Por Paulo Kliass, no site Carta Maior:
A verdadeira obstinação com que Michel Temer e sua turma se agarram ao poder a qualquer custo tem causado um profundo e extenso conjunto de maldades ao nosso país. No início, tudo parecia caminhar às mil maravilhas. A unificação dos grupos mais expressivos das classes dominantes em torno do projeto do golpeachment oferecia o sedutor ingresso para adentrar as portas do paraíso. Pouco importava, à época, se o casuísmo implicava destituir sem nenhuma base legal ou constitucional uma presidenta eleita democraticamente pela maioria da população. Afinal, tudo valia para colocar em prática o programa que havia sido derrotado nas urnas.
O financismo costurou muito bem costurado o discurso de que bastava tirar Dilma e substituir a equipe econômica por gente com o suposto perfil técnico e competente. Para tanto, nada parecia mais adequado do que chamar dois banqueiros para comandar a economia: Meirelles do Bank of Boston e Goldfajn do Itaú. Nessa trajetória, Temer era apenas visto tão somente como o instrumento para que as reformas sugeridas pelo sistema financeiro há muito tempo fossem finalmente implementava como política pública oficial. Nada mais adequado para cumprir com a tarefa de mudanças institucionais impopulares do que um governo que não precisa de voto popular.
Os propagandistas dos grandes meios de comunicação ofereceram sua valorosa e desinteressada colaboração para consolidar essa visão junto à opinião pública. As expectativas sugeridas pelos formadores de opinião foram marteladas insistentemente na base do “agora vai” e na certeza de que o Brasil iria finalmente superar a crise e encontrar o caminho do crescimento. Afinal, todos os males haveriam de ser extirpados com destituição de Dilma e com a chegada do povo genuíno do sistema financeiro no centro do governo.
No entanto, a maioria deles se esqueceu de alguns pequenos detalhes. Não é por mero acaso que Michel Temer é conhecido nos meios brasilienses por alcunhas que o identificam com seres vampirescos ou da mordomia subterrânea. Como disse certa vez Antonio Carlos Magalhães, caso abandonasse a política, o peemedebista paulista teria sua sobrevivência plenamente assegurada como “mordomo de filme de horror”. Essa falta de empatia na relação com a população em geral pode até parecer contraditória para alguém que tem vencido sucessivas eleições ao longo das últimas décadas. Só que não.
O fato é que o presidente ilegítimo apresenta profunda dificuldade no trato direto com seus representados, na imagem de chefe do Executivo com o povo. Uma coisa é sua habilidade em negociar nos bastidores. Outra, muito diferente, a (in)capacidade de elevar à frente um governo sem nem mesmo ter disputado tal eleição na frente de batalha. E aqui entra o sério problema de sua impopularidade elevada e sua taxa de rejeição crescente. Seu governo não consegue angariar a mínima empatia junto ao imaginário popular para obter o apoio necessário em sua caminhada neste momento tão difícil.
A ponte para o futuro que o PMDB vendeu aos empresários e aos sonhadores do golpe não mal passou da etapa de anteprojeto de engenharia. Até mesmo aliados de primeira hora, como o ex-presidente Fernando Henrique, assumiram a imagem da pinguela para bem caracterizar a travessia perigosa e arriscada proposta por Temer. A manutenção e o aprofundamento da política do austericídio contribuíram para reduzir ainda mais a sua já baixíssima popularidade. Além da pouca empatia no trato popular, seu governo viu os níveis de desemprego se elevarem drasticamente, com todas as consequências do ponto de vista da piora das condições de vida da maioria de nossas famílias. O manual de botequim da ortodoxia conservadora recomendava a recessão como estratégia de solução para a crise, uma vez que os principais problemas a serem combatidos seriam o risco da inflação e o descontrole dos gastos públicos. Equívoco ou enganação? Você decide.
No plano das demais políticas públicas, o governo optou pela entrega das riquezas brasileiras para o capital internacional. Apoiado no discurso doutrinário contra o Estado e clamando contra as ineficiências do empresariado nacional beneficiado por generosidades estatais, os tucanos chamados por Temer foram lapidando com esmero as políticas da privatização da Petrobrás e sua entrega para as grandes petroleiras do mundo capitalista. Além disso, foram promovendo concessões e privatizações à mancheia na área de infraestrutura, em contexto que só atraía os fundos financeiros internacionais para se interessar pelos empreendimentos.
Além disso, em um dos poucos setores que ainda se mantinham operantes, o governo avançou na entreguismo exacerbado, autorizando a venda de terras para proprietários estrangeiros sem limite de tamanho. O extenso ramo do agronegócio brasileiro passa a ser incorporado à lista de interesses dos grandes fundos especulativos mundo afora em um departamento antes proibido a eles: a própria produção agropecuária. O mesmo ocorre em área sensível e estratégica, inclusive do ponto de vista da segurança nacional e da diplomacia. O governo Temer pretende privatizar as fontes de água de nosso território, quando todos os cenários prospectivos apontam para esse bem finito se transformando em objeto de disputa entre países no médio prazo. Não são poucos os especialistas que consideram a disputa por fontes de água como um dos principais fatores dos próximos conflitos no mundo.
Some-se a esse quadro o conhecimento público dos sucessivos escândalos envolvendo o próprio ocupante do Palácio do Planalto e seus assessores mais próximos. A baixa popularidade vem combinada a medidas impopulares e - ambas somadas às denúncias de corrupção inquestionáveis - reduzem cada vez mais a margem de ação e de manobra do governo. Acuado e na defensiva, Temer vem perdendo as poucas reservas para exercer o protagonismo que se esperava de um líder que prometia conduzir a travessia.
Sua bala de prata reside na chantagem relativa aos projetos do desmonte trabalhista e previdenciária. O argumento de que seria o único capaz de entregar a promessa tão desejada pelo empresariado e pelo financismo não mais se sustenta. A própria base aliada no Congresso Nacional se desfaz a cada dia que passa e a cada novo escândalo que ganha as manchetes dos jornais. Tanto que as próprias empresas de comunicação já começam a rifar o governo em que tanto apostaram até alguns meses atrás. Oh, santa traição! Por incrível que pareça, agora ensaiam um freio de arrumação em seu entusiasmo inicial. Com isso, somam-se ao clamor popular do #ForaTemer e alguns de seus expoentes ousam mesmo anunciar suas simpatias ao movimento das #DiretasJá.
No campo da própria política econômica, os efeitos da opção recessiva apresentam a fatura e impedem a retomada do crescimento tão almejado. Ao que tudo indica os ilustrados do Ministério da Fazenda esqueceram-se de avisar ao constitucionalista algumas das lições básicas de qualquer manual de macroeconomia. A redução no ritmo das atividades econômicas de forma generalizada como a atual retorna como um tiro no pé no governante que contava com recursos tributários para superar momentos de dificuldade fiscal.
A recessão provoca queda nas receitas de impostos e o governo fica com menos recurso ainda para ancorar qualquer estratégia de saída para a crise – por mais conservador ou liberal que seja seu desenho. Ao perceber que não podem mais contar com recursos públicos para seus projetos, os políticos da própria base aliada se esquivam e os empresários escondem seu antigo entusiasmo para com os golpistas. Todos pressionam por benesses e o rigor purista da ortodoxia empoderada avisa que não tem como atender.
Ora, esse quadro para lá de desesperador não se sustenta no tempo. Tanto que a maior parte dos integrantes “esclarecidos” de nossa elite oferecem seu conselho de forma unânime ao residente do Palácio do Jaburu: renuncie! Esse governo não tem mais como continuar e esse é o desejo manifesto da maioria da população. O problema é que sua teimosia em permanecer destrói a cada instante a capacidade econômica e desagrega ainda mais o tecido social. O receio de perder o foro privilegiado fala mais alto e Temer não aceita as sugestões de se retirar em suposto gesto de grandeza.
Esse é verdadeiro crime de lesa Pátria cometido diuturnamente por Temer. Ao esticar uma permanência indesejada por quase todos, seu governo aumenta ainda mais os obstáculos para a superação da crise em futuro próximo. Ele resiste enquanto todos sabem que não consegue chegar ao fim. Mas ele acaba com o Brasil nessa tresloucada irresponsabilidade. As finanças públicas ficam ainda mais destroçadas. A riqueza nacional tende a ser entregue aos grupos estrangeiros. Os efeitos prolongados da recessão comprometem a capacidade de recuperação da produção de bens e serviços. O desemprego galopante oferece um quadro devastador nas relações sociais, familiares e pessoais. A estrutura pública de oferta de serviços como saúde, educação, previdência e outros sofre o grave risco de seu comprometimento futuro.
Desmonte é destruição. E Temer é o principal responsável por essa pulverização de nosso futuro como Nação soberana.
A verdadeira obstinação com que Michel Temer e sua turma se agarram ao poder a qualquer custo tem causado um profundo e extenso conjunto de maldades ao nosso país. No início, tudo parecia caminhar às mil maravilhas. A unificação dos grupos mais expressivos das classes dominantes em torno do projeto do golpeachment oferecia o sedutor ingresso para adentrar as portas do paraíso. Pouco importava, à época, se o casuísmo implicava destituir sem nenhuma base legal ou constitucional uma presidenta eleita democraticamente pela maioria da população. Afinal, tudo valia para colocar em prática o programa que havia sido derrotado nas urnas.
O financismo costurou muito bem costurado o discurso de que bastava tirar Dilma e substituir a equipe econômica por gente com o suposto perfil técnico e competente. Para tanto, nada parecia mais adequado do que chamar dois banqueiros para comandar a economia: Meirelles do Bank of Boston e Goldfajn do Itaú. Nessa trajetória, Temer era apenas visto tão somente como o instrumento para que as reformas sugeridas pelo sistema financeiro há muito tempo fossem finalmente implementava como política pública oficial. Nada mais adequado para cumprir com a tarefa de mudanças institucionais impopulares do que um governo que não precisa de voto popular.
Os propagandistas dos grandes meios de comunicação ofereceram sua valorosa e desinteressada colaboração para consolidar essa visão junto à opinião pública. As expectativas sugeridas pelos formadores de opinião foram marteladas insistentemente na base do “agora vai” e na certeza de que o Brasil iria finalmente superar a crise e encontrar o caminho do crescimento. Afinal, todos os males haveriam de ser extirpados com destituição de Dilma e com a chegada do povo genuíno do sistema financeiro no centro do governo.
No entanto, a maioria deles se esqueceu de alguns pequenos detalhes. Não é por mero acaso que Michel Temer é conhecido nos meios brasilienses por alcunhas que o identificam com seres vampirescos ou da mordomia subterrânea. Como disse certa vez Antonio Carlos Magalhães, caso abandonasse a política, o peemedebista paulista teria sua sobrevivência plenamente assegurada como “mordomo de filme de horror”. Essa falta de empatia na relação com a população em geral pode até parecer contraditória para alguém que tem vencido sucessivas eleições ao longo das últimas décadas. Só que não.
O fato é que o presidente ilegítimo apresenta profunda dificuldade no trato direto com seus representados, na imagem de chefe do Executivo com o povo. Uma coisa é sua habilidade em negociar nos bastidores. Outra, muito diferente, a (in)capacidade de elevar à frente um governo sem nem mesmo ter disputado tal eleição na frente de batalha. E aqui entra o sério problema de sua impopularidade elevada e sua taxa de rejeição crescente. Seu governo não consegue angariar a mínima empatia junto ao imaginário popular para obter o apoio necessário em sua caminhada neste momento tão difícil.
A ponte para o futuro que o PMDB vendeu aos empresários e aos sonhadores do golpe não mal passou da etapa de anteprojeto de engenharia. Até mesmo aliados de primeira hora, como o ex-presidente Fernando Henrique, assumiram a imagem da pinguela para bem caracterizar a travessia perigosa e arriscada proposta por Temer. A manutenção e o aprofundamento da política do austericídio contribuíram para reduzir ainda mais a sua já baixíssima popularidade. Além da pouca empatia no trato popular, seu governo viu os níveis de desemprego se elevarem drasticamente, com todas as consequências do ponto de vista da piora das condições de vida da maioria de nossas famílias. O manual de botequim da ortodoxia conservadora recomendava a recessão como estratégia de solução para a crise, uma vez que os principais problemas a serem combatidos seriam o risco da inflação e o descontrole dos gastos públicos. Equívoco ou enganação? Você decide.
No plano das demais políticas públicas, o governo optou pela entrega das riquezas brasileiras para o capital internacional. Apoiado no discurso doutrinário contra o Estado e clamando contra as ineficiências do empresariado nacional beneficiado por generosidades estatais, os tucanos chamados por Temer foram lapidando com esmero as políticas da privatização da Petrobrás e sua entrega para as grandes petroleiras do mundo capitalista. Além disso, foram promovendo concessões e privatizações à mancheia na área de infraestrutura, em contexto que só atraía os fundos financeiros internacionais para se interessar pelos empreendimentos.
Além disso, em um dos poucos setores que ainda se mantinham operantes, o governo avançou na entreguismo exacerbado, autorizando a venda de terras para proprietários estrangeiros sem limite de tamanho. O extenso ramo do agronegócio brasileiro passa a ser incorporado à lista de interesses dos grandes fundos especulativos mundo afora em um departamento antes proibido a eles: a própria produção agropecuária. O mesmo ocorre em área sensível e estratégica, inclusive do ponto de vista da segurança nacional e da diplomacia. O governo Temer pretende privatizar as fontes de água de nosso território, quando todos os cenários prospectivos apontam para esse bem finito se transformando em objeto de disputa entre países no médio prazo. Não são poucos os especialistas que consideram a disputa por fontes de água como um dos principais fatores dos próximos conflitos no mundo.
Some-se a esse quadro o conhecimento público dos sucessivos escândalos envolvendo o próprio ocupante do Palácio do Planalto e seus assessores mais próximos. A baixa popularidade vem combinada a medidas impopulares e - ambas somadas às denúncias de corrupção inquestionáveis - reduzem cada vez mais a margem de ação e de manobra do governo. Acuado e na defensiva, Temer vem perdendo as poucas reservas para exercer o protagonismo que se esperava de um líder que prometia conduzir a travessia.
Sua bala de prata reside na chantagem relativa aos projetos do desmonte trabalhista e previdenciária. O argumento de que seria o único capaz de entregar a promessa tão desejada pelo empresariado e pelo financismo não mais se sustenta. A própria base aliada no Congresso Nacional se desfaz a cada dia que passa e a cada novo escândalo que ganha as manchetes dos jornais. Tanto que as próprias empresas de comunicação já começam a rifar o governo em que tanto apostaram até alguns meses atrás. Oh, santa traição! Por incrível que pareça, agora ensaiam um freio de arrumação em seu entusiasmo inicial. Com isso, somam-se ao clamor popular do #ForaTemer e alguns de seus expoentes ousam mesmo anunciar suas simpatias ao movimento das #DiretasJá.
No campo da própria política econômica, os efeitos da opção recessiva apresentam a fatura e impedem a retomada do crescimento tão almejado. Ao que tudo indica os ilustrados do Ministério da Fazenda esqueceram-se de avisar ao constitucionalista algumas das lições básicas de qualquer manual de macroeconomia. A redução no ritmo das atividades econômicas de forma generalizada como a atual retorna como um tiro no pé no governante que contava com recursos tributários para superar momentos de dificuldade fiscal.
A recessão provoca queda nas receitas de impostos e o governo fica com menos recurso ainda para ancorar qualquer estratégia de saída para a crise – por mais conservador ou liberal que seja seu desenho. Ao perceber que não podem mais contar com recursos públicos para seus projetos, os políticos da própria base aliada se esquivam e os empresários escondem seu antigo entusiasmo para com os golpistas. Todos pressionam por benesses e o rigor purista da ortodoxia empoderada avisa que não tem como atender.
Ora, esse quadro para lá de desesperador não se sustenta no tempo. Tanto que a maior parte dos integrantes “esclarecidos” de nossa elite oferecem seu conselho de forma unânime ao residente do Palácio do Jaburu: renuncie! Esse governo não tem mais como continuar e esse é o desejo manifesto da maioria da população. O problema é que sua teimosia em permanecer destrói a cada instante a capacidade econômica e desagrega ainda mais o tecido social. O receio de perder o foro privilegiado fala mais alto e Temer não aceita as sugestões de se retirar em suposto gesto de grandeza.
Esse é verdadeiro crime de lesa Pátria cometido diuturnamente por Temer. Ao esticar uma permanência indesejada por quase todos, seu governo aumenta ainda mais os obstáculos para a superação da crise em futuro próximo. Ele resiste enquanto todos sabem que não consegue chegar ao fim. Mas ele acaba com o Brasil nessa tresloucada irresponsabilidade. As finanças públicas ficam ainda mais destroçadas. A riqueza nacional tende a ser entregue aos grupos estrangeiros. Os efeitos prolongados da recessão comprometem a capacidade de recuperação da produção de bens e serviços. O desemprego galopante oferece um quadro devastador nas relações sociais, familiares e pessoais. A estrutura pública de oferta de serviços como saúde, educação, previdência e outros sofre o grave risco de seu comprometimento futuro.
Desmonte é destruição. E Temer é o principal responsável por essa pulverização de nosso futuro como Nação soberana.
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