Por Cynara Menezes, no blog Socialista Morena:
Após seis ex-chefes de Estado e de governo europeus publicarem um manifesto em apoio ao ex-presidente Lula e defenderem sua participação como candidato na eleição de 2018, o ministro das Relações Exteriores de Temer, Aloysio Nunes, subiu nas tamancas e contra-atacou com uma nota que contradiz seu comportamento em relação à Venezuela. Aloysio critica as “personalidades” por “dar lições sobre o funcionamento do sistema judiciário brasileiro”.
Nem parece o mesmo Aloysio Nunes que, já no comando do Itamaraty, criticou a detenção de dois líderes opositores venezuelanos, Leopoldo López e Antonio Ledezma, em agosto do ano passado. Na época, o ministro das Relações Exteriores de Temer lamentou o suposto descumprimento do “devido processo legal, pilares essenciais do regime democrático” na condenação aos adversários do presidente Nicolás Maduro, idêntica queixa dos defensores de Lula. Aloysio instou a Venezuela a libertá-los imediatamente.
Em 2015, quando senador, Aloysio Nunes chegou a integrar uma comissão liderada por Aécio Neves que foi a Caracas tentar visitar Leopoldo López na prisão, mas acabou retornando do aeroporto, com a comitiva rechaçada por manifestantes pró-Maduro. No final daquele ano, Aloysio voltou a criticar a Justiça venezuelana, atribuindo ao presidente a prisão de líderes opositores.
“O governo brasileiro não pode permanecer indiferente diante do fato de que o Maduro mantém presos líderes opositores, como Leopoldo López, Antonio Ledezma e Daniel Ceballos, nem ignorar que políticos com expressiva votação, como a deputada María Corina Machado, tiveram seus mandatos arbitrariamente cassados e não puderam participar do último pleito”, disse. Lula também lidera as pesquisas de opinião com intenção de voto expressiva.
No manifesto, José Luis Rodríguez Zapatero, que governou a Espanha entre 2004 e 2011, François Hollande, presidente da França, e os ex-premiês italianos Massimo D’Alema, Romano Prodi e Enrico Letta e o belga Elio di Rupo criticam a prisão de Lula e defendem que ele possa concorrer às eleições presidenciais.
“A prisão precipitada do presidente Lula, incansável artífice da diminuição das desigualdades no Brasil e defensor dos pobres, só pode suscitar nossa comoção”, disseram os ex-chefes de Estado no manifesto intitulado Chamada de Líderes Europeus em apoio a Lula e divulgado em primeira mão na terça-feira pela agência EFE. “A luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e o direito dos povos a escolher seus governantes”, destacou o documento, articulado pelo ex-presidente do Senado francês Jean-Pierre Bel. O manifesto diz ainda que os líderes consideram o impeachment de Dilma uma “séria preocupação”, já que a presidenta foi “democraticamente escolhida pelo seu povo e cuja integridade jamais foi posta em interdição”.
O tucano Aloysio acusou os europeus de serem “arrogantes” e pediu respeito às “instituições democráticas” de um Brasil que arrancou uma presidenta eleita do cargo e prendeu seu maior líder opositor. “Recebi, com incredulidade, as declarações de personalidades europeias que, tendo perdido audiência em casa, arrogam-se o direito de dar lições sobre o funcionamento do sistema judiciário brasileiro. Qualquer cidadão brasileiro que tenha sido condenado em órgão colegiado fica inabilitado a disputar eleições. Ao sugerir que seja feita exceção ao ex-presidente Lula, esses senhores pregam a violação do estado de direito. Fariam isto em seus próprios países? Mais do que escamotear a verdade, cometem um gesto preconceituoso, arrogante e anacrônico contra a sociedade brasileira e seu compromisso com a lei e as instituições democráticas”, diz a íntegra da nota do Itamaraty.
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