Foto: Agência Brasil |
Dilma e Lula estavam lá.
Haddad, Suplicy e outras lideranças do PT também estavam.
Jovens acadêmicos, que Marco Aurélio Garcia ajudou a formar e hoje ocupam cátedras nas universidades Brasil afora, marcaram presença.
Militantes emocionados, professores, jornalistas…
Marco Aurélio era um bem-humorado professor e militante. Frasista brilhante. Culto, sem ser pernóstico.
O texto mais bonito sobre ele talvez tenha sido escrito por Gilberto Maringoni – hoje no PSOL (clique aqui para ler).
O discurso mais emocionante, claro, veio de Lula – clique aqui para ver: https://www.facebook.com/Lula/videos/1381450791923917/
Mas a imagem mais marcante do velório, em São Paulo, veio de um grupo que aos poucos se aglomerou numa escada, a poucos metros do caixão onde o corpo era velado.
Funcionários da limpeza e da manutenção, terceirizados pela Assembleia Legislativa de São Paulo, ouviram falar que Lula tinha chegado para velar o amigo. Com respeito, sem barulho, de forma humilde, fizeram ver ao presidente que gostariam de estar ao lado do homem que tirou 30 milhões de brasileiros da miséria. Foi o que este escrevinhador observou, porque também estava lá…
E vieram as fotos, reproduzidas acima: Lula, triste mas firme, ao lado daqueles que seguem com ele – mesmo sob o bombardeio mais intenso que um homem público já sofreu no Brasil…
Os mau-humorados de sempre viram “falta de respeito” no fato de tirarem foto num velório. Eu não vi assim…
Este escrevinhador não conhecia tão bem o professor Marco Aurélio. Mas posso dizer: ele sorriria, e faria um comentário bem humorado, se pudesse também testemunhar a cena que marcou seu velório.
Atacado, vilipendiado, humilhado pela Justiça partidária e por um juiz amigo dos tucanos, Lula recebe o apoio dos mais humildes. Marco Aurélio talvez sentisse uma pontinha de orgulho por saber que ajudou a construir esse projeto – vitorioso 4 vezes nas urnas.
Apoio silencioso
Vendo a cena, um amigo comentou a poucos metros do caixão: “é o apoio silencioso do povo”.
Silencioso.
Nas últimas semanas, alguns mais exaltados tentam entender por que não se vê grandes manifestações de rua daqueles mais humildes que, nas pesquisas, voltam a dar 30% ou 35% dos votos a Lula?
Ora, o modelo do lulismo, durante 12 ou 13 anos, foi avançar em reformas sociais – mas com poucos conflitos. Andre Singer definiu o lulismo como um “reformismo fraco”.
Poderíamos dizer que se tratava de avançar sem grandes mobilizações, num estilo de “baixa intensidade” . Foi como se, durante anos, Lula tivesse dito ao povo que o apoiava nas eleições: “fique em casa, deixe que eu negocio e arranco as concessões possíveis.”
Por isso, não espanta que, na hora do cerco midiático e jurídico que pretende salgar a terra em que Lula pisou, o povo dê seu apoio de forma silenciosa, ressabiada, desconfiada.
Em recente entrevista ao brilhante José Trajano, Lula disse que segue acreditando na Justiça. E que o dia que deixasse de acreditar, pegaria uma arma e começaria uma revolução.
É esse o limite de Lula: não agirá para além da institucionalidade. A liderança dele se construiu dentro da ordem e de uma estratégia de conciliação – ainda que nem isso tenha sido aceito pelos setores que disseminam o ódio país afora.
Cenário possível para 2018
No velório de Marco Aurélio, um amigo advogado dizia que a estrategia de Lula pode dar certo. E que no meio jurídico é dado como certo que a condenação de Moro será revista no TRF-4 – pelo volume de falhas técnicas contidas na sentença.
Discordo. Apostei com esse amigo que não será assim.
O mais provável – poderia apostar, sem conhecimento jurídico, mas observando o cenário político e midiático – é que Lula seja condenado, sim, no TRF-4. Mas ao líder petista basta que a decisão não seja tomada por unanimidade…
Explico…
Esse é um cenário possível: Lula condenado por 2 x 1 no TRF-4 abriria caminho para novo recurso ainda na segunda instância. São os chamados “embargos infringentes” – possíveis quando uma condenação não se dá por unanimidade.
Nesse caso, Lula concorreria em 2018 mesmo já condenado duas vezes. Os embargos infringentes impediriam que ele fosse barrado nas urnas porque a decisão no TRF-4 dependeria de novo julgamento, o que certamente só aconteceria após 2018.
Esse talvez seja o quadro ideal para os tucanos tradicionais que se aglutinam em torno de Alckmin: Lula concorre, passa a campanha tratado como um “candidato condenado”, e “sub judice”. Um Lula marcado para perder.
Quem ouve os discursos de Alckmin e Doria, e quem escuta os comentários de Reinaldo Azevedo (porta-voz informal do PSDB)… já notou que os tucanos preferem concorrer contra Lula. Um Lula encurralado pela Justiça, humilhado. Mas um Lula que dê utilidade ao PSDB.
Lula quer os tucanos. E os tucanos querem Lula na urna. Seria a única forma de dar legitimidade ao processo eleitoral de 2018: Lula concorre, consegue 40% ou 45% dos votos num segundo turno, e perde.
Mas elege uma bancada razoável e vários governadores…
Faltaria combinar com os eleitores. Claro!
Mas essa parece ser aposta do setor menos tresloucado da direita.
Para Lula seria uma meia derrota. Dentro da institucionalidade. E mantendo-se como um mito para aqueles que seguem a procurar o ex-presidente para tirar fotos, manifestando seu apoio silencioso. Mas definitivo.
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