Por Guilherme Mello, no site Brasil Debate:
Desde junho de 2013, em particular após o golpe de 2016, a esquerda tem vivenciado uma série de derrotas políticas que trouxeram um sentimento de impotência para parte de sua militância. A sensação de que as forças golpistas são demasiadamente poderosas para serem enfrentadas atrai diagnósticos derrotistas e aspirações ingenuamente salvacionistas: o diagnóstico de que Lula e o PT devem ser considerados “carta fora do baralho”, uma vez que o golpe não permitirá que voltem a governar o país; e a aspiração de que alguma outra força política progressista seja capaz não apenas de vencer as eleições, como de governar com razoável tranquilidade. Para fechar esta equação, bastaria que o PT abrisse mão de seu suposto projeto “hegemônico” e apoiasse outra candidatura de esquerda, garantindo o sucesso do projeto desenvolvimentista e a derrota definitiva das forças golpistas.
Caso superemos as paixões despertadas pelo momento eleitoral e façamos uma análise fria do quadro político, não é difícil encontrar inconsistências nessa avaliação. Em primeiro lugar, parte-se de um pressuposto que ainda está em disputa: a retirada de Lula da disputa eleitoral. Por mais que seja provável que a justiça impeça indevidamente o presidente Lula de ser candidato, a batalha política acerca de sua candidatura é decisiva para o resultado das eleições presidenciais.
Retirar arbitrariamente o líder das pesquisas e preferido dos eleitores do processo eleitoral trará um custo político enorme para o campo golpista, potencializando o sentimento de injustiça e o apoio aos candidatos do campo progressista. Pedir para o PT abandonar Lula significa não apenas contradizer a convicção do partido de que Lula é inocente, como abrir mão da possibilidade de canalizar a frustração dos eleitores para algum outro candidato do campo progressista. Não seria apenas incoerente, mas uma atitude politicamente contraproducente.
Em segundo lugar, renegam-se as enormes conquistas políticas do campo progressista nos últimos dois anos. No momento do golpe, a maioria dos brasileiros apoiava o impeachment, admirava Sérgio Moro e era favorável à prisão de Lula. Entre 2016 e 2018, o fracasso absoluto do governo golpista abriu espaço para vitórias políticas fundamentais, conquistadas com muito trabalho e militância. Hoje, a maioria da população brasileira concorda que houve um golpe, que o presidente Lula é vítima de perseguição e que os seus algozes agem em conluio para mantê-lo longe do poder.
Mais que isso, a população resistiu ao discurso neoliberal e rejeita sua agenda de reformas, desejando arduamente o retorno de políticas voltadas para o campo social e para a criação de empregos. Essa reviravolta política provocou um crescimento da preferência partidária pelo PT (que retomou o patamar de 20%), aumentou as intenções de voto em Lula (que em algumas pesquisas chegam a 40% no primeiro turno) e fortaleceu sua capacidade de transferir votos para outro candidato. Abrir mão desses ganhos políticos, dando como certa uma derrota para o campo golpista, parece uma estratégia muito pouco pragmática.
Por fim, há um problema na interpretação acerca do significado do golpe. A ideia de que o golpe foi contra Dilma, o PT e Lula, deixa escapar os reais interesses que levaram a escalada do autoritarismo que vimos nos últimos anos. O golpe só faz sentido se pensarmos na agenda que ele implementou e, principalmente, na agenda que deixou de implementar. Qualquer governo progressista que abandone a agenda neoliberal e busque retomar um projeto de desenvolvimento social soberano enfrentará forte resistência do campo golpista, tanto no legislativo quanto no judiciário. Para superar essa barreira, será preciso ampliar a democracia e a participação popular, independentemente de quem seja o eleito. Portanto, se o caminho for recorrer ao povo, nada melhor do que contar com a liderança de Lula, ao invés de enfraquecê-lo e rifá-lo antes mesmo de enfrentar a batalha eleitoral.
De todos os pontos de vista, os pedidos de retirada precoce da candidatura de Lula e adesão a outra candidatura partem de um diagnóstico equivocado da disputa política atual. Pelo que representa politicamente, pelo legado de seus governos e pelo seu potencial eleitoral, Lula seguirá sendo o tema central da campanha presidencial de 2018. O ideal seria construir uma frente democrática ampla em defesa de Lula, ao redor da figura do ex-presidente, potencializando a candidatura do campo progressista com seu carisma e sua popularidade. Infelizmente, essa unidade não foi possível no primeiro turno, por mais que o PCdoB e setores importantes do PSB tenham declarado apoio ao ex-presidente. O desafio agora é superar as mágoas, as sequelas da inevitável negociação das alianças dentro do mesmo campo e focar todas as energias para nosso objetivo comum: superar o derrotismo, ganhar as eleições e derrotar os golpistas. Neste sentido, temos em Lula nosso maior aliado.
Desde junho de 2013, em particular após o golpe de 2016, a esquerda tem vivenciado uma série de derrotas políticas que trouxeram um sentimento de impotência para parte de sua militância. A sensação de que as forças golpistas são demasiadamente poderosas para serem enfrentadas atrai diagnósticos derrotistas e aspirações ingenuamente salvacionistas: o diagnóstico de que Lula e o PT devem ser considerados “carta fora do baralho”, uma vez que o golpe não permitirá que voltem a governar o país; e a aspiração de que alguma outra força política progressista seja capaz não apenas de vencer as eleições, como de governar com razoável tranquilidade. Para fechar esta equação, bastaria que o PT abrisse mão de seu suposto projeto “hegemônico” e apoiasse outra candidatura de esquerda, garantindo o sucesso do projeto desenvolvimentista e a derrota definitiva das forças golpistas.
Caso superemos as paixões despertadas pelo momento eleitoral e façamos uma análise fria do quadro político, não é difícil encontrar inconsistências nessa avaliação. Em primeiro lugar, parte-se de um pressuposto que ainda está em disputa: a retirada de Lula da disputa eleitoral. Por mais que seja provável que a justiça impeça indevidamente o presidente Lula de ser candidato, a batalha política acerca de sua candidatura é decisiva para o resultado das eleições presidenciais.
Retirar arbitrariamente o líder das pesquisas e preferido dos eleitores do processo eleitoral trará um custo político enorme para o campo golpista, potencializando o sentimento de injustiça e o apoio aos candidatos do campo progressista. Pedir para o PT abandonar Lula significa não apenas contradizer a convicção do partido de que Lula é inocente, como abrir mão da possibilidade de canalizar a frustração dos eleitores para algum outro candidato do campo progressista. Não seria apenas incoerente, mas uma atitude politicamente contraproducente.
Em segundo lugar, renegam-se as enormes conquistas políticas do campo progressista nos últimos dois anos. No momento do golpe, a maioria dos brasileiros apoiava o impeachment, admirava Sérgio Moro e era favorável à prisão de Lula. Entre 2016 e 2018, o fracasso absoluto do governo golpista abriu espaço para vitórias políticas fundamentais, conquistadas com muito trabalho e militância. Hoje, a maioria da população brasileira concorda que houve um golpe, que o presidente Lula é vítima de perseguição e que os seus algozes agem em conluio para mantê-lo longe do poder.
Mais que isso, a população resistiu ao discurso neoliberal e rejeita sua agenda de reformas, desejando arduamente o retorno de políticas voltadas para o campo social e para a criação de empregos. Essa reviravolta política provocou um crescimento da preferência partidária pelo PT (que retomou o patamar de 20%), aumentou as intenções de voto em Lula (que em algumas pesquisas chegam a 40% no primeiro turno) e fortaleceu sua capacidade de transferir votos para outro candidato. Abrir mão desses ganhos políticos, dando como certa uma derrota para o campo golpista, parece uma estratégia muito pouco pragmática.
Por fim, há um problema na interpretação acerca do significado do golpe. A ideia de que o golpe foi contra Dilma, o PT e Lula, deixa escapar os reais interesses que levaram a escalada do autoritarismo que vimos nos últimos anos. O golpe só faz sentido se pensarmos na agenda que ele implementou e, principalmente, na agenda que deixou de implementar. Qualquer governo progressista que abandone a agenda neoliberal e busque retomar um projeto de desenvolvimento social soberano enfrentará forte resistência do campo golpista, tanto no legislativo quanto no judiciário. Para superar essa barreira, será preciso ampliar a democracia e a participação popular, independentemente de quem seja o eleito. Portanto, se o caminho for recorrer ao povo, nada melhor do que contar com a liderança de Lula, ao invés de enfraquecê-lo e rifá-lo antes mesmo de enfrentar a batalha eleitoral.
De todos os pontos de vista, os pedidos de retirada precoce da candidatura de Lula e adesão a outra candidatura partem de um diagnóstico equivocado da disputa política atual. Pelo que representa politicamente, pelo legado de seus governos e pelo seu potencial eleitoral, Lula seguirá sendo o tema central da campanha presidencial de 2018. O ideal seria construir uma frente democrática ampla em defesa de Lula, ao redor da figura do ex-presidente, potencializando a candidatura do campo progressista com seu carisma e sua popularidade. Infelizmente, essa unidade não foi possível no primeiro turno, por mais que o PCdoB e setores importantes do PSB tenham declarado apoio ao ex-presidente. O desafio agora é superar as mágoas, as sequelas da inevitável negociação das alianças dentro do mesmo campo e focar todas as energias para nosso objetivo comum: superar o derrotismo, ganhar as eleições e derrotar os golpistas. Neste sentido, temos em Lula nosso maior aliado.
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