Por Tereza Cruvinel, em seu blog:
O "grande acordão" teve ontem mais uma etapa implementada. O julgamento recursal do ex-presidente Lula escancarou a extensão da aliança do Judiciário com as outras forças do projeto golpista-conservador, mostrando que ela é orgânica e vai muito além de Sergio Moro e da força-tarefa da Lava Jato. Mas foi com a unanimidade na condenação e com a adesão dos outros dois desembargadores ao aumento de pena fixado pelo relator Gebran Neto que a oitava turma do TRF-4 dobrou o joelho esquerdo numa reverência, mostrando o jogo combinado. Com estas duas medidas privaram Lula dos recursos infringentes, encurtando o caminho para seu enquadramento na Lei da Ficha Limpa, e também para a sua prisão. O propósito final não foi apenas o de inabilitar Lula mas também o de impedir que, mesmo fora da disputa, ele se tornasse o grande eleitor, transferindo votos para outro nome do campo progressistas. Preso, estará fora da campanha, estará banido.
Só banindo e trucidando Lula o caminho ficará completamente livre para eles. Não haverá o risco de que outro candidato de esquerda chegue ao governo e volte com aquelas políticas inclusivas, com distribuição de renda, destinando ao povo um naco do orçamento, como fez Lula, que não haja outro para ressuscitar o compromisso soberanista e a valorização do Estado. A este propósito, o TRF-4 serviu diligentemente com sua unanimidade. Victor Laus, o voto divergente que era por alguns esperado, exalou certo constrangimento num voto gaguejante, sem fluidez. Ele não gosta de sentenças baseadas só em delações mas desta vez mudou de ideia.
Com Lula fora da disputa, apesar dos recursos que podem ser tentados nas cortes superiores, e com Lula preso, apesar da vaga chance de uma revisão, pelo STF, da possibilidade legal de prisão a partir da condenação em segunda instância, o condomínio de direita tratará logo de se unir, fixando-se em um único candidato que possa ganhar a eleição. Em Bolsonaro, darão um jeito facilmente, como ficou claro pela recente ofensiva midiática sobre seus pontos vulneráveis. Os candidatos do golpe são todos eleitoralmente débeis mas Geraldo Alckmin ainda leva alguma vantagem sobre o insosso Meirelles e o juvenil Rodrigo Maia.
O voto de Gebran Neto, o prazer com que enumerava acusações contra Lula, a forma como escandia as palavras mais pesadas e aviltantes, como corrupção e propina, ecoava Joaquim Barbosa no julgamento da ação penal 470. O que se viu neste dia 24 em Porto Alegre foi o terceiro ato de um drama que começou em 2005. Com o mensalão, tentou-se o desmanche do PT mas Lula conseguiu reeleger-se em 2006. Elegeu Dilma e ela também se reelegeu em 2014. Derrubaram Dilma com o golpe de 2016 mas eis que Lula ressurge como favorito para a eleição deste ano. Ora, eles não fizeram o impeachment, o acordão com Supremo e tudo, nem se desgastaram tanto na operação Salva-Temer para permitir que PT e aliados de esquerda voltem ao governo. Chegou a hora de degolar Lula, bani-lo completamente, de preferência para uma masmorra curitibana. E que sirva de exemplo, como foi dito sobre o esquartejamento de Tiradentes.
Mas pode dar errado. O julgamento começou a desatar o nó da inércia popular que se seguiu ao golpe. Os movimentos sociais se reenergizaram, a esquerda alcançou um mínimo de unidade, a solidariedade internacional a Lula foi e está sendo imensa. O PT promete resistência e também parece mais disposto à luta agora do que logo depois da grande derrota de 2016. Lula, enquanto estiver solto, promete continuar nas ruas, falando a língua que o povo entende. Tudo isso, ainda mais se vier a prisão, pode destampar a panela de pressão. Nos próximos meses, o Brasil caminhará sobre o fio da navalha.
Só banindo e trucidando Lula o caminho ficará completamente livre para eles. Não haverá o risco de que outro candidato de esquerda chegue ao governo e volte com aquelas políticas inclusivas, com distribuição de renda, destinando ao povo um naco do orçamento, como fez Lula, que não haja outro para ressuscitar o compromisso soberanista e a valorização do Estado. A este propósito, o TRF-4 serviu diligentemente com sua unanimidade. Victor Laus, o voto divergente que era por alguns esperado, exalou certo constrangimento num voto gaguejante, sem fluidez. Ele não gosta de sentenças baseadas só em delações mas desta vez mudou de ideia.
Com Lula fora da disputa, apesar dos recursos que podem ser tentados nas cortes superiores, e com Lula preso, apesar da vaga chance de uma revisão, pelo STF, da possibilidade legal de prisão a partir da condenação em segunda instância, o condomínio de direita tratará logo de se unir, fixando-se em um único candidato que possa ganhar a eleição. Em Bolsonaro, darão um jeito facilmente, como ficou claro pela recente ofensiva midiática sobre seus pontos vulneráveis. Os candidatos do golpe são todos eleitoralmente débeis mas Geraldo Alckmin ainda leva alguma vantagem sobre o insosso Meirelles e o juvenil Rodrigo Maia.
O voto de Gebran Neto, o prazer com que enumerava acusações contra Lula, a forma como escandia as palavras mais pesadas e aviltantes, como corrupção e propina, ecoava Joaquim Barbosa no julgamento da ação penal 470. O que se viu neste dia 24 em Porto Alegre foi o terceiro ato de um drama que começou em 2005. Com o mensalão, tentou-se o desmanche do PT mas Lula conseguiu reeleger-se em 2006. Elegeu Dilma e ela também se reelegeu em 2014. Derrubaram Dilma com o golpe de 2016 mas eis que Lula ressurge como favorito para a eleição deste ano. Ora, eles não fizeram o impeachment, o acordão com Supremo e tudo, nem se desgastaram tanto na operação Salva-Temer para permitir que PT e aliados de esquerda voltem ao governo. Chegou a hora de degolar Lula, bani-lo completamente, de preferência para uma masmorra curitibana. E que sirva de exemplo, como foi dito sobre o esquartejamento de Tiradentes.
Mas pode dar errado. O julgamento começou a desatar o nó da inércia popular que se seguiu ao golpe. Os movimentos sociais se reenergizaram, a esquerda alcançou um mínimo de unidade, a solidariedade internacional a Lula foi e está sendo imensa. O PT promete resistência e também parece mais disposto à luta agora do que logo depois da grande derrota de 2016. Lula, enquanto estiver solto, promete continuar nas ruas, falando a língua que o povo entende. Tudo isso, ainda mais se vier a prisão, pode destampar a panela de pressão. Nos próximos meses, o Brasil caminhará sobre o fio da navalha.
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