Por Saul Leblon, no site Carta Maior:
O anúncio de um fim de ciclo histórico nem sempre assume a forma de um alvorecer virtuoso.
É mais comum o oposto.
Até que uma nova ordem se imponha, a desordem é senhora.
A passagem da era colonial para a primeira crise capitalista do início do século XX foi marcada pela carnificina da Guerra de 1914-1918, cujo término completa 96 anos neste mês de novembro.
Dez milhões de pessoas morreram; 20 milhões ficaram feridas.
Assim se desenhou o mundo das novas potências.
Ao acerto de contas colonial sobreveio um ciclo de brutal rivalidade capitalista.
A paz nascida dessa transição tumultuada impôs à Alemanha custos e reparações a tal ponto extorsivos que permitiram aos partidários de Adolf Hitler fazer campanha eleitoral apenas lendo o Tratado de Versalhes no rádio.
A instabilidade foi suficiente para alçar Hitler ao posto de chanceler em 1933, mesmo com frágil maioria parlamentar.
O resto é sabido.
A Segunda Guerra mundial matou 50 milhões de pessoas.
Desse cemitério brotaria a ordem negociada em Bretton Woods.
O chamado período de ouro do capitalismo, feito de crescimento e ampliação de direitos, estendeu-se até meados dos anos 70, quando a revanche neoliberal começou a tomar de volta tudo o que havia alicerçado o edifício da democracia social.
A eleição de Trump, oito anos após o colapso sistêmico de 2008, demarca um novo recorte sísmico (Leia o Especial de Carta Maior neste domingo com a seleção das melhores análises sobre o terremoto norte-americano)
O acerto de contas com a desordem neoliberal irrompe de dentro de suas próprias fileiras, a partir de uma visão fascista da sociedade e do desenvolvimento.
Como foi a dos nacional-socialistas nos anos 30.
A diferença no Brasil é que o terremoto então abriu espaço à ascensão de Vargas e à consolidação do Estado nacional brasileiro.
Hoje, em meio a uma crise sistêmica como a de 1929, o golpe se empenha na tentativa anacrônica de engatar o país à ordem econômica que se despede.
A desmentida ilusão de que, derrubando Dilma, as 'expectativas revigoradas dos livres mercados' fariam o resto, mostra a inconsistência dessa escolha.
‘Fosse assim, a virada já teria ocorrido’, admitiu em entrevista lúgubre ao Estadão, o ex-presidente do Banco central de FHC, Armínio Fraga.
Sem o endosso da realidade, o que era difícil ficou definitivamente para trás após a eleição de Trump.
Por variadas razões.
O republicano pretende, por exemplo, gastar US$ 1 trilhão em infraestrutura esfarelando duplamente o chão do golpe.
O gasto pressionará a taxa de juro nos EUA dificultando o corte da Selic aqui, um requisito à retomada do investimento e à redução do aperto fiscal.
O que sobra?
O país gasta hoje cerca de 8% do PIB com juros da dívida pública.
Um despautério imexível pela coalizão golpista, que evidencia assim seu deslocamento num mundo em que cerca de US$ 13 trilhões estão ancorados em títulos a juros negativos...
Segundo o economista Amir Khair, da FGV, o serviço dessa dívida indexada às maiores taxas de juros do planeta consome em 45 dias toda a tributação adicional (R$50,9 bilhões) obtida com a repatriação do dinheiro mantido no exterior.
É um garrote maiúsculo, mas o golpe e seus jornalistas privilegiam o peso do salário mínimo no rombo da previdência, que tem na aposentadoria integral dos militares 50% de sua raiz.
Não para aí.
Dos anos 30 aos anos 50, Getúlio fez do Brasil um canteiro de obras e de instituições de desenvolvimento.
Hoje o golpe se abala no desmonte das ferramentas de preservação do investimento público e privado.
O que sobra?
Com a fartura de recursos e obras no governo Trump, quem vai se interessar por concessões num Brasil institucionalmente instável, sem financiamento público, com mercado interno minguante e juros siderais?
Pior que isso.
A participação privada na infraestrutura brasileira já capturou o filé mignon em quase todos os setores.
Isso a torna muito mais seletiva e arredia a partir de agora.
Sem a participação ativa do Estado, nada se fará.
Pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) mostra que no setor de transportes, por exemplo, 50% de todo o investimento registrado entre 2003 e 2015, foi feito pelo capital privado –o mesmo que a mídia dizia arredio pela desconfiança nas regras dos governos petistas.
Nos EUA esse fatia não chega a 9%; nos BRICS (exceto África) a média é de 3%.
Nos EUA, apenas 0,3% dos 6,5 milhões de kms de rodovias do país estão sob controle privado.
No Brasil são 15,5% de uma malha total de 64 mil kms...
O caso dos aeroportos é ainda mais expressivo.
Com as quatro unidades a serem concedidas em 2017, quase 70% do fluxo de passageiros do país estará sob gestão privada.
Restará apenas o aeroporto de Curitiba com escala atraente ao interesse privado, avisa o estudo do Ipea.
A revoada de investidores prevista pelo golpismo, num cálculo muito mais ideológico do que realista, não ocorrerá.
Desse descompasso entre a propaganda da mídia e a realidade dos tempos emerge a radiografia de uma assustadora bancarrota.
As novas referências geopolíticas trazidas pelo vento protecionista dos EUA só farão agravar a agonia da agenda golpista.
A ilusória intenção de engatar o destino do país a tratados de livre comércio, por exemplo.
Dotados de tribunais de exceção com soberania jurídica e legislativa para punir Estados e governos em defesa das corporações, eles compunham o corolário ideológico do neoliberalismo tardio brasileiro.
Com Trump trancando a maçaneta do maior mercado mundial, essa porta se fechou.
Sobra a dura realidade de indicadores descendo a ladeira sem freio.
As projeções apontam um tombo do PIB entre 3,6% a 4% este ano.
Para 2017 previa-se uma expansão medíocre de 1% e mesmo ela, feita pré-eleição americana, tornou-se irreal.
O desemprego continuará a crescer para atingir 13% da PEA, com fechamento médio de 100 mil vagas mensais.
O poder de compra das famílias brasileiras, depois de crescer continuamente de 2003 a 2014 , acumulará um mergulho de 10% no biênio 2015/2016.
Com a massa de famílias assalariadas sem renda e sem crédito o horizonte aqui também é estreito.
A boutade golpista –‘sem consumo, é hora de crescer pelo investimento’— soa como aquele estágio no deserto em que o comprometimento biológico desencadeia alucinações.
Com juros de 14,25%, sem investimento público, sem crédito do BNDES e com elevada capacidade ociosa no setor produtivo, quem vai investir no Brasil?
Um olhar mais detido enxergará obstáculos de complexidade adicional.
O colapso econômico brasileiro encerra desafios históricos inéditos.
O principal deles remete à perda de dinamismo industrial na estrutura de crescimento do país.
Não é uma questão técnica.
O esgarçamento das cadeias industriais corrói o núcleo duro de produtividade em uma sociedade.
Reduz seu ‘budget’ para investir em obras, direitos e cidadania.
O setor capaz de bombear saltos de eficiência e de receita --e de ampliar a oferta de empregos de qualidade, por conta de seu poder irradiador--- é o manufatureiro.
Segundo o IBGE , a fatia da industrial no valor adicionado ao PIB brasileiro era de 17,4% em 2005.
Recuou para 10,9% este ano.
Fruto em grande medida da sistemática valorização do Real desde os anos 90 –e consequente vazamento de demanda interna para importações chinesas.
A reversão desse processo em nosso tempo tornou-se bem mais complexa do que imagina o próprio Trump.
Como já disse a professora Maria da Conceição à Carta Maior, o que os chineses tonaram não tem volta.
O que está em disputa agora é a 4ª revolução industrial.
Ela inclui a digitalização dos processos, a robotização de linhas, a precisão e a integração de etapas, cadeias e áreas de conhecimento aplicados à manufatura.
O Brasil tem dois trunfos com escala e densidade suficientes para ocupar um espaço nesse ciclo: a ecoagricultura e o impulso industrializante contido na cadeia do pre-sal.
O requisito capaz de interligar esse potencial a um novo ciclo de desenvolvimento é a soberania na sua condução.
Sem ela, o leme cai nas mãos das grandes corporações
Como está caindo, graças ao projeto de liberação de terras aos estrangeiros e do desmonte do modelo soberano de partilha do pre-sal.
Retomar os espaços de soberania e planejamento democrático constitui, assim, o requisito de vida ou morte para o futuro da industrialização e do país no século XXI.
Subestimar a envergadura das respostas c0bradas pelo esgotamento neoliberal não é, infelizmente, um apanágio golpista.
Isso explica também os erros e omissões cometidos por governos petistas, que apostaram em uma regeneração das condições de mercado anteriores à crise de 2008, como se vivêssemos um evento transitório, e não um colapso terminal.
O erro de cálculo histórico levou a dois outros, interligados.
Insistir apenas na prorrogação de estímulos ao consumo, quando medidas estruturais de autoproteção do desenvolvimento –controle da conta de capitais, por exemplo, indispensável à redução dos juros, sem fuga de dólares-- deveriam ter sido tomadas, é um deles.
O outro, render-se ao ‘consenso do ajuste ortodoxo’ no momento em que os desequilíbrios explodiam e uma repactuação política do desenvolvimento figurava como a única alternativa real ao descontrole.
Na verdade, ainda figura. Esse é o ponto.
Há quem considere ilusório o resgate dessa bandeira nas mãos de uma frente ampla
Mais ilusório é supor que a roda da democracia social poderá girar de novo no país sem esse repto.
É certo que o corredor histórico se estreitou.
Alargá-lo, porém, não é uma questão de fé.
Quem pode desobstruí-lo é a aglutinação pactuada dos inúmeros interesses, setores sociais e produtivos atingidos pelo arrocho neoliberal.
Na história das lutas sociais o indispensável só é impossível até ganhar nervos e musculatura das forças que dependem dele para respirar e progredir.
O golpe destruiu tudo ao mesmo tempo: as bases da economia, as da política e as do diálogo democrático.
Dissolveu o chão firme da nação e não dispõe de liderança, nem de projeto, tampouco de legitimidade para reconstruí-lo.
Num tempo que estrebucha e ameaça levar de roldão as nações há duas alternativas.
Tirar a economia do altar sagrado da ortodoxia e expô-la a uma repactuação democrática do desenvolvimento – a opção de uma frente ampla progressista.
Ou aguardar a chegada de um correlato fascistóide à moda ‘Trump’
O jogo é pesado.
A roleta gira nervosamente.
Entre a escuridão e o parto de uma nova esperança define-se o destino do Brasil.
O anúncio de um fim de ciclo histórico nem sempre assume a forma de um alvorecer virtuoso.
É mais comum o oposto.
Até que uma nova ordem se imponha, a desordem é senhora.
A passagem da era colonial para a primeira crise capitalista do início do século XX foi marcada pela carnificina da Guerra de 1914-1918, cujo término completa 96 anos neste mês de novembro.
Dez milhões de pessoas morreram; 20 milhões ficaram feridas.
Assim se desenhou o mundo das novas potências.
Ao acerto de contas colonial sobreveio um ciclo de brutal rivalidade capitalista.
A paz nascida dessa transição tumultuada impôs à Alemanha custos e reparações a tal ponto extorsivos que permitiram aos partidários de Adolf Hitler fazer campanha eleitoral apenas lendo o Tratado de Versalhes no rádio.
A instabilidade foi suficiente para alçar Hitler ao posto de chanceler em 1933, mesmo com frágil maioria parlamentar.
O resto é sabido.
A Segunda Guerra mundial matou 50 milhões de pessoas.
Desse cemitério brotaria a ordem negociada em Bretton Woods.
O chamado período de ouro do capitalismo, feito de crescimento e ampliação de direitos, estendeu-se até meados dos anos 70, quando a revanche neoliberal começou a tomar de volta tudo o que havia alicerçado o edifício da democracia social.
A eleição de Trump, oito anos após o colapso sistêmico de 2008, demarca um novo recorte sísmico (Leia o Especial de Carta Maior neste domingo com a seleção das melhores análises sobre o terremoto norte-americano)
O acerto de contas com a desordem neoliberal irrompe de dentro de suas próprias fileiras, a partir de uma visão fascista da sociedade e do desenvolvimento.
Como foi a dos nacional-socialistas nos anos 30.
A diferença no Brasil é que o terremoto então abriu espaço à ascensão de Vargas e à consolidação do Estado nacional brasileiro.
Hoje, em meio a uma crise sistêmica como a de 1929, o golpe se empenha na tentativa anacrônica de engatar o país à ordem econômica que se despede.
A desmentida ilusão de que, derrubando Dilma, as 'expectativas revigoradas dos livres mercados' fariam o resto, mostra a inconsistência dessa escolha.
‘Fosse assim, a virada já teria ocorrido’, admitiu em entrevista lúgubre ao Estadão, o ex-presidente do Banco central de FHC, Armínio Fraga.
Sem o endosso da realidade, o que era difícil ficou definitivamente para trás após a eleição de Trump.
Por variadas razões.
O republicano pretende, por exemplo, gastar US$ 1 trilhão em infraestrutura esfarelando duplamente o chão do golpe.
O gasto pressionará a taxa de juro nos EUA dificultando o corte da Selic aqui, um requisito à retomada do investimento e à redução do aperto fiscal.
O que sobra?
O país gasta hoje cerca de 8% do PIB com juros da dívida pública.
Um despautério imexível pela coalizão golpista, que evidencia assim seu deslocamento num mundo em que cerca de US$ 13 trilhões estão ancorados em títulos a juros negativos...
Segundo o economista Amir Khair, da FGV, o serviço dessa dívida indexada às maiores taxas de juros do planeta consome em 45 dias toda a tributação adicional (R$50,9 bilhões) obtida com a repatriação do dinheiro mantido no exterior.
É um garrote maiúsculo, mas o golpe e seus jornalistas privilegiam o peso do salário mínimo no rombo da previdência, que tem na aposentadoria integral dos militares 50% de sua raiz.
Não para aí.
Dos anos 30 aos anos 50, Getúlio fez do Brasil um canteiro de obras e de instituições de desenvolvimento.
Hoje o golpe se abala no desmonte das ferramentas de preservação do investimento público e privado.
O que sobra?
Com a fartura de recursos e obras no governo Trump, quem vai se interessar por concessões num Brasil institucionalmente instável, sem financiamento público, com mercado interno minguante e juros siderais?
Pior que isso.
A participação privada na infraestrutura brasileira já capturou o filé mignon em quase todos os setores.
Isso a torna muito mais seletiva e arredia a partir de agora.
Sem a participação ativa do Estado, nada se fará.
Pesquisa do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) mostra que no setor de transportes, por exemplo, 50% de todo o investimento registrado entre 2003 e 2015, foi feito pelo capital privado –o mesmo que a mídia dizia arredio pela desconfiança nas regras dos governos petistas.
Nos EUA esse fatia não chega a 9%; nos BRICS (exceto África) a média é de 3%.
Nos EUA, apenas 0,3% dos 6,5 milhões de kms de rodovias do país estão sob controle privado.
No Brasil são 15,5% de uma malha total de 64 mil kms...
O caso dos aeroportos é ainda mais expressivo.
Com as quatro unidades a serem concedidas em 2017, quase 70% do fluxo de passageiros do país estará sob gestão privada.
Restará apenas o aeroporto de Curitiba com escala atraente ao interesse privado, avisa o estudo do Ipea.
A revoada de investidores prevista pelo golpismo, num cálculo muito mais ideológico do que realista, não ocorrerá.
Desse descompasso entre a propaganda da mídia e a realidade dos tempos emerge a radiografia de uma assustadora bancarrota.
As novas referências geopolíticas trazidas pelo vento protecionista dos EUA só farão agravar a agonia da agenda golpista.
A ilusória intenção de engatar o destino do país a tratados de livre comércio, por exemplo.
Dotados de tribunais de exceção com soberania jurídica e legislativa para punir Estados e governos em defesa das corporações, eles compunham o corolário ideológico do neoliberalismo tardio brasileiro.
Com Trump trancando a maçaneta do maior mercado mundial, essa porta se fechou.
Sobra a dura realidade de indicadores descendo a ladeira sem freio.
As projeções apontam um tombo do PIB entre 3,6% a 4% este ano.
Para 2017 previa-se uma expansão medíocre de 1% e mesmo ela, feita pré-eleição americana, tornou-se irreal.
O desemprego continuará a crescer para atingir 13% da PEA, com fechamento médio de 100 mil vagas mensais.
O poder de compra das famílias brasileiras, depois de crescer continuamente de 2003 a 2014 , acumulará um mergulho de 10% no biênio 2015/2016.
Com a massa de famílias assalariadas sem renda e sem crédito o horizonte aqui também é estreito.
A boutade golpista –‘sem consumo, é hora de crescer pelo investimento’— soa como aquele estágio no deserto em que o comprometimento biológico desencadeia alucinações.
Com juros de 14,25%, sem investimento público, sem crédito do BNDES e com elevada capacidade ociosa no setor produtivo, quem vai investir no Brasil?
Um olhar mais detido enxergará obstáculos de complexidade adicional.
O colapso econômico brasileiro encerra desafios históricos inéditos.
O principal deles remete à perda de dinamismo industrial na estrutura de crescimento do país.
Não é uma questão técnica.
O esgarçamento das cadeias industriais corrói o núcleo duro de produtividade em uma sociedade.
Reduz seu ‘budget’ para investir em obras, direitos e cidadania.
O setor capaz de bombear saltos de eficiência e de receita --e de ampliar a oferta de empregos de qualidade, por conta de seu poder irradiador--- é o manufatureiro.
Segundo o IBGE , a fatia da industrial no valor adicionado ao PIB brasileiro era de 17,4% em 2005.
Recuou para 10,9% este ano.
Fruto em grande medida da sistemática valorização do Real desde os anos 90 –e consequente vazamento de demanda interna para importações chinesas.
A reversão desse processo em nosso tempo tornou-se bem mais complexa do que imagina o próprio Trump.
Como já disse a professora Maria da Conceição à Carta Maior, o que os chineses tonaram não tem volta.
O que está em disputa agora é a 4ª revolução industrial.
Ela inclui a digitalização dos processos, a robotização de linhas, a precisão e a integração de etapas, cadeias e áreas de conhecimento aplicados à manufatura.
O Brasil tem dois trunfos com escala e densidade suficientes para ocupar um espaço nesse ciclo: a ecoagricultura e o impulso industrializante contido na cadeia do pre-sal.
O requisito capaz de interligar esse potencial a um novo ciclo de desenvolvimento é a soberania na sua condução.
Sem ela, o leme cai nas mãos das grandes corporações
Como está caindo, graças ao projeto de liberação de terras aos estrangeiros e do desmonte do modelo soberano de partilha do pre-sal.
Retomar os espaços de soberania e planejamento democrático constitui, assim, o requisito de vida ou morte para o futuro da industrialização e do país no século XXI.
Subestimar a envergadura das respostas c0bradas pelo esgotamento neoliberal não é, infelizmente, um apanágio golpista.
Isso explica também os erros e omissões cometidos por governos petistas, que apostaram em uma regeneração das condições de mercado anteriores à crise de 2008, como se vivêssemos um evento transitório, e não um colapso terminal.
O erro de cálculo histórico levou a dois outros, interligados.
Insistir apenas na prorrogação de estímulos ao consumo, quando medidas estruturais de autoproteção do desenvolvimento –controle da conta de capitais, por exemplo, indispensável à redução dos juros, sem fuga de dólares-- deveriam ter sido tomadas, é um deles.
O outro, render-se ao ‘consenso do ajuste ortodoxo’ no momento em que os desequilíbrios explodiam e uma repactuação política do desenvolvimento figurava como a única alternativa real ao descontrole.
Na verdade, ainda figura. Esse é o ponto.
Há quem considere ilusório o resgate dessa bandeira nas mãos de uma frente ampla
Mais ilusório é supor que a roda da democracia social poderá girar de novo no país sem esse repto.
É certo que o corredor histórico se estreitou.
Alargá-lo, porém, não é uma questão de fé.
Quem pode desobstruí-lo é a aglutinação pactuada dos inúmeros interesses, setores sociais e produtivos atingidos pelo arrocho neoliberal.
Na história das lutas sociais o indispensável só é impossível até ganhar nervos e musculatura das forças que dependem dele para respirar e progredir.
O golpe destruiu tudo ao mesmo tempo: as bases da economia, as da política e as do diálogo democrático.
Dissolveu o chão firme da nação e não dispõe de liderança, nem de projeto, tampouco de legitimidade para reconstruí-lo.
Num tempo que estrebucha e ameaça levar de roldão as nações há duas alternativas.
Tirar a economia do altar sagrado da ortodoxia e expô-la a uma repactuação democrática do desenvolvimento – a opção de uma frente ampla progressista.
Ou aguardar a chegada de um correlato fascistóide à moda ‘Trump’
O jogo é pesado.
A roleta gira nervosamente.
Entre a escuridão e o parto de uma nova esperança define-se o destino do Brasil.
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