Por Bajonas Teixeira, no blog Cafezinho:
É preciso entender os efeitos das denúncias da JBS. Sabemos que foi um golpe nos golpistas - Michel Temer e Aécio Neves foram encurralados. Será muito difícil escaparem do cerco. Temer, com mais apoios entre o grande capital (Fiesp, CNI, bancos e latifúndio) está tentando romper o cerco. Mas, massacrado pela parte mais poderosa da mídia (a Globo), encurralado pela Justiça e fustigado pela OAB, com a base política derretendo, ele deve cair. Pode demorar um pouco, mas é inexorável. Junto com Temer, são os políticos, sempre tidos como os homens mais espertos do país, que levaram uma rasteira histórica. Quem os ludibriou?
Quem deu o golpe?
Joesley Batista, o dono da JBS, pode ter gravado conversas com Temer e com Aécio, mas quem deu legitimidade às gravações, as manteve em segredo, e revelou num momento em que Temer menos esperava? Foi o judiciário em parceria com o ministério público, sempre com o auxílio luxuoso da mídia. O que significa isso? Significa que um dos braços do golpe, o da justiça, atacou e neutralizou a força do outro, o da política. Os políticos, os homens sempre reputados os mais espertos do Brasil, as raposas, foram ludibriados. Nunca mais o poder dos políticos será o mesmo.
Isso significa também que a mídia se afastou dos políticos que ela mesma, através do primeiro golpe, o do impeachment de Dilma, pôs no poder. Ou melhor, uma parte da mídia, essa dirigida pela Globo. A Folha de São Paulo vai, claramente, se posicionando em favor de Temer.
Contra quem o golpe da JBS foi dado?
Ele foi dado contra aqueles que encabeçaram o golpe desde do seu início, Aécio, presidente nacional do PSDB, e Temer, presidente nacional do PMDB. O primeiro, insatisfeito com a derrota, articulou a cassação e o impeachment, desde o início. O segundo, encabeçou a traição a Dilma e assinou todas as propostas políticas antidemocráticas para dar espaço à sua camarilha e pilhar o estado. Um verdadeiro ataque de piratas recoberto pelas reformas. O problema é que, assim, o PSDB e o PMDB, se sentem golpeados, e tentarão resistir até onde puderem.
A harmonia do primeiro golpe, juntou no mesmo coro as vozes desses políticos, da mídia, do judiciário, do ministério público, da Fiesp, da CNI, etc. Mas o projeto de pilhagem do estado, a completa desmoralização da política, os riscos estruturais, acirraram o embate entre o avanço da Lava Jato e a cúpula da política. O conflito ganhou a forma de manobras para aprovar leis limitadoras contra a Lava Jato, como revelou inicialmente as gravações de figuras da cúpula do poder feitas por Sérgio Machado.
A evolução dessas tentativas, colocou para o Judiciário e a PGR o dilema simples: derrubar essa camarilha política ou serem asfixiados por ela.
O que está acontecendo agora?
A Fiesp, a federação das indústrias de SP, a Febraban, que é a federação nacional dos bancos, junto com a CNA (Agricultura), e CNI (Indústria), formaram uma coligação e incentivaram Temer a resistir. A Folha de São Paulo se alinha claramente com essas forças.
De outro, junto às corporações do estado (Judiciário e MPF), se postou a Rede Globo. A OAB, ontem, decidiu protocolar um pedido de impeachment de Temer. Há motivos para crer que só uma grande mobilização das ruas, pode apressar a queda de Temer. Isso criaria uma estranha aliança, com a Globo, a CNBB, a OAB, os movimentos populares, posicionados do mesmo lado. É insólito, mas está acontecendo. Claro que, embora a Globo esteja posicionada nitidamente contra a permanência de Temer, não se sabe até que ponto manterá posição contra as maiores forças do capitalismo brasileiro. Ao invés de aguardar para ver, o mais aconselhável é ir para as ruas para decidir.
Sem resistência, não teremos o fim do golpe, mas um pesadelo ainda mais assustador.
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