Título de capa da nova edição de Veja que acaba de ir às bancas:
“O que falta para Lula ser preso”.
Para a Veja, certamente, não falta nada.
Vejam agora (sem trocadilho) a chamada de capa: “Com a condenação unânime e a pena aumentada para doze anos, o ex-presidente fica com poucas saídas na Justiça - e, no cenário mais extremo, pode estar na cadeia em quarenta dias”.
Isto é (sem trocadilho) imprensa ou torcida?
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A condenação de Lula era mais do que esperada. O que choca e espanta é a seletividade da Justiça e a injustiça do sistema de dois pesos e duas medidas aplicado. Lula deve ser culpado, sim, acho que ele é indefensável. Mas o que dizer de Temer, Serra, Aécio, Sarney, FHC, Collor e tantos outros que ficaram impunes? Será que algum dia veremos um tucano corrupto ser condenado no Brasil? A lei deveria valer para todos e não ser aplicada de forma seletiva e parcial, de acordo com os interesses políticos (Renato Khair, defensor público em São Paulo, no Painel do Leitor da Folha desta quinta-feira).
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No dia seguinte à condenação de Lula, em segunda instância, a doze anos de prisão em regime fechado, enquanto a direção do PT reunida em São Paulo lançava a pré-candidatura do ex-presidente, começavam as especulações na imprensa para saber quanto tempo vai levar para ele ser preso.
É como se o país vivesse duas histórias paralelas embricadas entre a política e a Justiça, que terá a última palavra na atual disputa presidencial.
A discussão começou a partir do momento em que o presidente da 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, Leandro Paulsen, proclamou em sua sentença:
“Exaurida a tramitação na segunda instância, que se oficie ao juízo de primeiro grau para que dê, sim, início ao cumprimento da pena”.
“Esperem que vamos voltar. Eu quero ser candidato à Presidência da República”, respondeu Lula em comício na praça da República, poucas horas após o final do julgamento na noite de quarta-feira.
Os advogados vão entrar com recursos, mas para Lula e o PT é como se a sentença não existisse.
A campanha vai seguir normalmente, anunciaram, com uma nova caravana já marcada pelo sul do país.
Nos cálculos de especialistas em legislação eleitoral, a prisão de Lula pode ser decretada em dois meses, prazo que deve levar o julgamento dos embargos de declaração no tribunal em Porto Alegre.
“Mantido o atual entendimento do STF, o tribunal poderá determinar a execução da pena em menos de dois meses”, calcula Erick Pereira, presidente da comissão eleitoral da OAB de São Paulo.
O que poderá acontecer depois é a dúvida que alimenta todas as especulações sobre o futuro político de Lula.
Para manter sua candidatura e impedir a prisão, é certo que Lula deverá recorrer nos tribunais superiores até chegar ao Supremo Tribunal Federal, onde o ministro Marco Aurélio já está preocupado com as consequências de uma possível prisão do ex-presidente:
“Eu duvido que o façam, porque não é a ordem jurídica constitucional. E, em segundo lugar, no pico de uma crise, um ato deste pode incendiar o país”.
Com um discurso de campanha, Lula também falou sobre a possibilidade de ser preso, ao se dirigir a 50 mil pessoas, segundo os organizadores, na praça da República:
“Eles podem prender o Lula, mas não podem prender um sonho de liberdade, não podem prender as ideias, não podem prender a esperança”.
A Polícia Federal tem pressa e já se prepara para cumprir um possível mandado da Justiça, como informa a Coluna do Estadão:
“Na alta cúpula da PF, há preocupação sobre como proceder. Buscá-lo em casa de camburão teria a mesma repercussão de quando foi conduzido coercitivamente. Uma ideia é combinar com os advogados para que ele se apresente no local onde deverá cumprir a pena”.
Os adversários também já se preparam para o novo cenário caso Lula seja alijado definitivamente da disputa.
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a saída de Lula esvaziaria a candidatura de Bolsonaro e abriria espaço para um outsider como o apresentador Luciano Huck, se o candidato tucano Geraldo Alckmin não decolar nas pesquisas.
É justamente nas próximas pesquisas que os partidos, de um lado e de outro, agora apostam suas fichas eleitorais.
Petistas acreditam que Lula, já próximo dos 40%, possa subir ainda mais depois da nova condenação, enquanto seus adversários fazem as contas de como se dividirá o eleitorado daqui para a frente.
No final do seu discurso, o ex-presidente deixou claro que não vai entregar os pontos: “Enquanto esse coração velho bater e essa cabeça funcionar, a luta vai continuar”.
Resta saber quem e quantos vão acompanhá-lo nesta luta, cada vez mais difícil, cercado de inimigos por todos os lados.
Por enquanto, o outro termômetro eleitoral, representado pelas manifestações de rua, permanece em obsequioso silêncio neste começo de tarde de quinta-feira de final de janeiro.
E 2018 está só começando.
Vida que segue.
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