar a prisão de João Santana, o marqueteiro e guru dos dois petistas, responsável pelas últimas três campanhas presidenciais, as investigações chegaram ao centro do poder, embora os procuradores garantam não ser ainda este o objetivo no momento.
Para as oposições, que desde a reeleição de Dilma em outubro de 2014, não se conformaram com o resultado, agora tudo é só uma questão de tempo, não importa o meio utilizado para afastá-la do Palácio do Planalto - se pela cassação no TSE ou o impeachment no Congresso Nacional. Os dois movimentos agora correm paralelamente, com o governo imobilizado, mostrando dificuldades para encetar qualquer reação.
As novas revelações feitas pela Lava Jato sobre contas de João Santana no exterior, que teriam sido abastecidas por propinas de empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, colocam em cheque a defesa da presidente e dão novo folego aos processos movidos pelo PSDB na Justiça Eleitoral. Flávio Caetano, advogado da campanha de Dilma, reafirmou que todos os pagamentos feitos ao marqueteiro na última campanha eleitoral foram declarados ao TSE.
Em outra ofensiva, desencadeada no mesmo dia pela Operação Acarajé, na 23ª fase da Operação Lava Jato, o alvo foi o ex-presidente Lula para apurar "possível envolvimento em práticas criminosas", por suspeitas de que a sede do Instituto Lula e outras propriedades tenham sido bancadas pela Odebrecht com recursos desviados da Petrobras. O Instituto Lula informou que a entidade nem existia em 2010, data em que os pagamentos teriam sido feitos.
Com a ressalva de que estas investigações devem ser feitas "com parcimônia", o relatório da Polícia Federal afirma: "É importante que seja mencionado que a investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de A ou B. Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada".
Quem mais poderá ser A ou B depois da blietzkrieg desfechada nas ultimas semanas pela força-tarefa contra o ex-presidente para investigar suas relações com executivos de empresas privadas já denunciados e condenados na Lava Jato?
Qualquer que seja o desfecho jurídico da novela, o desgaste político dos dois líderes petistas já está comprovado por todas as pesquisas. Defenestrar Dilma e imobilizar Lula é tudo o que querem os adversários para que sejam logo convocadas novas eleições. As mesmas pesquisas, porém, mostram que nenhuma força política se beneficiou da derrocada do PT a ponto de poder formar uma nova hegemonia capaz de enfrentar a grave crise em que estamos afundados.
De imediato, uma coisa é coisa é certa: a Operação Acarajé vai ter reflexos na votação do ajuste fiscal, tornando ainda mais frágil a posição do governo e mais improvável a recuperação da economia, além de servir para municiar os opositores que já começaram a convocar novas manifestações de protesto para daqui a três semanas. Parece que tudo obedece a um cronograma invisível a olho nu, que só os historiadores do futuro poderão escarafunchar. Cobrem-me daqui a 50 anos...
O problema é saber até onde o País aguenta esta situação que caminha para um impasse institucional e a anomia econômica. Não se trata de ser pessimista ou otimista, mas apenas de encarar a realidade como ela é, sem a fantasia das novelas e sem tomar partido.
Vida que segue.
Fosse a nossa vida real uma novela, poderíamos dizer que estamos entrando agora nos capítulos decisivos, mas ninguém ainda tem ideia de quando nem como ela vai terminar. A operação casada da Lava Jato nesta segunda-feira, que pela primeira vez mirou simultaneamente na presidente Dilma e no seu antecessor Lula, elevou o clima político à temperatura máxima.
Os dois sempre foram o alvo preferencial oculto da força-tarefa criada há dois anos para investigar o chamado petrolão. Ao decretar a prisão de João Santana, o marqueteiro e guru dos dois petistas, responsável pelas últimas três campanhas presidenciais, as investigações chegaram ao centro do poder, embora os procuradores garantam não ser ainda este o objetivo no momento.
Para as oposições, que desde a reeleição de Dilma em outubro de 2014, não se conformaram com o resultado, agora tudo é só uma questão de tempo, não importa o meio utilizado para afastá-la do Palácio do Planalto - se pela cassação no TSE ou o impeachment no Congresso Nacional. Os dois movimentos agora correm paralelamente, com o governo imobilizado, mostrando dificuldades para encetar qualquer reação.
As novas revelações feitas pela Lava Jato sobre contas de João Santana no exterior, que teriam sido abastecidas por propinas de empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, colocam em cheque a defesa da presidente e dão novo folego aos processos movidos pelo PSDB na Justiça Eleitoral. Flávio Caetano, advogado da campanha de Dilma, reafirmou que todos os pagamentos feitos ao marqueteiro na última campanha eleitoral foram declarados ao TSE.
Em outra ofensiva, desencadeada no mesmo dia pela Operação Acarajé, na 23ª fase da Operação Lava Jato, o alvo foi o ex-presidente Lula para apurar "possível envolvimento em práticas criminosas", por suspeitas de que a sede do Instituto Lula e outras propriedades tenham sido bancadas pela Odebrecht com recursos desviados da Petrobras. O Instituto Lula informou que a entidade nem existia em 2010, data em que os pagamentos teriam sido feitos.
Com a ressalva de que estas investigações devem ser feitas "com parcimônia", o relatório da Polícia Federal afirma: "É importante que seja mencionado que a investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de A ou B. Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada".
Quem mais poderá ser A ou B depois da blietzkrieg desfechada nas ultimas semanas pela força-tarefa contra o ex-presidente para investigar suas relações com executivos de empresas privadas já denunciados e condenados na Lava Jato?
Qualquer que seja o desfecho jurídico da novela, o desgaste político dos dois líderes petistas já está comprovado por todas as pesquisas. Defenestrar Dilma e imobilizar Lula é tudo o que querem os adversários para que sejam logo convocadas novas eleições. As mesmas pesquisas, porém, mostram que nenhuma força política se beneficiou da derrocada do PT a ponto de poder formar uma nova hegemonia capaz de enfrentar a grave crise em que estamos afundados.
De imediato, uma coisa é coisa é certa: a Operação Acarajé vai ter reflexos na votação do ajuste fiscal, tornando ainda mais frágil a posição do governo e mais improvável a recuperação da economia, além de servir para municiar os opositores que já começaram a convocar novas manifestações de protesto para daqui a três semanas. Parece que tudo obedece a um cronograma invisível a olho nu, que só os historiadores do futuro poderão escarafunchar. Cobrem-me daqui a 50 anos...
O problema é saber até onde o País aguenta esta situação que caminha para um impasse institucional e a anomia econômica. Não se trata de ser pessimista ou otimista, mas apenas de encarar a realidade como ela é, sem a fantasia das novelas e sem tomar partido.
Vida que segue.
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